As agulhas podem aliviar as dores menstruais… e não só

Os números são preocupantes. Afinal, estima-se que em Portugal, segundo dados da plataforma Médicos Portugueses, 75% das mulheres em idade fértil sofram de dores menstruais, uma condição que – em casos graves – altera profundamente o quotidiano.

No mercado há soluções médicas. No âmbito do senso comum, há também alternativas que podem ajudar a aliviar ligeiramente os sintomas. A medicina tradicional chinesa reclama poder ajudar a combater a sintomatologia da dismenorreia e, com isso, outras patologias.

Na galeria acima fique a conhecer algumas delas.

Um estudo recente levado a cabo na Austrália e Nova Zelândia, pelas Universidades de Western Sidney e de Auckland, e publicado em julho no Journal Plos One, vem indicar que a acupuntura ter efeitos positivos na luta contra os efeitos desta condição feminina, conhecida por Tong Jing naquela prática milenar.

A investigação-piloto acompanhou 74 mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos e concluiu que mais de metade das participantes tinha registado, pelo menos, um decréscimo de 50% de dores. Os tratamentos duraram até três meses – ora 12 num único período ou três vezes numa semana em três ciclos menstruais – e as mulheres relataram efeitos que duraram mais de um ano.

Os mesmos investigadores também notaram que as melhorias são mais evidentes quando a acupuntura é feita de modo manual do que quando comparada com a que usa a corrente elétrica a atravessar as agulhas.


Quando ter dores menstruais é sinal de doença


“Este estudo foi muito interessante porque veio corroborar a eficácia e o que temos andado a fazer neste âmbito”, explica Hélder Flor ao Delas.pt. O especialista em medicina tradicional chinesa e osteopata, a desenvolver atividade há 15 anos, diz não haver dados para Portugal porque, “sendo um país pequeno e no qual a acupuntura ainda não está integrado no Sistema Nacional de Saúde, os estudos são mais limitados e é difícil encontrar amostra suficiente”.

“Já sabemos que podemos ajudar as mulheres através da acupuntura, mas ainda não é algo que elas procurem muito”

Ainda assim, este responsável pelas clínicas homónimas nas quais trabalha, nota que, muitas vezes, “os especialistas são procurados por outro tipo de dores e é em conversa com as pacientes que se percebe que têm dores menstruais desde a adolescência”. Ou seja, “já sabemos que as podemos ajudar através da acupuntura, mas ainda não é algo que elas procurem muito”.

Acupuntura ajuda, mas não resolve tudo

Não digo que a acupuntura resolva tudo, mas pode ajudar. Depende dos casos, da condição da pessoa, da situação em que se encontra, mas também é verdade que está instituído que é normal ter a menstruação desregulada, ter dores, ter uma série de patologias, ter coágulos na menstruação e nada disso é correto ou normal”, contextualiza Hélder Flor. O especialista diz mesmo que há outras doenças que – apenas pela regulação da menstruação – podem conhecer melhorias.


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A endometriose é sempre um caso à parte. “É uma situação muito complexa. Normalmente, conseguimos melhorar o padrão em termos de dor, fazendo que a mulher tolere muito melhor as crises, as fases menstruais e tenha dores e contrações uterinas mais suavizadas”, salvaguarda o especialista.

Uma coisa é certa: parar os ciclos não é aconselhado. “Somos completamente contra estas terapêuticas novas que interrompem a menstruação, a não ser em casos muito específicos”, ressalva Hélder Flor.

Custos e tratamentos

“Apontamos sempre, em termos médios, para um mínimo de quatro tratamentos para conseguirmos regular mais ou menos este tipo de situações não muito grave. E recomendamos que sejam feitos uma vez por semana. A endometriose requer mais”, diz o osteopata, lembrando que pode haver necessidade de tratamentos de “manutenção”. Este especialista também vinca que, consoante o caso da mulher, as consultas tenham lugar antes ou depois do período menstrual e não durante.

A acupuntura pode agir sobre estas dores logo desde a primeira menstruação, mas é importante dar tempo para perceber se esta condição se mantém na vida da mulher ou se é transitória. “Serão necessários sempre alguns meses para que a menstruação se estabeleça”, alerta Flor.

De acordo com o especialista, os preços médios praticados estão entre os “50 a 70 euros para primeira consulta e entre 35 a 45 para as seguintes”.

“Somos completamente contra estas terapêuticas novas que interrompem a menstruação, a não ser em casos muito específicos”

É também comum acompanhar a acupuntura com fitoterapia. “Há lugar a prescrição de plantas que ajudam a regular a menstruação, o fluxo, a periodicidade de forma a que o caso vá melhorando”, explica Hélder Flor, vincando que se trata de medicação que só pode ser comprada após receita passada em consulta e mediante posologias definidas pelos especialistas.

O que ingerimos e o exercício podem ser bons aliados no combate a esta condição feminina, mas não chegam.


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O osteopata deixa algumas recomendações. “O calor, como por exemplo um saco de água morna, pode ajudar no combate à dor”. Flor fala ainda de alimentos que “podem ajudar como os frutos vermelhos e os vegetais com cor”. Mais: “se a mulher tem pouco fluxo menstrual, todos os vegetais de folha escura como por exemplo os agriões, os espinafres e as nabiças são importantes”.

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