Diferenças entre género e rendimentos afastam natalidade

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“Aquilo que observamos é que a decisão de ter filhos é cada vez mais tardia”, afirmou Catarina Marcelino. A secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade vincou, na conferência “Desafios Demográficos, Natalidade, Território e Políticas Públicas”, que decorreu segunda-feira, 22 de maio, que “para muitos, [ter filhos] é um objetivo adiado e isso deve-se muito a um conjunto de fatores, como as políticas de rendimento ou as diferenças entre homem e mulher no mercado de trabalho. As empresas devem olhar com igualdade para homens e mulheres”.

Marcelino lamentou que em Portugal esteja “instituída” a ideia do filho único, ressalvando, contudo, que a decisão de ter ou não filhos é sempre pessoal e que está muito condicionada pela conjuntura.

Declarações que se fizeram ouvir no encontro que decorreu em Odivelas – município do país que regista a maior taxa de fecundidade – e que levou governantes e investigadores a defenderem o reforço das políticas de igualdade de género e a melhoria das condições económicas das famílias como fatores essenciais para aumentar a taxa de natalidade em Portugal.

A governante sublinhou que o período das políticas de austeridade condicionou muito a decisão das famílias de terem o primeiro ou o segundo filho mas que a situação se tem invertido nos últimos dois anos.

A mesma ideia foi defendida pela investigadora Maria Filomena Mendes, da Universidade de Évora, que apresentou um estudo sobre a evolução da natalidade, no qual mostrou que desde 2014 até 2016 existiu um aumento significativo de famílias a terem um segundo filho.

No entanto, a investigadora afirmou que “Portugal ainda vive numa situação de filho único”, embora as famílias admitam que “gostassem de ter mais filhos”.


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Maria Filomena Mendes referiu que o adiamento da decisão de ter filhos é o principal obstáculo à natalidade, uma vez que “nascimentos adiados não são nascimentos recuperados”.

“A intenção de muitos casais é que venham a ter os filhos mais tarde mas isso nem sempre acontece, atestou a investigadora, defendo a necessidade da sociedade repensar no papel na família tanto da mãe como do pai, que, segundo Maria Filomena Mendes, “deverão ter papéis iguais”.

No mesmo sentido, Vanessa Cunha, da Universidade de Lisboa, defendeu a necessidade da sociedade “libertar os homens para vida familiar”, sublinhando que o pai deve ser tão responsável como a mãe na educação dos filhos.

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