Envia ‘nudes’ e acha que domina os truques de segurança? Tem mesmo de ler isto, já!

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[Fotografia: Denise Duplinski/Pexels]

Quem nunca pensou enviar ou mesmo enviou imagens íntimas via online? Apesar de não faltarem recomendações no sentido de não fazer esse mesmo envio, por risco de exposição de intimidade e por não se controlar o destino das fotografias, a verdade é que a prática pode ser bem mais comum do que o que se pensa.

Aliás, um estudo sobre violência sexual online da Universidade do Porto, publicado em fevereiro do ano passado, deixava claro que mais de metade dos alunos (52.2%) que enviou fotos íntimas não tinha noção dos riscos em que incorria. Mais: Quase 9% dos mais de 500 inquiridos foi “alvo de ameaças” após envio e cerca de 5% viu as fotografias que enviou serem reencaminhadas para outros elementos fora do contexto do envio inicial e sem o seu consentimento.

Sabendo que o risco é pesado, muitos creem que existem mecanismos de controlo das imagens que se enviam, garantindo que elas não terão outros destinatários ou outros usos que não o seu propósito inicial. Pois, nada mais falso.

Ao Delas.pt, Paulo Rossas desmonta a alegada fiabilidade de todos os truques – um a um – para lembrar que não há segurança, muito menos controlo sobre imagens e textos (conhecido por sexting) e que se enviam entre os elementos da relação. “A partir do momento em que enviamos a foto, perdemos o controlo dessa mesma foto. Nada é seguro e ninguém pode garantir que esta foto vai estar em segurança. Nenhuma plataforma e nenhuma pessoa consegue garantir isso mesmo”, vinca o responsável pela inovação na Lisbon Digital School.

Mas sendo a tentação gigante, com amplo risco de a grande maioria negar fazê-lo, o especialista deixa também algumas “regras de proteção” que podem evitar danos de grandes dimensões. Mas, como sublinha o chief Innovation Officer, “a única segurança que existe é não enviar”.

Veja abaixo os quatro mitos mais comuns nas redes sociais que, afinal, não garantem segurança nenhuma.

Enviar mensagens que se autodestroem no Telegram é seguro?

É mito, é falso. “O Reddit está cheio de histórias de pessoas que enviaram fotos no Telegram e que foram parar em todo o lado. Existem softwares que gravam os ecrãs. Existem softwares que captam imagens. Tudo gratuito. As imagens até podem ficar guardadas no telemóvel”, explica Paulo Rossas.

Enviar mensagens no Whatsapp de visualização única e que se autodestroem é seguro?

É mito, é falso. O diretor de Inovação responde com o “screen recording”. “Aplicações que guardam fotos, pessoas que tiram fotos aos telemóveis, há de tudo. Nada é seguro, quem recebe pode guardar tudo”, informa

O Tinder é mais seguro que outra plataforma?
É mito, é falso. “É igual como qualquer outra plataforma que se use para conhecer, conversar e até marcar encontros. A diferença é que no Tinder, todos sabemos porque estamos ali”, refere.

Tenho álbuns privados no Facebook e só eu tenho acesso. Estou salvaguardada?
É mito, é falso. “As fotos estão nas redes sociais e, provavelmente, vão ser usadas noutros contextos que nunca saberão. Não controlamos nada nas redes sociais. Nada é privado”, volta a insistir Paulo Rossas.

Paulo Rossas, chief Innovation Officer, na Lisbon Digital School [Fotografia: DR]
Paulo Rossas, chief Innovation Officer, na Lisbon Digital School [Fotografia: DR]
Sobre as regras que podem conferir alguma proteção, mas que não põem ninguém garantidamente a salvo, Paulo Rossas deixa “oito recomendações” quer para nudes, quer para sexting e uma advertência: “Começamos pelo mais básico e este vem de formação humana e de lei. Se uma das pessoas é menor: não enviar, não receber, não guardar, não partilhar, não nada.”

Regra 1: “Nunca enviamos ambas. Podemos achar que aquela pessoa é fantástica e que nunca vai partilhar, o mais certo é partilhar. Não enviar cara e corpo. Ou cara, ou corpo”, avisa. Dentro desta recomendação, o diretor de inovação na Lisbon Digital School recomenda que “nunca sejam tiradas fotos no mesmo local ou que possam identificar ambientes”. Opte-se por “locais neutros que podem ser em qualquer país, qualquer casa do mundo”.

Regra 2: “Esconder tatuagens, marcas características como o cabelo único e peculiar ou então sinais de nascença. Muito importante esconder todas estas marcas porque são, muito nossas”.

Regra 3: “Desligar sempre os serviços de partilha de fotos da Cloud quando estamos a tirar este tipo de fotos. Porque desta forma elas podem ir parar ao Google Photos ou iCloud Photos e esquecemo-nos que ficaram por ali, para sempre”, alerta.

Regra 4: “Não guardar fotos sensíveis no telemóvel. É um momento que se vive que termina e apagamos. Guardar é mais uma forma de alguém ficar com as fotos caso o nosso telemóvel seja roubado ou alguém o use”, avisa Paulo Rossas.

Regra 5: “Uma foto do corpo é um pedaço da pessoa, é preciso decidir muito bem com quem se vai partilhar. O que vai acontecer a essa foto depois de carregar em “enviar”, não depende apenas de quem envia, tem de ser um esforço a dois. Os envolvidos precisam de estar em sintonia”, recomenda.

Regra 6: “The Finger – The Rock Hand”. O que é isso? “Sempre que se enviar uma foto, colocar um elemento de #NoBullshiting. Uma “marca de água”. Esse é o elemento que faz com que as pessoas não queiram partilhar a foto com amigos, tudo porque retira a carga sensível da mesma”.

Regra 7: “Se enviares eu também envio.” “Bandeiras vermelhas precisam sempre de ser levantadas quando alguém nos diz isto. Ponderem bem se querem mesmo enviar a esta pessoa”, avança Paulo Rossas. A decisão tem de ser tomada em espaço de liberdade e não em coação.

Regra 8: “Trocar as nudes por sexting e com emojis. Um [emoji] vale por mil palavras”, recomenda o responsável.