Homem regou namorada com inflamáveis e ateou-lhe fogo. Ela dormia

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Ele tem 33 anos, ela 19. O homem regou a namorada com diluente e gasolina enquanto esta dormia, tendo-lhe depois ateado fogo. A confirmação, feita ao DN pelo comandante dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém, refere que a vítima ficou “em estado grave” com queimaduras no corpo e rosto. A conferência de imprensa, marcada para as 12.00 horas desta quarta-feira, 19 de fevereiro, deverá apresentar mais detalhes sobre este crime.

Segundo avança o mesmo jornal (que pode ler aqui), o agressor foi detido pela Polícia de Segurança Pública do Cacém. Já a rapariga foi encaminhada para o Hospital Amadora-Sintra, transportada depois para o São Francisco Xavier e reencaminhada depois para a unidade de Queimados do Hospital de Coimbra. O caso ocorreu na noite de terça-feira, 18 de fevereiro, tendo o alerta sido dado já depois da meia-noite.

540 mulheres mortas desde 2005

Os números são impressionantes e não param de subir. Desde a violência que chega ainda no namoro até casos reportados entre casais octogenários – e que tiveram lugar já este ano, ainda a menos do fim do segundo mês -, os dados deste crime público mostram-se verdadeiramente assustadores.

Desde que se começaram a registar estes casos, em 2005, já somam mais de 540 mulheres mortas, segundo números do movimento feminista 08 de Março. O ano passado veio carregado de más notícias com o registo de aumento de número de mortes de mulheres, que sucumbiram às mãos dos companheiros, contando-se 28 casos.

Recentemente, o Dia dos Namorados, 14 de fevereiro, foi palco de eleição para voltar a abordar a problemática da violência em contexto de intimidade, em particular quando começa logo nos primeiros momentos da relação. Nesse dia, o Observatório da Violência no Namoro (ObVN) recebeu em 2019 um total de 74 denuncias de situações de violência no namoro vividas diretamente ou testemunhadas por terceiros, o que corresponde a uma média mensal de cerca de 6,2 casos.

Apesar de o número de denúncias ter decrescido relativamente a 2018, o observatório considera que os casos reportados apresentaram maior gravidade. Em 2018, foram recebidas 128 denúncias de vítimas e de testemunhas de violência.

De acordo com a esta plataforma de denúncia informal, 38 denuncias foram efetuadas por ex-vítimas, 28 por testemunhas e oito por atuais vítimas. Em 77% dos casos os agressores são namorados atuais das vítimas, em 12,2% dos casos as vítimas foram alvo de ameaças de morte, 13,5% das vítimas necessitaram de receber tratamento médico e 1,4% foram hospitalizadas em consequência da vitimação sofrida.

O ciúme (70,3%) foi a principal causa da violência seguida de problemas mentais do agressor (40,5%). Mas, os dados revelam que os casos de violência surgiram também na sequência de problemas familiares do agressor (25,7%), da conduta da vítima (23%), da influência dos amigos (18,9%), do consumo de álcool ou de outras substâncias por parte do agressor (14,9%) e de dificuldades económicas de quem agrediu (13,5%).

O observatório revela ainda que 71 denúncias foram efetuadas por mulheres e três por homens.

Mulheres são as sempre as principais vítimas

Segundo o estudo, 95,9% das vítimas são do sexo feminino e 91,9% dos agressores são do sexo masculino.A média de idades das vítimas é de 21 anos e a dos agressores é de 23 anos.

Ainda segundo o observatório, 94,6% das vítimas são de nacionalidade portuguesa, 87,8% são heterossexuais e 66,2% são estudantes.

O local de maior incidência da violência é a casa (62,2%), seguido da rua (48,6%), da escola/faculdade (36,5%) e em 29,7% dos casos a violência foi praticada online.

As tipologias de violência mais prevalentes são a violência verbal (87,8%), seguida da violência psicológica (75,7%), do controlo (64,9%), da perseguição (35,1%), da violência social (32,4%) e, por fim, da violência física e sexual (27%). Em 73% das situações denunciadas não foi apresentada queixa às autoridades competentes.

O ObVN é uma iniciativa da Associação Plano i no âmbito do Programa UNi+, financiado pela Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade (1.ª e 2.ª edições) e pelo Fundo Social Europeu no âmbito do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego POISE do Portugal 2020 (3.ª edição).