Educação autoritária ‘interfere’ na genética. Estudo aponta sérios riscos para saúde mental

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[Fotografia: Kindel Media/Pexels]

Estudo da Universidade belga de Leuven tentou correlacionar um estilo de paternidade mais autoritário e os efeitos na saúde mental nos filhos. De entre as conclusões, a equipa releva uma maior propensão para o desenvolvimento da depressão e eventuais alterações na informação genética.

Descobrimos que a perceção de pais severos, com punição física e manipulação psicológica, pode introduzir um conjunto adicional de instruções sobre como um gene é interpretado e se liga depois à cadeia de ADN. Temos algumas indicações de que essas próprias mudanças podem predispor a criança em crescimento à depressão”, explicou aos meios de comunicação social a coordenadora do estudo, Evelien Van Assche.

A psiquiatra acrescentou, contrapondo, que “tal não acontece da mesma forma se as crianças tiveram uma educação mais virada para o apoio”. A análise acompanhou e monitorizou dados de 23 adolescentes, de ambos géneros, com idades entre os 12 e os 16 anos, que descrevem os pais como autoritários. Resultados confrontados com uma amostra com as mesmas características e com jovens que apresentam os seus pais como promotores de ajuda e autonomia.

Foram depois mapeados os genomas, que indicaram maior variação no primeiro grupo e num registo de alteração associada à depressão, a metilação, processo através do qual uma molécula química é integrada no DNA, alterando e variando a forma como as mensagens são lidas.

O estudo e as conclusões estão ainda longe de estarem fechadas. “Estamos a verificar se podemos fechar o ciclo ligando-o a um diagnóstico posterior de depressão e, talvez, usar essa variação de metilação aumentada como um marcador para alertar antecipadamente quem pode estar em maior risco de desenvolver depressão como resultado da educação a que foi sujeito”, descreveu Van Assche.

A coordenadora e autora principal do estudo tenta estabelecer relação entre parentalidade, mas não é descartada a possibilidade de episódios traumáticos na infância exercerem também um papel neste processo e com reflexo na vida adulta. A especialista alerta, porém, para a necessidade de uma maior amostra para poder estabelecer a correlação. Para já, estes resultados foram apresentados na 35ª conferência anual do Colégio Europeu de Neuropsicofarmacologia, que está decorrer em Viena, Áustria e termina esta terça-feira, 18 de outubro.