Equipa feminina de gaming: “Infelizmente o CS ainda não dá dinheiro às mulheres”

XF Iberia

Este fim de semana vai fazer-se história. O evento Worten Game City, que decorre na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até ao dia 2 de junho, vai ser palco do primeiro confronto de duas equipas femininas de CS:GO, um clássico jogo de tiros. A equipa WGR XF Iberia Female é formada por cinco mulheres, três do Porto e duas de Lisboa.

A porta-voz da equipa é Ana Filipa Pereira, de 27 anos. No jogo é conhecida por “hit”. Desde criança que joga PlayStation e Nintendo com os primos, mas aos 17 anos descobriu o computador e foi nessa altura que começou a jogar CS.

Hoje trabalha com o pai, com quem tem uma empresa de peças de automóvel, mas sempre que pode joga CS com as amigas, que são também suas colegas de equipa na WGR XF Iberia Female.

Ana Hit Pereira
Ana Filipa Pereira

“Todas nós temos uma relação fora do jogo, vamos sair e fazemos outras coisas juntas. Somos um grupo de amigas e cada vez mais valorizamos isso“, explica ao Delas.pt Ana Filipa Pereira.

Nesta equipa ninguém vive só dos videojogos. Essa é uma realidade ainda distante para as gamers portuguesas.

“Infelizmente o CS ainda não dá dinheiro às mulheres. Cada vez mais temos equipas portuguesas masculinas a receber. Há rapazes que tiram mais do que um ordenado mínimo nacional, mas para as raparigas essa realidade ainda está a anos-luz. A nível internacional existem apenas quatro equipas femininas a ganhar um ordenado“, sublinha a gamer.

Como têm de conciliar este passatempo com os empregos e diferentes horários de cada uma, não conseguem jogar juntas todos os dias, mas tentam fazê-lo pelo menos quatro vezes por semana, para manter o ritmo.

Jogamos sempre à noite, começamos por volta das 21h00 e acabamos à meia-noite. Não é todos os dias da semana, mas pelo menos três vezes conseguimos jogar”, afirma Ana Filipa Pereira.

Este jogo que vão disputar no sábado, na Worten Game City, já é uma vitória para estas mulheres portuguesas num mundo dominado por homens. Apenas 35% dos jogadores de títulos considerados de Esports de consola ou computador são mulheres e os maiores jogos de Esports têm um envolvimento feminino muito baixo: CS:GO com 24% de mulheres, DOTA 2 com 20%, Hearthstone com 26%, Rainbow 6: Siege com 23% e Overwatch com 26% de mulheres.

“Tem extrema importância, é uma meta atingida. Já jogo há muito tempo, joguei em torneios no estrangeiro com raparigas, onde jogamos todas em direto, mas aqui em Portugal não me recordo de alguma vez ter existido um confronto de duas equipas femininas“, disse a porta-voz da WGR XF Iberia Female.

Marta Amorim, de 30 anos, é outro dos elementos da equipa. Trabalha como enfermeira e foi quando teve de ir trabalhar para Londres que começou a jogar mais. Passava muitas horas sozinha e precisava de ocupar o tempo. Ao Delas.pt revelou que os homens não lidam muito bem com o facto de haver torneios só para mulheres, uma vez que elas também podem participar nos mistos. No entanto, afirma que é necessário existir essa separação.

Marta Amorim, 30 anos

“Sentimos que, por sermos mulheres, não sermos levadas tão a sério e termos de trabalhar, não conseguimos treinar tanto e por isso não estamos ao nível deles. Precisamos destes torneios para nos mostrarmos, tentar que as organizações apostem em nós e que percebam que conseguimos trabalhar como os rapazes e somos tão ou mais sérias que eles”, diz Marta Amorim.

Até porque, pela experiência desta gamer que joga desde os 16 anos, “o que um homem consegue fazer dentro do jogo a mulher também consegue, mas neste momento é muito mais fácil para uma equipa masculina receber dinheiro, enquanto uma equipa feminina só serve para marketing”.

Vai poder jogar contra estes famosos na Worten Game City