Diana Taveira: “Enquanto não emagreceres não vais para a televisão generalista”

Diana Taveira é o rosto da MTV e em muitas frentes. E algumas acabadas de estrear. Mas a verdade é que esta mulher, de 29 anos, é muito mais do que um sorriso ou do que uma presença simpática.

Rapariga de múltiplos gostos, ela é uma mulher de ainda mais respostas e não há uma pergunta que fique pendurada. Da União Europeia e de Donald Trump ao movimento académico associativo, dos alunos bolseiros ao álcool e abusos nas Queimas das Fitas, da misoginia à objetificação das mulheres da música e em canais como a MTV, das marcas de luxo à televisão, passando e acusando terminantemente quem lhe diz, quase todos os dias em castings, que tem de emagrecer se quer ir mais longe no pequeno ecrã.

Ela sabe bem o que quer. Aos 20 anos, travou uma luta interna em Coimbra para se tornar na primeira mulher eleita à Assembleia Geral da Associação Académica de Coimbra e numa aluna a chegar ao topo da estrutura sem ter de agradecer às juventudes partidárias – ganhou as duas batalhas!

Aos 29, quer acabar com a ditadura da magreza para quem quer ser um rosto da televisão. E atenção: Diana Taveira é tudo menos gorda! É “saudável”, como ela própria se apresenta.

Diz-se pronta para tudo e, quem sabe, talvez chegue a eurodeputada. Sabe o que quer, como o fazer, o que dizer e como se apresentar: “vou fazer um sorriso à Cristina Ferreira para a fotografia! Já viram, resulta sempre!” E resulta mesmo.

Conheça melhor esta mulher cuja parte mais pequena da vida dela é, exatamente, ser VJ da MTV.

Começou uma rubrica nova na MTV, com notícias de celebridades internacionais. Qual o objetivo?

A MTV tem vários conteúdos gravados a nível local. Temos o MTV Amplifica, onde damos a conhecer concertos e programação nova no canal, e agora contamos com a bloguer Mafalda Castro. Para além disso, temos mais rubricas e essa é uma delas. A MTV está a fazer muito mais programação local para a Internet porque reparámos que o público estava mais no online, onde podem interagir mais, fazer perguntas diretamente, comentar e partilhar. Costumo dizer que a apresentação é 10% do nosso trabalho porque temos de fazer os guiões, a produção, os planos de gravação, temos de fazer a edição das peças, copyright, definir a estratégia de comunicação dessa peça. E edição, muitas vezes.

Uma realidade que a maior parte das escolas deste país e que forma profissionais para a televisão não conhece.

Exatamente (risos). As pessoas têm a ideia que ser apresentadora é estar em frente de uma câmara, mas não. Até mesmo a roupa, somos nós que fazemos o nosso próprio styling, somos nós que contactamos as marcas e não podemos repetir marcas.

Diana Taveira, apresentadora da MTV Portugal. (Natacha Cardoso/ Global Imagens )

 

Mas isso também não acontece assim em todos os canais.

Sim. Já fui produtora, mas os moldes da MTV são diferentes e eu gosto. Sou control freak e acabo por ter mão um pouco em tudo, não só sei o que é necessário como controlo a imagem que passo. Acabamos por fazer um bocadinho do trabalho de toda a gente e na MTV é ótimo, porquê? Porque antes de se ser presidente de algo, é importante saber-se como é carregar o gelo, e é ótimo conhecerem-se todos os passos para se concluir um projeto.

Numa perspetiva de futuro, isso leva-a onde? Quais as expectativas profissionais que tem em Portugal?

Tenho licenciatura em Estudos Europeus, mestrado em Marketing e especialização em marcas de luxo, as pessoas são mais do que um interesse ou uma vertente. Quando vim para Lisboa tirar o mestrado, decidi que queria trabalhar em televisão e, na altura, a minha família, interrogou-se. Expliquei que eu poderia ter mais do que um interesse e que, quanto mais novos absorvermos todas as experiências profissionais, mais valências acabamos por ter nos interesses ao longo da vida.

Mas isso é a perspetiva sobre si. Mas o que lhe pergunto é quando olha à volta, como espera que a vejam.

Há duas perspetivas em Portugal: em que olham para ti e percebem que sabem de mais, e aqui é muitas vezes não é valorizado.

