Eles criaram um clube feminista dentro de uma escola só de rapazes

Matias Benitez estava a conversar com a sua irmã, há cerca de um ano, quando a ideia de criar um clube feminista dentro de uma escola só para rapazes apareceu. A sua irmã estava justamente a contar-lhe sobre um clube feminista no qual havia entrado recentemente e afirmou que, mesmo sendo numa escola pública, só haviam raparigas inscritas.

“Seria uma loucura se a escola Regis tivesse um clube destes?”, terá questionado a irmã, segundo contou ao Washington Post. A escola Regis é uma Escola Secundária Católica, em Manhattan, Nova Iorque. Foi então que Matias se recordou de um discurso que ouvira de Emma Watson, na campanha HeforShe, em que a atriz incitava os homens e jovens a ser defensores da igualdade de género.

Uma ideia disparatada ou um avanço na mentalidade dos jovens?

A ideia de criar um clube feminista parecia disparatada, ainda assim, o jovem mandou mensagem a um amigo e começou o seu plano. “Deveríamos criar uma sociedade de ele por ela”, escreveu Matias ao amigo. “Que ótima ideia“, terá respondido o parceiro. Os jovens talvez nunca tivessem acreditado que o seu clube se iria tornar tão relevante, mas a verdade é que o escândalo #Metoo, que foi assunto em todos os meios de comunicação mundiais, veio provar o contrário.

Para ambos os jovens, de 17 e 16 anos, a solução para conseguirem abordar temas complexos como a masculinidade tóxica, assédio ou igualdade de género, foi criar um grupo entre rapazes adolescentes. A intenção era mudar a mentalidade dos seus colegas e fazê-los ver que o feminismo não tem que ser só uma temática para mulheres. Deste modo, acabaram mesmo por preencher uma lacuna no ensino – que raramente fala sobre a história da mulher ou problemas de género, especialmente em escolas só de rapazes.

“As pessoas pensam que isto [o feminismo] é um movimento de mulheres para mulheres” disse o jovem ao Washington Post, “mas não é suposto ser assim. Nós não conseguimos fazer uma diferença real a menos que estejamos todos envolvidos”, continuou Matias.

O clube, criado há cerca de um ano, dá pelo nome de HeForShe (tal como o movimento da ONU, criado em 2014, do qual Emma Watson faz parte e que também existe em Portugal) e realiza reuniões semanais onde vários são os rapazes intervenientes. Nas reuniões, os jovens acabam todos por discutir sobre os assuntos e notícias do dia, que envolvam a temática proposta.

No Twitter, Têm surgido várias mensagens de apoio ao clube criado pelos dois adolescentes, desde que a reportagem do jornal americano foi publicada.

Mais do que um clube, um movimento

No início, os dois jovens estavam com receio que a ideia não fosse bem aceite e fosse vista com ceticismo por parte daqueles que consideram que os rapazes não se devem envolver no feminismo. Pelo contrário, tanto os administradores da sua escola como da escola feminina, da mesma instituição católica, bem como um grupo de raparigas alunas desta, adorou a ideia e aderiu ao movimento.

Quando os rapazes descobriram que, num concurso de dança – em que participaram várias escolas de ambos os sexos -, que várias raparigas tinham sido tocadas inapropriadamente e contra a sua vontade, juntaram esforços para criar debates em torno no tema e tentar mudar a mentalidade dos jovens que poderiam ter este tipo de comportamento.
Para Christian Mariano, diretor assistente da vida estudantil da escola, estas conversas de grupo tiveram um grande efeito em todos os alunos. Todos os anos, a escola escolhe um tópico grande de debate, que é a chave principal das reuniões e debates, e que acaba por envolver todos os alunos.
Em janeiro de 2019, os dois jovens lideraram um grupo de rapazes do ensino secundário na Marcha das Mulheres, em Nova Iorque, e estão também a planear fazer uma noite de quizzes em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março. No final do mês, Matt e Matias planeiam ainda participar na Comissão das Nações Unidas sobre o estatuto das mulheres.
Na galeria de imagens acima estão oito formas de ser feminista.

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