Diversidade real na moda tem a ver com as formas do corpo, não apenas com a cor da pele

O What’s App ainda não tinha tocado nessa manhã quando de repente apitou três vezes. Primeiro, uma fotografia da campanha da Oysho, em segundo, um “Já viste isto?” e, em terceiro, “Isto é muito giro!”. A resposta: “Sim, já tinha visto” e “sim, é muito giro”. A razão do alarido matinal: as imagens do catálogo da nova coleção que têm duas modelos de tamanhos superiores ao normal.

A marca do grupo Inditex expõe no site, pela primeira vez se estou bem recordada, barrigas por definir e braços cheios, sem pudor. E o mais surpreendente nem é isso: é que veste estes corpos mais roliços e mais aproximados na beleza real, com lingerie que, se fossemos incautas, juraríamos que só ficava bem às magras. Soutiens sem aros nem enchimentos em forma de triângulos, bodies transparentes e cuecas para lá de sexys, não tampam os refegos, nem a cintura pouca marcada e isso é inovador.

Outra coisa incrível é uma amiga minha que não tem medidas de top model, mas também não é gorda nem nada que se pareça, ter reparado nisto e ter gostado, ter-se identificado e possivelmente ter pensado em comprar lingerie com que, antes, nunca se tinha imaginado vestida.

A teoria de que as modelos devem ter uma beleza aspiracional e que as mulheres gostam de olhar para um ideal inatingível, caiu por terra com este look book. Não deixa de ser verdade que algumas mulheres ao verem campanhas com modelos que acham muito bonitas, se sintam influenciadas para comprar o que essa musa veste na esperança inconsciente de se aproximarem à beleza representada. No entanto, basta pensar um pouco para perceber que quando uma cliente olha para um look book ou campanha, também olha para a forma como a roupa cai e se a manequim tiver um corpo mais real e com o qual se consiga identificar com maior facilidade fará uma compra muito mais determinada e segura.

Quando falamos de roupa, sobretudo roupa interior, a diversidade deve prender-se também com as formas do corpo porque a roupa serve para vestir corpos. É essa a sua função: vestir todos os tipos de corpos! Por isso a verdadeira diversidade na moda tem de estar intimamente ligada a diversos tipos de corpo.

Durante anos as marcas taparam o sol com a peneira, representado nas suas campanhas belezas diferentes – europeia, africana, asiática – mas todas elas tamanho 36. Esta estação a Oysho deu um passo para a verdadeira diversidade, mas não arriscou tudo, ficou-se apenas pelo look book. A campanha, essa, continua a ter como protagonistas modelos com as mesmas medidas de sempre. Falta correr o risco por inteiro, pôr corpos de todos os tamanhos em outdoors e montras se o objetivo for mesmo ter uma imagem de marca representativa da realidade das suas consumidoras.

Este pequeno passo pela diversidade foi, apesar disso, dado da melhor forma, de maneira discreta, sem comunicados ou bandeiras hasteadas, com modelos de medidas normais que não são famosas, são apenas modelos. Esta foi a forma certa de o fazer porque foi a forma mais natural, e nada agrada mais às mulheres reais do que marcas de grandes massas a agir de forma natural.