
Às cinco da tarde desta segunda-feira, 20 de janeiro, hora de Lisboa, o republicano Donald Trump toma posse como 47º presidente dos Estados Unidos da América, regressando à Casa Branca como Chefe de Estado depois de um mandato do democrata Joe Biden.
E se, da primeira vez, em janeiro de 2017, a primeira ordem executiva do empresário republicano foi reverter o Obamacare, um programa de saúde criado pelo então antecessor democrata Barack Obama e que visava criar uma aproximação à cobertura universal do sistema de saúde e que chegou a abranger 20 milhões de cidadãos sem seguros de saúde devido a falta de rendimentos, desta vez o primeiro foco incide sobre os migrantes, com ordens executivas de expulsão já possivelmente alinhadas em cima da secretária da Sala Oval e prontas para serem assinadas assim que as celebrações da tomada de posse terminarem.
Mas não é só a “deportação em larga escala”, como Trump já referiu, que está em cima da mesa. Estimando-se em 200 as ordens executivas que o novo presidente espera assinar o quanto antes, no lote estão medidas contra a diversidade, equidade e inclusão de género, de acordo com a sua agenda47 (que pode ser consultada no original aqui) e tendo em conta as palavras que disse em Washington, na véspera da tomada de posse, no domingo, 19 de janeiro.
Transgénero na mira de Trump
Nessa noite, Trump reiterou o que está no programa e afirmou que “vai afastar os homens dos desportos femininos”, num ataque aos direitos transgénero. De entre as medidas prioritárias neste arranque de segundo mandato presidencial, que ecoou no domingo ao som de Macho Man dos Village People, estão, como avança a imprensa norte-americana, a eliminação e retirada de financiamento a programas inclusivos em curso nas agências federais, entidades contratantes e organizações ligadas a esta realidade, comprometendo direitos civis e diversidade.
Professores com armas nas escolas
devem ensinar o que é republicano
Na lista de medidas está o corte de financiamento federal “a qualquer escola que promova teoria racial crítica, ideologia de género radical e outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos inapropriados para as crianças”. A edição norte-americana da Forbes lembra também propostas como “pais a elegerem diretores de escola, criar um novo órgão de certificação de professores que apenas “abracem valores patrióticos”, apoiar agrupamentos escolares que autorizam professores a terem armas ocultas na sua posse”. No ensino superior, o novo presidente promoverá a criação de unidades “que imponham os valores de partido republicano às instituições.
Se no primeiro mandato de Trump (2017-2021) foram criadas as condições para que, mais tarde e já com os novos nomeados ao Supremo Tribunal, fosse revertido federalmente o direito ao aborto, permitindo a que quase três dezenas de estado restringissem ou abolissem mesmo os direitos às mulheres, Trump disse agora na campanha que deixaria a decisão a um nível estadual. Porém, também afirmou, em comício a 30 de outubro, que iria “proteger as mulheres, quer elas gostassem ou não”. Uma frase entendida como “ofensiva” uma vez que Trump foi rosto de escolhas que fizeram retroceder o direito ao aborto e sobre quem pendem dezenas de alegações de má conduta sexual, assédio e agressão ao longo dos anos e uma sentença, reconfirmada a 30 de dezembro de 2024.
Se há oito anos, as mulheres saíram massivamente à rua para marcharem contra a, então, primeira administração Trump, com números a apontarem para o meio milhão de participantes em Washington e milhares em tantas outras cidades como 400 mil em Nova Iorque e 750 mil em Los Angeles – configurando uma das maiores manifestações de um só dia na história dos EUA – , este sábado, 18 de janeiro, a rebatizada Marcha do Povo agregou cerca de um décimo dos participantes. A luta pelo regresso à lei federal do aborto ouviu-se nas ruas, mas não com a mesma dimensão de há oito anos, e chegaram também palavras de combate sobre mudanças climáticas, violência armada e pelos direitos dos imigrantes.
Aliás, a organização de Los Angeles que pugna pelos direitos das mulheres tinha já antecipado em novembro, no rescaldo da vitória de Trump, que possivelmente não iria organizar a marcha de protesto em janeiro por considerar que os fundos que ali serão gastos serão prioritários para fazer frente a eventuais medidas que vão fragilizar os direitos das mulheres.
De acordo com a agência noticiosa Reuters, citando mais de uma dezena de ativistas, a derrota da candidata democrata Kamala Harris, a segunda mulher a desafiar e a perder contra Trump (Só Biden o venceu), terá deixado as mulheres desoladas e, prossegue o mesmo órgão de comunicação social, expôs divisões raciais internas nos movimentos pelos direitos das mulheres. Nesse sentido, é tempo de reorganizar e reformular a luta dos direitos das mulheres, compreendendo o que levou o eleitorado feminino branco, mais até do que em 2016, a votar num candidato que restringiu os direitos ao aborto e que foi condenado por agressão sexual.