Assunção Cristas e Catarina Martins querem igualdade mas seguem caminhos opostos

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Assunção Cristas, presidente do CDS-PP, e Catarina Martins, coordenadora do Bloco de Esquerda [Fotografia: Paulo Spranger e Reinaldo Rodrigues/Global Imagens/montagem]

Duas mulheres, duas líderes partidárias na corrida às eleições legislativas de outubro e um tema impossível de ficar de lado: a igualdade. Os caminhos, porém, defendidos por Assunção Cristas, presidente do CDS-PP, e Catarina Martins, coordenadora do BE, para atingir esse equilíbrio não podiam ser mais diferentes.

“É preciso criar condições para reequilibrar os papéis das mulheres e homens por via da licença de parentalidade e um ano flexível extensível para pais mães e avós, o smartwoking e o trabalho a partir de casa, numa vida familiar que pesa mais sobre as mulheres”, enumera Cristas.

Catarina Martins pede “políticas sérias, à esquerda, de proteção de direitos de trabalho que protejam as mulheres, serviços públicos capazes – elas têm tanta vez que cuidar da da família muita vezes da família”. E, prossegue: “sem termos essa capacidade de investimento nos serviços públicos e em todo o território, aliado, a leis do trabalho fortes não vamos conseguir combater a desigualdade”.

Um debate de ideias – que teve lugar na RTP3, esta terça-feira, 3 de setembro – que, neste tema, não esqueceu o papel da justiça, a violência e os acórdãos de tribunal “aboslutamente chocantes”, apontados pela líder do BE, e a “baixa de salários, que atinge sobretudo as mulheres”, vincada por Cristas.

A presidente do CDS-PP acusou inclusivamente o Bloco de querer, segundo o programa, taxar com IRS os salários mínimos – que atinge sobretudo as mulheres. Catarina Martins reagiu e pediu a Cristas que olhasse com maias atenção para as propostas.

Discordância absooluta nas políticas fiscais e impostos

Num debate de pouco mais de 30 minutos, Catarina Martins apontou ao “aumento brutal de impostos” que o ex-ministro das Finanças Carlos Gaspar, do anterior Governo PSD/CDS, ao que Assunção Cristas respondeu que o atual executivo, apoiado pelo BE, é “culpado” da “maior carga fiscal de sempre” no país

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O tom da conversa, moderada pelo jornalista António José Teixeira, foi cordato, mas uma e outra preparou argumentos para responder, a partir dos programas eleitorais, reconhecendo, ambas, que “não há muitos pontos de contacto” entre as duas formações que lideram, uma à esquerda, outra à direita.

No programa eleitoral do BE, Cristas – tal como Catarina, quase sempre sorridente – afirmou ver um “aumento da carga fiscal” e até o fim de isenções fiscais justas para, por exemplo, casais que trocam de casa e passariam a ter de pagar mais-valias, ao contrário do que acontece agora.

Catarina Martins aconselhou a sua adversária a “ler melhor” o que os bloquistas propõem, e recordou, sem se referir diretamente ao Governo minoritário do PS que o BE apoiou, que nos últimos quatro anos foi necessário “desfazer o ‘enorme aumento de impostos'” do anterior executivo de direita.

“Não sei que famílias a dra. Assunção Cristas conhece, mas as que eu conheço estão a pagar menos impostos”, e “quem ganha dinheiro do seu salário, não o põe em ‘offshore'”, atirou a líder bloquista, para quem o CDS defende uma “economia de ‘offshore'” Ao que Cristas ripostou com o argumento de que não é possível comparar os “tempos de excecionalidade” do Governo PSD/CDS, sob intervenção da “troika”, com os tempos atuais.

“O aumento de impostos de Vítor Gaspar foi revogado pela carga fiscal máxima de Mário Centeno, do seu governo, do governo que o Bloco de Esquerda apoia”, disse. Se a “receita fiscal aumentou”, argumentou a dirigente bloquista, foi porque “a economia está melhor” e, nos últimos quatro anos, o “rendimento disponível aumentou 8,2%” em Portugal, acima da média da OCDE.

Ao longo de mais de 30 minutos, as lideres do CDS e do BE estiveram de acordo, em questões de principio, como o ambiente, alterações climáticas ou a igualdade de género, mas divergiram logo a seguir quanto às propostas que defendem.

Enquanto a líder do CDS pôs a ênfase, por exemplo, no aumento, até um ano, da licença de parentalidade, como é proposto no programa eleitoral centrista, já a coordenadora do Bloco sublinhou a necessidade de ter leis laborais que protejam a mulher.

Mais um tema de desacordo quanto às políticas a seguir foi o do investimento, em que Assunção Cristas defendeu maior investimento privado, enquanto Catarina Martins seguiu as propostas do manifesto eleitoral bloquista, para que seja possível existirem 100 mil novas casas para arrendamento. “Ou o país investe ou não resolvermos os problemas que temos”, afirmou Catarina Martins.

O único momento que revelou alguma tensão entre as duas líderes foi quando Catarina Martins que recordou a “amnistia fiscal de Paulo Núncio”, ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais no Governo anterior, o que valeu a acusação de Cristas de o BE usar este tipo de temas como “uma espécie de superioridade moral” sobre os adversários.

Os “duelos” televisivos entre os líderes dos partidos com representação parlamentar começaram na segunda-feira e prolongam-se até dia 23 de setembro, estando previsto um debate entre todos os partidos concorrentes. As eleições legislativas estão marcadas para 6 de outubro.

CB com Lusa

Imagem de destaque: DR

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