Já alguma vez lhe aconteceu ter formação a mais para o lugar que se candidata?

Sim. Ainda por cima tenho um currículo (CV) muito grande a nível académico porque estive envolvida em política associativa durante cinco anos e muitas vezes, quando mostrava o meu CV em Lisboa, para trabalhos normais das nove às cinco, de comunicação, de marketing, de empresas, perguntavam-me mesmo a idade que tinha. Às vezes, em Portugal, há medo quando as pessoas são sobrequalificadas.

E o que acontece?

Metem-te a um canto ou para fora. Vou dar um exemplo concreto: eu enviei o meu CV para a Google Irlanda assim que terminei a minha licenciatura e passados cinco dias ligaram-me a dizer que me queriam contratar. Mandei o CV diretamente porque tinha uma pessoa conhecida nos recursos humanos. Em Portugal, isso nunca me aconteceu. E eu nem sequer fui à Irlanda.

Porque não foi?

Porque queria primeiro experimentar televisão. Sou de ideias muito fixas, já na altura tinha decidido isso. Fui a vários castings durante muito tempo.

O que não correu bem?

Acho que o paradigma, o estereótipo estão a mudar ligeiramente. Sempre me disseram que tinha um ar demasiado diferente para ser apresentadora de televisão. Ouvi isso durante muitos anos e ainda continuo a ouvir muito, sobretudo a nível comercial. Há quatro anos que estou em Lisboa a fazer castings quase diariamente. Oiço isso em todos, já ouvi isso em jantares sociais, com outras colegas apresentadoras que, à mesa de eventos sociais e desportivos, se viram para mim e dizem: “Diana, enquanto tu não emagreceres não vais para a generalista”.

Qual é o seu limite?

Suporto. Giro isso bem com o espelho, estou muito confortável comigo, as pessoas é que não estão confortáveis comigo. A estrutura familiar e os teus amigos são muito importantes na construção da pessoa em que te tornas.

[Fotografia: Natacha Cardoso/Global Imagens]

Há perspetivas para mudar de canal?

Vamos ver. As pessoas estão a começar a abrir mais os olhos, a ver as coisas de outra forma. Como internacionalmente esta realidade está a mudar, as coisas por cá podem ser vistas de outra forma, nós somos mais conservadores. Acho que isso um dia vai acontecer. É fácil emagrecer, se esse fosse o problema, até era fácil. Eu tenho um corpo de uma mulher saudável. Numa apresentadora, o que interessa é a forma como comunica, como passa a mensagem, como representa determinado projeto. É o bom senso. Há uma altura em que levas tanta porrada, dizem-te tantas vezes as mesmas coisas que já nem ligas: “Ah e tal não posso fazer planos gerais contigo porque tens as pernas muito grossas!” Só dá para responder: “Já viste o que acabaste de dizer? Estás a por em causa o meu profissionalismo e a minha capacidade por causa das minhas pernas?”

E no fim do dia, quando se deita e se lembra destas conversas, o que lhe passa pela cabeça?

As pessoas é que estão mal, não sou eu e, um dia, vão perceber isso mesmo. Tal como em tempos tivemos escravos, e hoje temos vergonha disso; assim como hoje em dia criticam miúdas mais gordinhas, um dia vão ter vergonha disso. É tudo uma questão cultural.

Com este percurso e com a idade que tem, o que imagina a fazer?

(Risos) Imagino-me a fazer muita coisa. Quero, acima de tudo, trabalhar na área da comunicação, ter uma agência própria e já a abri – Milk & Black – para trabalhar na área de entretenimento e na área de online storytelling. Ao mesmo tempo, tenho a paixão da televisão e da política.

Em televisão, gostava de fazer o quê?

Gosto tanto de entretenimento que se fosse convidada para um debate político ia para lá com as armas todas.

A política compadece-se com entretenimento?

