‘Duck March’: a marcha para grávidas que quer mostrar a força das mulheres

Beautiful pregnant woman sitting at bed and holds hands on belly in bedroom at home.
Beautiful pregnant woman sitting at bed and holds hands on belly in bedroom at home. Young mother waiting of a baby. Pregnancy, maternity and expectation image. Close-up, indoors.

O Festival MEXE vai para a sua 5ª edição e vem com uma novidade: uma marcha só para mulheres grávidas que tem como objetivo mostrar que o corpo feminino não tem de ser delicado e frágil, mas sim heroico e de transformação. A Duck March, projeto realizado pela italiana Caterina Moroni, vem a Portugal e apela para que todas as mulheres grávidas se juntem em prol da valorização da mulher e da igualdade de género.

[DR: Duck March]
A acontecer no Porto entre os dias 16 e 22 de setembro, o MEXE – Encontro Internacional de Arte e Comunidade vai então receber a Duck March, um projeto no qual se vai poder marchar pela igualdade de género, cantar canções, recitar poemas ou fazer coreografias de forma a mostrar que a mulher quando está grávida não está doente nem tem de ser só frágil e doce.

A marcha realizar-se-á na segunda-feira, 16 de setembro, no Porto, pelas 17h00. Aproveite e leia abaixo a entrevista do Delas.pt à organizadora do evento, Caterina Moroni, uma conversa na qual admite poder vir a convocar pais para a iniciativa.

Como é que surgiu o interesse por este assunto? Foi ao ser mãe?

Sim, sou mãe e tinha sido mãe há cerca de um ano quando comecei a trabalhar no projeto Duck March. Vivenciei por mim mesma a força, irmandade e solidão que as ‘novas mães’ podem sentir.

Como começou a ideia de fazer uma marcha cujas participantes sejas mulheres grávidas? Este evento é só para mulheres grávidas ou toda a gente é bem-vinda?

Tudo começou em 2014. Aí já estava focada em trabalhar num espaço público e em processos participativos. E eu era mãe. Sim, a marcha é mesmo só para mulheres grávidas, embora em Hamburgo tenha tentado envolver homens com grandes barrigas de cerveja. Mas tenho falado com uma grande amiga francesa, que é bailarina, sobre a possibilidade de fazer uma versão para pais.

“Tenho falado com uma grande amiga francesa sobre a possibilidade de fazer uma versão para pais”

Explique-nos o conceito desta marcha.

A Duck March é uma incursão urbana. Em cada lugar, a marcha tenta criar uma ligação com o território, com cada estado geográfico e com as pessoas que fazem parte de cada evento, que é único e diferente. A ideia começou com a realização de uma marcha pacífica com coreografias feitas por mulheres grávidas. A construção da parte física é feita a partir de um grupo de pessoas e de elementos oferecidos pelos contextos social e histórico de cada sítio, de uma análise cuidadosa das especificidades individuais e das diferenças culturais de cada local, que é também enriquecida pela colaboração de artistas locais.

O que é que defendem?

Nós excluímos, desde logo, a ideia do corpo materno como estando doente, delicado e necessitado. Escapamos dos clichês que fecham as mulheres e mães numa imagem querida, delicada e afável. O corpo materno torna-se num símbolo de presente, passado e futuro. Simboliza uma responsabilidade coletiva e, ao mesmo tempo, uma beleza selvagem. Neste projeto, todas as mulheres marcham juntas para reconquistar o espaço público, para mostrar a sua força e a bestialidade do seu corpo feminino de forma a passar a mensagem de não-violência e regeneração. Em cada local é organizado um grupo de ação que documenta e narra o que se passa através de várias ferramentas. Vídeos, fotografias em retrato, entrevistas, músicas e poemas são exibidos em forma de exibição, que a companhia vai atuando. Nós trabalhamos com pequenos passos e muita paciência, tal como a maternidade e a gestação assim o exigem.

Qual o objetivo e a mensagem que esta marcha quer passar?

As mulheres grávidas na Duck March são um manifesto: nós queremos falar sobre medicação, parto, violência nas obstetrícias, solidão no pós-parto, depressão, igualdade de género e sobre a necessidade de o mundo se readaptar e regenerar. O corpo das mulheres grávidas representa o símbolo e a sinestesia perfeita para enfrentar estas questões. Queremos desviar-nos da ideia do corpo como delicado e doente mas sim um corpo guerreiro, natural e cheio de graciosidade e santo. Esta marcha é para todas as mulheres do mundo.

O que espera das mulheres portuguesas neste evento?

De uma forma geral, espero uma participação e partilha mais calorosa do que noutros países do norte da Europa, mas também espero muita poesia e espero conseguir recolher algumas canções para adormecer dóceis.

Sente que as pessoas se abrem mais sobre as questões da maternidade depois deste tipo de movimentos? Tem pessoas a falar consigo através das redes sociais porque estiverem nestas marchas?

Sem dúvida que sim. Na verdade, essa é a razão pela qual eu continuo a fazer a Duck March por todo o mundo ao longo destes anos. Nós ficamos em contacto, mas, acima de tudo, há pessoas que criaram mesmo grupos de ação para esta marcha e mesmo passados vários anos mandam-me fotografias de quando se encontram. Saber que se encontram e que pensam também em mim, é algo que me traz muita alegria.

Consegue-nos dar três mensagens ou conselhos positivos para todas as mulheres?

Existe uma citação de Shanti [paz em hindu] que eu gosto muito e que gostaria de dedicar a qualquer pessoa que esteja a ler isto, que diz: “No fim do dia, os seus pés devem estar sujos, o seu cabelo desgadelhado e os seus olhos a brilhar”. Também diria a todas as mulheres que “se quiserem, apenas chorem” e, claro, iria convidá-las a junta-se a nós na Duck March, no Festival MEXE.

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