É por esta razão que os gurus do digital criam os filhos sem smartphones e tablets

Ao contrário do que seria de esperar, nos colégios de Silicon Valley, o epicentro da economia digital, onde vive quem pensa, produz e vende a tecnologia que transforma a sociedade do século XXI, a maioria das escolas não tem tablets nem computadores. Nestes estabelecimentos educativos em que estudam os filhos dos diretores da Apple, Google e outras gigantes tecnológicas predominam os velhos quadros de giz. Só no ensino secundário é que começam a interagir com ecrãs.

“Se faz um círculo perfeito com um computador, perde o ser humano a tentar alcançar a perfeição. O que impulsiona a aprendizagem é a emoção e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Ao colocar uma criança pequena em frente a um ecrã está a limitar as suas habilidades motoras, a sua capacidade de concentração. Não há muitas certezas em tudo isto. Teremos as respostas dentro de 15 anos, quando essas crianças se tornarem adultos. Mas queremos correr o risco?”, explicou ao site espanhol El País Pierre Laurent, pai de três filhos, antigo engenheiro informático na Microsoft, Intel e em diversas startups e atual presidente do conselho de administração de um colégio.

Esta tendência entre os gurus da tecnologia não é de agora. Em 2017, Bill Gates, o criador da Microsoft, revelou que limitou muito o tempo que os seus filhos passaram a olhar para ecrãs (percorra a galeria de imagens no topo do texto para ver dicas para manter o seu filho afastado de smartphones e tablets).

“Não temos os telefones na mesa quando estamos a comer e não lhes demos telemóveis até completarem 14 anos”, afirmou Bill Gates. Steve Jobs, por sua vez, numa entrevista ao The New York Times, em 2010, contou que em casa também limitou o uso de tecnologia aos filhos. “Na escala entre os caramelos e o crack, isto está mais perto do crack”, disse, assegurando que até proibida as crianças de utilizar o seu recém-criado iPad.

Contrato proíbem babysitters de usarem telemóveis

A preocupação em afastar as crianças da tecnologia em Silicon Valley transcende as paredes das salas de aulas. Nas famílias dos altos executivos das empresas tecnológicas da zona está a generalizar-se a prática de exigir às babysitters que assinem contratos que as proíbem de usar o telemóvel durante o horário de expediente.

“Já trabalhei em casas em que tinha de deixar o telemóvel com o segurança sempre que entrava. Não podia olhar para o telefone durante todo o dia de trabalho e as crianças não podiam ver ecrãs durante o tempo em que estavam comigo“, revelou Janie Martinez, que trabalha como babysitter na zona há 15 anos.

Esta babysitter já trabalhou em famílias importantes do mundo da tecnologia, incluindo a de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. Empregos que, nos casos mais extremos, podem ter remunerações até 100 mil dólares (88 mil euros) anuais.

“Quanto mais alto é o perfil das famílias, mais preocupadas estão com este tema. Não querem que os filhos olhem para um ecrã e, no contrato, impedem-me de usar o telefone. Isso parece-me frustrante. Como cuidadoras precisamos do telefone para as emergências”, sublinhou Janie Martinez.

Syma Latif, diretora da agência de babysitters Bay Area Sitters, que coloca centenas de cuidadoras na zona de Silicon Valley, confirma esta tendência.

“Cada vez vemos mais famílias que incluem estes pormenores nos contratos, é sem dúvida algo muito comum. Quando falamos de tempo no ecrã e babysitters há dois aspetos a tratar: o seu próprio tempo nos ecrãs e o da criança. Os contratos incluem tipicamente algo relacionado com os dois”, acrescentou Syma Latif.

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