Ele diz que adora as mulheres, mas volta a prejudicá-las!

Trump_Reuters

A ocasião era de celebração: estávamos em vésperas de evocar o dia da igualdade salarial, mas o presidente dos EUA tomou nova medida que piora a vida delas. Nem o trabalho de Ivanka está a ajudar à festa.

A uma semana de se comemorar o dia da Igualdade Salarial (o Equal Pay Day, 4 de abril) nos Estados Unidos da América, Donald Trump revogou uma ordem executiva que tinha por objetivo proteger os trabalhadores dos empregadores federais.

The Fair Pay and Safe Workplaces Executive Order (a ordem executiva pelo Pagamento Justo e Seguro nos Locais de Trabalho, em tradução literal, aplicada em 2014) veio determinar que cada empresa que se quisesse concorrer a um contrato federal de, pelo menos, 500 mil dólares (470 mil euros) era obrigada a, entre outras especificações, divulgar violações do direito laboral cometidas nos últimos três anos, o que incluía as alegações por assédio.

Esta disposição legal também obrigava os empregadores a comunicar a escala de pagamentos e salários dos trabalhadores, obrigando as empresas a uma maior transparência e destapando as que promoviam a desigualdade.

Uma tomada de posição que chegou dias antes da evocação da Igualdade Salarial, curiosamente a primeira matéria pela qual Ivanka Trump, agora nomeada Primeira Filha, tomou partido.


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Nas páginas pessoais das redes sociais Instagram e Twitter, a filha do presidente dos EUA publicou um gráfico do USA Today onde ficava claro as estatísticas relativas ao salário igual, acrescentando: “As mulheres ganham 82% do salário semanal a tempo inteiro de um homem branco, as negras ganham 68% e as latinas 62%.”

É de notar, também, que Donald Trump revogou a norma aplicada na anterior administração, por Barack Obama, dias depois de ter dito publicamente que as mulheres eram muito importantes e centrais para voltar a transformar a “América Grande de Novo”. O slogan, recorde-se, da campanha presidencial do multi-milionário.

Então, a 31 de março, no âmbito de uma iniciativa levada a cabo na Casa Branca e em torno do Empoderamento das Mulheres – onde esteve Melania Trump, primeira-dama -, o chefe de Estado dos EUA veio declarar que “somente convocando todo o potencial das mulheres que existe na sociedade norte-americana é que é possível voltar a fazer uma Grande América de novo”.

Vítimas vão ficar silenciadas

De acordo com esta nova revogação assinada pelo presidente republicano, a estação televisiva noticiosa norte-americana NBC News, veio sublinhar que a nova norma vem reverter disposições legais que vão afetar sobretudo as mulheres.

Aquela ordem, definida na administração de Obama, vinha proibir o silêncio em torno das cláusulas de arbitragem forçadas em alegados casos de assédio sexual, violação ou discriminação. Elementos que até constavam nos contratos de trabalho, mas no domínio privado entre as partes e longe dos registos oficiais públicos.


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Obama pretendeu assim trazer estas matérias para o público, responsabilizando as companhias que incluíam aquelas cláusulas nos contratos, uma prática que vinha a ser incrementada nas empresas privadas, e afastando-as do acesso a contratos federais.

“Aquelas regras, muitas vezes, ajudam a esconder as queixas por assédio e pode silenciar as vítimas”, explica à NBC News a diretora para a Igualdade no Trabalho, do Centro Nacional pelo Direito das Mulheres.

“Elas podem vir a temer represálias ou evitar seguir em frente por considerarem que são as únicas”.


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O presidente republicano revogou a norma e encaminhou-a diretamente para o Departamento de Trabalho e agências executivas do setor com a recomendação de rescindir “quaisquer ordens, regras, regulamentos, orientações, diretrizes ou políticas de implementação ou execução” que estivessem em vigor.

Imagem de destaque:Jonathan Ernst/Reuters