Farida Daoud: “Durante anos, a beleza foi tratada à parte, hoje integra a saúde e a forma”

Farida Daoud

Sorriso largo, boa disposição e um olhar amplo sobre a indústria e o mercado da beleza. Farida Daoud, vice-presidente dos laboratórios Lierac, é conhecedora da indústria nas suas múltiplas vertentes e sustenta que a idade de uma mulher e a idade da pele em nada são semelhantes e que o setor deveria responder a essa diferença: “como a temperatura, em que existe a real e a que se faz sentir”, diz, entre risos.

A responsável pede às mulheres, em entrevista ao Delas.pt e à margem do lançamento do novo produto anti-rugas Cica-Filler, que escapem à rotina e que não apliquem os produtos de beleza de forma automática – como manda o quotidiano. Antes, reservem um tempo exclusivo para si próprias. Uma conversa que não esqueceu a análise sobre a presença de mulheres cada vez mais velhas a promover produtos e, em matéria ecológica, a questão do embalamento.

Farida Daoud tem vindo a dizer que existem quatro tipos de rugas. Em que tipo delas atua este produto novo produto?

Há quatro tipos de rugas. As que surgem mais cedo, mais rápido e são mais fáceis de tratar e que são aquelas que chamamos de desidratação. Temos depois as de expressão e que começam por se tornar evidentes no contorno dos olhos. Há depois as de fotoenvelhecimento e, por fim, as rugas que se prendem com a perda de firmeza. Temos estes quatro tipos, mas na realidade há uma interligação entre todas elas.

Por exemplo?

As rugas de expressão podem ser acentuadas pelo sol, as de desidratação podem ser reforçadas pelo envelhecimento cutâneo. Portanto, há quatro tipos de rugas que revelam alguma deterioração dérmica ou epidérmica, mas, quando olhamos para os rostos, todas estas coexistem. O que temos tentado fazer, a par até com a cirurgia estética, é a de intervir em todas. Temos um produto hidratante, cicatrizante e de restauração de toda a arquitetura dérmica. Procuramos ter um produto completo.

“É preciso pensar na idade da pele e não na idade da mulher”

Com que idade se deve começar a prevenir?

Não gosto muito dessa noção dos produtos. É preciso pensar na idade da pele e não na idade da mulher. Por exemplo, uma mulher que vive no campo tem já, antes dos 25 anos, rugas de desidratação. Temos até já crianças com rugas de expressão. Diria que é necessário ter a noção de degradação da pele que é mito mais importante que a idade inscrita num passaporte. A grande prevenção passa sempre primeiro pela hidratação.

“Se tem uma filha de 14 ou 15 anos, seria bom que ela começasse a aplicar um creme hidratante”

A partir de que idades?

Por exemplo, se tem uma filha de 14 ou 15 anos, seria bom que ela começasse a aplicar um creme hidratante. Mas tudo depende da forma como ela vive, se pratica ou não desporto, etc. O creme hidratante terá um fator de proteção. As primeiras regras aparecem, em termos gerais, aos 28 a 30 anos, sobretudo aquelas que se situam no contorno dos olhos. Mas as rugas propriamente ditas surgem a partir dos 40 anos. A firmeza da pele é uma questão que surge já pelo 50 ou 60 anos, quando se discute o anti-envelhecimento em geral.

É a partir desta idade que se devem começar a usar cremes anti-rugas

Vou fazer uma provocação: mesmo com todos os cuidados, não se conseguem evitar as rugas. Como resolver?

Compreendo a provocação e eu própria sou assim. Não gosto da expressão anti-rugas, prefiro a expressão anti-idade porque se tratam de produtos que pretendem corrigir, melhorar e atenuar, mas o termo ‘anti’ é cada vez mais fora de moda. Nenhuma mulher, hoje em dia, acredita que um produto cosmético lhe vá retirar as rugas. Mesmo as injeções, essas podem ajudar a atenuar, mas as rugas continuam lá. Acho que todas marcas estão a evitar esse conceito. A idade deveria ser entendida como entendemos hoje a temperatura.

“Nenhuma mulher, hoje em dia, acredita que um produto cosmético lhe vá tirar as rugas. Mesmo as injeções, essas podem ajudar a atenuar, mas as rugas continuam lá”

De que forma?

Temos a temperatura real e a sensação térmica. Creio que a beleza deve também integrar essa distinção: a idade do passaporte e a idade que se procura ter.

Portanto, deveriam rever a nomenclatura?

Concordo plenamente.

E Lierac já encontrou essa palavra?