Quer um exemplo concreto de quem concilia ambas coisas? A Catarina Furtado. Faz muito bem ambos, tem uma imagem pública supercredível. Quando estava em Coimbra e como dirigente associativa, a minha vertente foi a da política educativa, mas ao mesmo tempo era muito defensora da cultura e dos direitos das mulheres. Fui responsável pela parte cultural da associação, fui senadora – órgão por onde passam os orçamentos da universidade – e ao mesmo tempo fui presidente do órgão máximo da associação, da Assembleia Geral. Está tudo interligado, mas isto é tudo comunicação. Isto é uma forma de informar as pessoas, explicar-lhes o que é possível fazer e como serem melhores

Indo à questão da Associação…

Nunca me filiei, consegui sempre candidatar-me de forma independente.

Consegui”. Porquê, é difícil resistir?

Porque nunca se consegue.

O “seu” presidente [Eduardo Melo] era filiado no Partido Socialista. Era e é, creio que esteve na lista do mais recente congresso do partido.

Em todos os cargos que tive dentro da Associação Académica de Coimbra (AAC), era mulher e nunca me filiei.

Como conseguiu, primeiro, ser mulher e chegar lá? Ser eleita, escapando ao raio de ação, furando a política partidária das “jotas” nas associações de Estudantes?

Não creio que se furem esquemas. É a conversar que nos entendemos. Sempre tive a mesma postura desde o primeiro ano em que me envolvi nas atividades da AAC, aos 20 anos. No primeiro ano, comecei num cargo básico, a organizar a receções aos caloiros, comecei por baixo, carreguei o gelo para as festas (risos). E isso é muito importante porque essas receitas são necessárias para organizar as ‘manifes’ em Lisboa, por exemplo. O problema está quando as pessoas se deixam levar pelos objetivos de forma sedenta, e eu sempre quis justificar a minha presença na AAC como uma mais-valia para contribuir a nível político educativo. Nunca me filiei e expliquei sempre aos partidos porque não o faria – nada contra quem o faz, mas uma lista e uma direção ganham mais se contarem com pessoas, com diferentes perspetivas, alarga horizontes.

Foi convidada a filiar-se?

Sim, várias vezes.

Por quem?

Convidada, pressionada a filiar-me, quer dentro das jotas do PS, quer dentro das jotas do PSD. Todos eles perceberam que eu não queria, e perceberam que eu podia ser uma mais-valia. Até porque eu tinha ao nível do eleitorado – em termos de negociação é muito importante – muito próximo, fosse com a malta de esquerda, fosse com a de direita, e fosse também com aquela que não ligava nenhuma à política. Ganhava tempo a ouvi-los, a tentar perceber a perspetiva deles e muitas vezes esquecem-se de fazer isso. Coimbra é muito mais do que copos e Queimas, são tertúlias, jantares até às cinco da manhã em que as pessoas falam sobre a vida, namorados, mas também falam sobre política e perspetivas de vida. Sou de Famalicão, um meio muito pequeno, e sempre disse que queria ver mais, saber mais, conhecer pessoas diferentes, mesmo que não concordemos com elas. Se calhar, essa minha abertura fez com que tivesse um eleitorado tão grande que me deu a liberdade de não precisar de me filiar. Embora houvesse pressões. Mas os partidos chegavam a um ponto em que percebiam que mais valia estarem quietos do que me pressionar.

Esses contactos chegam de jotas ou de líderes?

Chegam.

Pedro Passos Coelho convidou-a? José Sócrates convidou-a?

Há muitas conversas dentro dos partidos e das juventudes partidárias. Claro que tudo o que se passa em Coimbra é reportado e decidido, muitas vezes, centralmente, nas sedes dos partidos. Coimbra e a AAC são as grandes escolas dos políticos portugueses. Tenho muitos colegas meus que neste momento estão envolvidos com o Governo, estão muito bem lá, estou muito orgulhosa que eles estejam lá.

Mas não respondeu à pergunta.

Nunca falei diretamente com eles.

[Fotografia: Natacha Cardoso/Global Imagens]

O movimento associativo – e o Eduardo Melo explicava em entrevista, ao Jornal de Negócios em 2011 – estava diminuído, apesar de sublinhar que até estava ligeiramente melhor. Mas esta ideia das associações estarem nas mãos dos partidos não afasta os alunos?

Acho que não. Dentro de uma lista podem ser colocadas várias pessoas.

Porque é que o movimento associativo perdeu força?

