Dino Alves: “Não gosto de fazer as coisas só porque vai ser giro”

Lisbon Fashion Week: Dino Alves
epa05577231 Portuguese designer Dino Alves thanks the spectators after his show during the second day of the Lisbon Fashion Week in Lisbon, Portugal, 08 October 2016. EPA/MIGUEL A. LOPES

A mensagem não é tudo, porque em moda a estética tem importância primordial. Mas Dino Alves gosta de conciliar os dois lados e foi o que fez na sua nova coleção, apresentada na última edição da Moda Lisboa, no passado sábado. O desfile que levou à passerelle não se limitou a mostrar uma sucessão de peças. Contou uma história, onde a mensagem ecológica e o alerta para o impacto do homem na natureza e no planeta foram a moral. Mas o estilista afirma que gosta de ser coerente com o que apresenta e por isso a ideia contida na coleção da próxima primavera/verão faz parte de um projeto maior que passa pela criação de uma submarca, feita com restos de tecidos e o mínimo de materiais e que ao mesmo tempo sirva de plataforma de lançamento a novos designers. Na entrevista ao Delas, que deu depois do desfile, Dino Alves explica o novo conceito que quer lançar.

Antes deste desfile deixou-nos um aviso, não só o temático, mas também de que o conceito deste desfile vai ter continuidade num projeto maior que está a preparar. O que nos pode dizer sobre isso?
Basicamente, é uma ideia na qual ando a pensar já há dois ou três anos, só que metem-se sempre outras coisas no meio e fui adiando. Tento sempre justificar as ideias que tenho. Não gosto de fazer as coisas só porque sim, só porque vai ser giro. Além disso, também achei que esta mensagem podia resultar numa história e numa imagem bonita, porque a mensagem podia ser útil e importante mas não me dar um lado romanceado. Se fosse esse o caso não o faria., porque a moda tem um lado visual muito importante. Achei que os dois lados podiam funcionar bem e que a mensagem contada desta maneira podia dar um show bonito e até romântico.


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E que tipo de tecidos vai usar?
As peças serão feitas só com restos de tecidos que vou juntando no ateliê. É assumidamente isso: restos de tecidos que não gasto. Numa coleção há sempre dez, cinco, dois metros de tecido que não se gastam e que nós não podemos usar na coleção seguinte porque é uma repetição, mas se for assumidamente numa coleção low cost, feita com estes parâmetros… E depois também é um desafio porque tentar fazer uma peça bonita, com um lado criativo, só com duas costuras e um elástico, em vez de ter um fecho, um ilhós, um colchete, uma mola, um botão é desafiante. Nessa marca vai-se tentar evitar ao máximo isso tudo. E também vai ter um caráter social. A ideia é todos os anos esta marca ter uma equipa de criadores que é selecionada.

Como é que vai funcionar essa parte?
Será composta por mim e mais dois ou três jovens designers saídos de escolas que terão a oportunidade, durante um ano, de ter um projeto utilizando o espaço do atelier sem custos. Os equipamentos, os tecidos estão lá. Assinam a marca comigo e terão também lucros. É uma espécie de um empurrão durante um ano. A marca depois mantém-se com outros jovens. Imaginemos que se chama Dino, num ano será Dino by X, Y, Z no outro Dino by e os nomes dos jovens que estiverem nesse ano. Acho que é uma forma de dar um incentivo aos novos designers. Claro que depois têm de mostrar o que valem e ganharem asas. Mas quero dar esse empurrão. Acho que as pessoas quando ajudam também se tornam mais felizes.

No final do desfile da coleção primavera/verão 2016/2017 apresentou-nos peças cobertas de pó. O que pretendeu transmitir com essa imagem?
A ideia era representar um bocadinho a morte das flores, dos seres vivos. Eu acho que a história é contada de uma maneira muito simples, porque aqui também não se pretende estar a ser muito intelectual. No início temos uma espécie de sol, depois aparecem as flores ainda muito viçosas e coloridas. Depois a dada altura, quando entra o homem, entra a parte química/industrial, com o uso de cores mais ácidas. Obviamente, nós precisamos da indústria, mas esta também tem resultados nocivos sobre o meio.

Foi por isso que apostou na sobreposição de peças nos modelos masculinos?
Sim, eles representavam um bocadinho o ser prejudicial, hostil à natureza, no fundo é a humanidade. As ‘flores’ começam a ficar secas, aquela organza em tons secos, até que depois aparecem os negros cobertos de cinza, simbolizando o definhar e a morte. Aqui foquei-me nas flores como o ser vivo simbólico da vida na Terra, mas, no fundo, representam a água, os animais, o ar e o próprio homem.