Sim: Viver bem a sua idade. Um produto cosmético é um adjuvante extraordinário para objetivar e materializar a decisão de ter estes cuidados. Os ingredientes utilizados nos produtos são cada vez mais próximos da dermatologia e da medicina estética. Há cada vez menos diferenças. E com Cica-filler procurámos isso mesmo, aproximarmo-nos do processo de cicatrização e estudámos muito toda essa vertente, bem como os métodos para lidar com as rugas, através do ácido hialurónico. Quisemos criar um produto cosmético que é muito semelhante ao processo das injeções, mas pensado para as mulheres que não querem passar por esse processo. Durante anos, a beleza foi tratada à parte, hoje integra a saúde e a forma. A cosmética é cada vez mais reparadora e corretiva.

As mulheres têm vidas agitadas. Quanto tempo é necessário para aplicar estes produtos?

Há uma palavra que eu detesto: rotina.

“Durante anos, a beleza foi tratada à parte, hoje integra a saúde e a forma. A cosmética é cada vez mais reparadora e corretiva”

Mas as mulheres, hoje em dia, vivem submersas nela.

Todos os dias é mesmo, não pode ser (risos). No caso de Cica-Filler, a aplicação é muito simples, pode ser feita em casa. Basta colocar uma gota em cada ruga e aplicar depois o creme hidratante. E é muito importante ressalvar que, num processo de regeneração da pele, são sempre necessários, pelo menos 21 dias. Quanto à palavra rotina (risos), detesto-a porque exclui o prazer.

Como resolver, então?

Creio que as pessoas devem pensar na aplicação destes produtos como um momento para si. Nada deverá interromper isso, é muito importante que as mulheres reservem esse espaço para si.

Cada vez mais as marcas têm vindo a apostar em mulheres cada vaze mais velhas como rostos das suas campanhas publicitárias. É uma moda ou vem para ficar?

Sou completamente a favor e estamos completamente à vontade nesta matéria. Na Lierac, há 45 anos, desde o início que famosos primeiros a para a palavra anti-envelhecimento, em 1994 fomos os primeiros a produzir um produto anti-idade para a farmacêutica, fizemos depois produtos para o envelhecimento cutâneo hormonal, para as estrias.

Mas esta escolha de celebridades mais velhas que comunicam os produtos de beleza?

Creio que para lá da beleza, falamos de mulheres que representam outras lutas, outras conquistas. Elas simbolizam, mais do que a idade, um certo poder. Penso que é uma bela conquista porque revela uma dimensão da recuperação do poder feminino. Antes, um homem de 50 anos estava bem e uma mulher era velha, hoje estão ao mesmo nível.

“Antes, um homem de 50 anos estava bem e uma mulher era velha, hoje estão ao mesmo nível”

Crê que vem para ficar?

Sim, acho que sim. De outro ponto de vista, olhe o nosso presidente francês, Emmanuel Macron, a mulher, Brigitte, tem mais 25 anos do que ele, e essa já não é uma questão.

Beleza, ecologia e possibilidade de recarregar os produtos, sem embalagens, plásticos ou papel. Há soluções?

Temos vindo cada vez mais a estudar como manter os produtos conservados e sem riscos para quem os utiliza. Creio que ideal é o vidro, mas tal coloca os problemas de peso e fragilidade que se conhecem. Creio que a indústria está empenhada na procura de soluções. Ou seja, o plástico que se coloca no mercado procura-se que seja menos poluente, que seja possivelmente reutilizado para outros fins. Mas há depois a questão: as mulheres disposta fazer uma recarga num produto de beleza?

O que vos dizem?

Na cosmética, há a noção de que um produto é um presente que se dá a si próprio, uma poção mágica. A perfumaria já tentou aplicar essa possibilidade, há já alguns anos, no início do século XXI, mas a ideia não progrediu. Eu gostava, mas é preciso uma mudança de mentalidades. A maquilhagem, por exemplo, até se vende bem na internet, mas com os produtos de beleza, os comportamentos são diferentes: as pessoas pesquisam todos os detalhes, estão mais informadas, mas depois só compram presencialmente. É como comprar alimentos pela internet, as pessoas não o fazem.

“A maquilhagem, por exemplo, até se vende bem na internet, mas com os produtos de beleza, os comportamentos são diferentes”

Que novidades podemos esperar?

Iremos continuar a apostar no segmento da cosmética reparadora e corretiva, esses são pontos muito claros para Lierac. Mas posso avançar que estamos a trabalhar num produto renovador da pele com Vitamina C.

Qual é o seu segredo de beleza?

Sou muito positiva (risos). Não faço coisas que não gosto. Mas em tudo o que faço sou energia, seja nas compras, seja a fazer jardinagem, o que quer que seja.

Imagem de destaque: DR

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