Em 2009, 10 e 11 o movimento associativo estava muito forte por causa da crise, os estudantes estavam a sentir como a política educativa podia afetar a vida deles. Aí os alunos envolveram-se mais. Neste momento, as pessoas estão tão obcecadas e assustadas com o futuro, com o medo de sair de uma licenciatura e não arranjar trabalho que querem poder concluí-la o mais rapidamente possível para entrarem no mercado de trabalho, porque as perspetivas já não são tão favoráveis como há uns anos. Não consigo apontar o dedo à malta que prefere estar a estudar das nove às nove, do que estar a tirar duas horinhas e ir para a associação ajudar a organizar uma manifestação ou um debate. Compreendo perfeitamente. São perspetivas de vida diferentes. Depois há a realidade dos alunos bolseiros, e eles e também estão na associação. Eu conhecia colegas que recebiam 300 euros de bolsa com a qual pagavam casa, livros, fotocópias e alimentação, não consigo perceber como conseguiam. E muitas vezes os serviços atrasavam os pagamentos três e quatro meses. Essa foi uma das razões que me levou a envolver-me.

Era bolseira?

Não tinha bolsa, sempre tive uma vida confortável, mas chego a Coimbra e vejo uma realidade completamente diferente da minha. Não compreendo como é que isto acontece num país europeu, que preza tanto as causas sociais.

E hoje seis anos depois?

As coisas estão muito semelhantes, infelizmente. Mas as pessoas estão com mais medo, não se envolvem na política educativa para mudar as coisas. Parece que têm medo de dar a sua opinião para uma câmara de televisão. Naquele ano, em 2010, conseguimos fazer barulho. Hoje em, dia, a malta só faz barulho no Facebook e aí não conta. Há os meios de comunicação, manifestações, podem pedir-se audições na Assembleia da República, podemos pedir para falar com o reitor, com os deputados e a malta parece que não sabe, nem parece querer saber. Isso assusta-me.

Também foi a primeira mulher. Como foi chegar, lá estar e ver reconhecido o trabalho?

A primeira frase que ouvi quando me decidi candidatei foi: ‘Estás maluca? Não podes, és mulher!’.

E quem é que o disse?

Colegas, elementos da minha própria lista.

Valia a pena continuar numa lista que dizia isso?

Sim, para mudar mentalidades. (risos). E mudas através da prova. Consegui com muita paciência, com muitas conversas, argumentos em torno das valências que temos. Mas, depois de mim – e isto deixou-me muito feliz –, houve uma rapariga que se candidatou – a Rita Andrade – e já não lhe disseram essa frase. Foi ótimo.

Falamos de novas gerações, portanto a misoginia está muito mais enraizada do que se possa pensar?

(Sorriso) Muito, muito mais. A questão da eleição de Donald Trump veio abrir a porta a pessoas que, sendo preconceituosas, pudessem vir dizer quem eram. Antes, tinham vergonha e falavam baixinho, agora dizem em voz alta, mas até prefiro. Porque quando alguém diz à minha frente, começo a contra-argumentar. O feminismo não é o contrário de machismo, é a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Há malta da minha idade que confunde esta palavra. Acho que todas as mulheres e homens deviam ser feministas.

Sendo mulher, como foi reconhecido o seu trabalho na AAC?

A preparação e o estudo credibiliza em tudo na vida. Não foi fácil, houve acusações na internet, umas consegui apurar os responsáveis. Mas, no final, acho que credibilizei um lugar. Não interessa quem és, mas se fazes um bom trabalho. Sou obsessiva-compulsiva, control freak, tinha os estatutos da AAC de Coimbra decorados.

Politicamente, o que quer ser?

Sempre gostei mais das causas sociais. Gostava de me envolver – para já a minha prioridade é enquanto figura televisiva, estabilizar e ganhar mais projeção para a minha mensagem chegar a mais pessoas – e de usar o mediatismo de forma responsável e no sentido das mulheres e do papel dela na sociedade,

Mandatária?

Não ponho de parte, mas sempre independente. Posso identificar-me com os ideais de uma pessoa, um programa, mas nunca me vou filiar. É por aí que me imagino. Nunca fui convidada.

Como antiga dirigente associativa, como olha para o alegado caso de abuso sexual de uma jovem dentro de um autocarro, durante a Queima das Fitas do Porto? O que podem as Associações Académicas fazer?

