Elizabeth Kekcley: De escrava a costureira de sucesso

elizabeth
[Fotografia: iStock]

No dia da tomada de posse de Abraham Lincoln como presidente dos Estados Unidos da América, em 1861, a sua esposa, Mary Todd Lincoln, estava a conhecer Elisabeth Keckley, a escrava que viria a tornar-se a costureira oficial da primeira-dama.

No seu livro de memórias “Trinta Anos de Escravidão e Quatro na Casa Branca“, Elizabeth Keckley relata a sua vida de escrava até passar a viver na Casa Branca.

Elizabeth Keckley foi pioneira na história da moda americana. Ela conseguiu e passou a administrar uma empresa onde mais de 20 pessoas trabalhavam. Um feito raro na época, para uma mulher. Muito menos para uma mãe solteira, negra e ex-escrava. O seu talento, determinação e habilidades de tecelagem renderam-lhe a posição mais desejada: vestir a primeira-dama.

Mas Elizabeth Keckley não era só a costureira mais influente da época. Num período em que era ilegal para uma escrava negra aprender a ler, ela também se tornou escritora e ativista, apoiando muitos dos negros que foram para Washington para escapar à escravidão.

“Fui criada para ser resiliente. Ensinaram-me a confiar em mim mesma e a estar sempre pronta para ajudar os outros. Acredito que o desenvolvimento desses valores foi o que me permitiu triunfar sobre tantas dificuldades”, refletiu a costureira no mesmo livro.

Elizabeth Keckley aprendeu a costurar com a mãe, mas tinha um talento inato para saber o que era mais adequado para as mulheres. Nos mesmos anos em que Charles Worth inventou o comércio de costura em Paris, Elizabeth Keckley, já em Washington, escapou aos limites do comércio de costureira, aconselhando as suas clientes sobre estilos e cortes.

Numa época em que o maximalismo triunfava, as criações de Elizabeth Keckley eram caracterizadas por uma sobriedade elegante que dava foco ao corte.

Elizabeth Way, pesquisadora do Smithsonian, afirma que “o estilo de Elizabeth era muito minimalista e sofisticado, algo que as pessoas geralmente não associam à era vitoriana” acrescentando que “os vestidos de Elizabeth Keckley eram conhecidos por serem muito caros e eram invejados por todos”

View this post on Instagram

In honor of Juneteenth, check out this stunning purple velvet dress designed by Elizabeth Keckley, a former slave who became the lead dressmaker for the First Lady, Mary Todd Lincoln. We analyze how it compares to trends of the time–link in bio to read more! #fashionhistory #elizabethkeckley #marylincoln

A post shared by Fashion History Timeline (@fitfashionhistory) on

Elizabeth Keckley tornou-se uma das primeiras afro-americanas a publicar um livro três anos após o assassinato de Abraham Lincoln.

O seu relato, que hoje é considerado o testemunho mais valioso sobre a vida doméstica do presidente, não foi recebido com entusiasmo. Pelo contrário, foi considerado o abuso de uma mulher negra que assumiu muitas liberdades.

O The New York Times escreveu sobre o livro que “não podemos deixar de qualificar muitas das divulgações feitas neste volume como graves violações de confiança”.

Depois do livro, a costureira dedicou-se ao ensino, negociando com dezenas de jovens negras que, como ela, acabavam de escapar da escravidão.

Elizabeth Keckley morreu em 1907, assim como havia nascido, sem nada, num dos abrigos que ajudara a construir durante a Guerra Civil.

Nos seus 89 anos de vida, a costureira desafiou todas as barreiras e, com a sua audácia, mudou a história da moda e a história em geral.