Acredito que essas situações têm mais que ver com policiamento. No entanto, as associações poderão contribuir ao pressionar as entidades para que a segurança, na altura das festas académicas, seja feita de uma forma mais estruturada, com a presença concreta de polícias nos percursos com mais afluência de estudantes, e não apenas no recinto. Mas, nas queimas, todos sabemos que os exageros acontecem e somos todos responsáveis pelo que fazemos. Não conheço o caso em concreto, nem os intervenientes, apenas o que foi partilhado pelos meios de comunicação, e acredito ter existido muito sensacionalismo. Vivemos na geração do “gravar tudo” com ou sem autorização dos intervenientes e, do no meu ponto de vista, sem conhecer o caso em concreto, olho para aquela situação mais como um caso de falta de bom senso. Quer de quem gravou, quer de quem se “entusiasmou” no autocarro. E, como é evidente, com muito álcool à mistura, a capacidade de discernimento fica alterada. Mas apenas vi o que foi noticiado pelos meios de comunicação, o que não considero suficiente para tecer um juízo concreto.

 

A nível laboral, está num canal em que as mulheres são muitas vezes objetificadas, em vídeos. Como é gerir estas realidades?

Quer os homens, quer as mulheres nunca deixam de ser seres atraentes, sexuais, sensuais e isso faz parte do feminismo: uma mulher que deseja e é desejada. Posso dizer que no caso do videoclipe do Nélson Freitas, Miúda Gira – e eu participei nele – tive uma discussão saudável com um realizador porque ele queria que eu me apresentasse vestida de forma mais exposta. Aí, expliquei porque não fazia as coisas dessa forma e concordou comigo. E, se se reparar, não mostro grande coisa. Ele tinha uma ideia, eu expliquei-lhe a minha visão e concluímos que eu estava correta. Se querem que as mulheres se identifiquem com uma música romântica, se querem que eu faça este videoclipe, eu tenho de me identificar com a mensagem que está a ser transmitida. E ali há uma imagem de respeito entre o apaixonado por uma mulher. Nunca há propriamente um toque, nunca há uma abordagem direta, há respeito, enamoramento, corte.

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Aí pôde intervir e mudar. Mas quantos dos vídeoclips transmitidos na MTV promovem essa objetificação?

Muitas vezes, há a sensualidade e outras a objetificação. Quanto mais as mulheres justificarem as suas escolhas e o que pretendem, mais serão ouvidas. Eu gravo um programa na MTV, o MTV Summersessions de biquíni, mas faço-o de forma respeitosa, não acho que haja ali uma questão do corpo, mas antes uma opção que responde ao facto se tratar de um programa de lifestyle, de verão. A minha diretora de departamento é uma mulher. O Diogo [Dias] também se apresenta de tronco nu quando eu estou de biquíni.

Quando olha para a empresa e sendo sensível às questões feministas, o que deve mudar na MTV?

Na MTV Portugal, sendo a minha diretora uma mulher, há ali muito respeito pelo papel da mulher em frente à câmara. Nas entrevistas, procuram que eu fale com homens e o Diogo com mulheres, procura-se o equilíbrio, a igualdade. Há sensibilidade nesse sentido. Na MTV Brand [marca], cada vez mais – e falo da Ariana Grande – mostram o homem e a mulher sensual.

E os programas narrados, os reality shows como o ‘Geordie Shore’?

Aí, homens e mulheres aparecem na mesma dimensão, acho até que eles, por vezes, surgem com uma imagem pior na fotografia. Mas sei que homens e mulheres entram a ganhar os mesmos valores, a assinar os mesmos contratos e, quando vão portugueses, vão em número equilibrado, nas mesmas condições e com a mesma visibilidade. Mas, nesses programas, não há uma questão de género, mas antes questões de estilo de vida. Não tenho nada contra, só não é o meu.

Gostando de entretenimento, imagina-se a apresentar estes programas?

Depende. O Geordie Shore? Não, porque não me identifico, é um estilo de vida que não é o meu. Há outro tipo com os quais me identifico. Um reality show que tem um objetivo profissional, como o VJ casting acaba por ser ter um pouco essa componente e, no final, há uma proposta de trabalho.

É uma desportista convicta, usa isso nas redes sociais. É possível estar na TV sem passar essa imagem?

Eu não sou magra. Tenho formas, gosto de as assumir. Não treino para perder peso, para ser magrinha – que é o que acontece em Portugal – embora lá fora isso esteja a mudar, como é o caso da Ashley Graham. Falamos de mulheres saudáveis. Não sou magra, nem gorda, sou uma mulher saudável. Olhar para a questão do corpo de forma diferente não só tem interesse para as mulheres, mas também para as marcas. A nível internacional, estão a assumir as mulheres com os corpos que elas têm e Portugal ainda está muito formatado, tem medo de dar esse passo. Dou este exemplo concreto: trabalho há dois anos como apresentadora na MTV e muitas vezes o que me dizem é difícil trabalhar porque tenho um ar exótico, não sou magra. É muito difícil eu vir a fazer uma capa, quando a Ana Sofia, na altura em que esteve na MTV, fez várias. Portanto, não tenho ar de portuguesa comum, não tenho 50 kg e 1,75 metros. Não tenho o típico corpo ou aspeto de uma apresentadora portuguesa. O que acredito que vai eventualmente a acontecer – lá fora já está e aqui vai aos bocadinhos – é preciso começar a apostar em mulheres normais.

Estudou marketing de marcas de luxo. Elas estão dispostas a arriscar?

Elas vão perceber que vão ganhar muito mais quando arriscarem a este ponto. Internacionalmente já está a acontecer.

As de luxo? Conhece alguma?

Pois, mas já assumem o #nomakeup ou make up mais simples, pessoas de várias etnias e a androginia. Vou muitas vezes a castings que me dizem que eu tenho de emagrecer, que eu para ser apresentadora, não me podem fazer planos gerais com as pernas assim.

O que é que lhes responde?

Fixe para ti. Não vou mudar. As pessoas vão perceber de uma vez por todas que isso não vai interessar.

[Fotografia: Natacha Cardoso/Global Imagens]
Licenciou-se em Estudos Europeus, como nova geração, como olha para as declarações de Jeroen Djsselbloem que os países do sul “gastaram tudo em copos e mulheres”?

Há um grande problema de políticas e órgãos europeus: Eles tentam dar a ideia que estava tudo na boa, mas não está. O Donald Trump veio dar largas à chegada dessas pessoas que deveriam ter mais responsabilidade e não têm. Deixou de haver vergonha. O que me assusta mais é que os ideais europeus da liberdade, igualdade e livre-trânsito podem estar em causa.

Como chega a este ponto?

Porque há responsáveis em cargos de liderança que não deviam estar. E a responsabilidade é de quem os coloca lá, que é nossa, não nos informamos sobre quem votamos. Eu vou sempre votar, nem que vá de propósito a Famalicão. Muitas vezes, os meus amigos mandam-me a boca de que o faço porque quero ser presidente da República. Mas a questão não é essa, é porque se ganha e se perde por um voto. Se pressionássemos os candidatos para que dissessem o tipo de lista de governo que iam fazer, era diferente. Como não pedimos, eles ignoram e não se dão ao trabalho. O poder está do nosso lado, só que nos não sabemos usar ou somos preguiçosos.

E quer ser?

Não (risos). Presidente da República é um cargo mais leve em Portugal

O que é um cargo pesado?

O de primeiro-ministro, é mais pesado em termos políticos.

Imagina-se primeira-ministra?

Não. Não. Gosto de estar nos bastidores, é mais bonito. Não necessito assim tanto de protagonismo para que os meus ideais se façam valer. É preciso é que as pessoas certas te ouçam, te credibilizem e que possam caminhar contigo.

Ser eurodeputada?

Gosto, tenho amigos que estão na Comissão Europeia e no Parlamento. Não digo que não. Nesta fase da minha vida, já não é o caminho que quero seguir. Quero estar em Portugal porque acho que há muita coisa a fazer. A identidade europeia tem de ser explicada.

Com a ajuda do Jeroen Dijsselbloem não será fácil.

Pois, mas as pessoas muitas vezes esquecem-se de como foi chegar a isto e o quanto Portugal ganha e as condições que o país tem por estar neste grupo. Sou pró União Europeia.

Imagem de destaque: Natacha Cardoso/Global Imagens