Esclerose múltipla: a felicidade é fundamental para o bem-estar dos doentes

Telma Teles, 35 anos, diagnosticada com Esclerose Múltipla (EM) em 2015, conta ao Delas.pt como é que é viver com esta doença degenerativa e, mesmo assim, ser feliz. Explicou que, se antes de ser diagnosticada não sabia a razão pela qual o seu corpo nunca lhe respondia como queria, agora já sabe. Uma autoconsciência que a deixa “mais feliz agora”, mas que a leva a reconhecer que ser mulher com EM significa “ver muitas portas fechadas”.

“Não só por ser mulher, que isso já é muitas vezes mais complicado, mas sê-lo com esclerose múltipla: as portas fecham-se muito mais rapidamente”, conta.

No dia Mundial da Felicidade, que se assinala esta quarta-feira, dia 20 de março, a Sanofi Genzyme, empresa farmacêutica, em parceria com a plataforma Happify, irá lança um estudo-piloto dedicado às pessoas com Esclerose Múltipla (EM), de forma a entender qual a importância da felicidade nas suas vidas.

Uma análise que recrutará doentes de todo o mundo para avaliar o impacto da felicidade e bem-estar nas pessoas com Esclerose Múltipla. Para Portugal, “é um privilégio poder contar com a comunidade da EM portuguesa, num estudo-piloto de dimensão internacional”, lê-se no comunicado de imprensa enviado.

“Não só por ser mulher, que isso já é muitas vezes mais complicado, mas sê-lo com esclerose múltipla: as portas fecham-se muito mais rapidamente”

Cerca de 60% das pessoas com a doença reportam níveis altos de stress, fadiga, ansiedade ou depressão. Nesse sentido e de acordo com a informação veiculada, os utilizadores que se inscrevam nesta investigação internacional – através do Facebook e Instagram – terão acesso a mais de 300 meditações guiadas, 60 programas sobre vários tópicos, mais de três mil jogos e atividades baseadas na ciência para ajudar os portadores de EM. Possibilidades a que podem aceder os mais de oito mil portugueses que vivem e convivem com esta doença.

Telma Teles, 35 anos e há quatro com a doença diagnosticada

Demonstrar que a felicidade ou os pensamentos positivos são importantes também para uma melhor gestão da doença e para melhores resultados de qualidade de vida, é um dos principais objetivos deste teste, que vai ter uma duração de quatro meses, e do qual se esperam “resultados significativos em maio de 2019”, afirma o comunicado. Para Telma, de 35 anos e que vive com a doença há quatro, a felicidade pode ajudar “em tudo, e não só a pessoas que tenham a doença”, explica ao Delas.pt.

“Não é bom para a saúde estar sempre com altos níveis de stress e depressão. A questão é que, enquanto portadores de esclerose múltipla e por inerência da doença, já temos uma carga de cansaço, de exaustão que é anormal”, desabafou Telma.

Ao Delas.pt esta alentejana, a viver em Olhão, começou por contar que existem muitas pessoas que não entendem bem o motivo pelo qual afirma que é mais feliz agora. Mas, com boa disposição e força na voz, conta que antigamente nunca percebia o porquê de o seu corpo não reagir da mesma forma que as outras pessoas. Achava apenas que “era preguiçosa”. A partir do momento em que foi diagnosticada com EM, começou a entender o seu corpo de outra forma e a reposicionar as suas prioridades. Por isso, afirma que “é mais feliz agora”.

“achava que realmente havia qualquer coisa que não era normal, mas sempre pensei que fosse preguiçosa, ou algo que não sabia explicar”

Desde que foi diagnosticada com a doença, Telma começou a perceber melhor o seu corpo e a entender as razões pelas quais, muitas vezes, ele não lhe respondia como queria. E, desde que descobriu que tem EM, mudou “radicalmente” a sua vida: procurou uma nutricionista, perdeu o peso que tinha a mais, despediu-se do trabalho que não a fazia feliz, começou a praticar exercício físico e vê hoje a vida de outra forma.

“A verdade é que tive mais oportunidades desde que tenho esclerose múltipla. Isto é difícil de explicar, mas nós só temos duas hipóteses: ou deixamo-nos estar, e apenas existimos, ou fazemos a parte mais difícil, que é arregaçar as mangas e começar a lutar”, disse Telma, determinada.

Quando questionada sobre as principais dificuldades sentidas, sendo mulher, mãe e portadora da EM, a primeira resposta foi rápida: “Em primeiro lugar, a nível do mercado de trabalho”, reage.

Em segundo, Telma afirma ainda que continua a existir “um estigma, preconceito e rótulo de que a mulher tem que ser capaz de fazer tudo”. “Ela tem de ser capaz de tomar conta do marido, da casa, dos filhos. E a verdade é que, felizmente, as coisas estão a alterar-se, já começamos a ter outra mentalidade, mas esta ainda está muito enraizada”, continua.

A conta de Instagram de Telma que pode e deve visitar

Telma Teles tem esclerose múltipla desde 2015 e tem aproveitado a sua conta de Instagram para ajudar outras mulheres. Com mais de mil seguidores, partilha o seu dia-a-dia nas redes sociais e admite que tem um grupo de, pelo menos, seis mulheres com EM com quem fala diariamente. Ajudam-se, apoiam-se e motivam-se.

Sobre conselhos e dicas a outras mulheres, Telma volta a reforçar a ideia do cuidado alimentar, exercício físico e de “respeitarmos o nosso corpo e o nosso bem-estar”. Pede ainda para que as mulheres não escondam que têm a doença, mesmo que isso implique perder os seus trabalhos.

“Já me chegaram dois casos de mulheres que foram despedidas porque disseram que tinham esclerose múltipla, e essa é uma razão pela qual muitas delas escondem que têm a doença. Não é fácil dizer que se tem esclerose múltipla, porque a probabilidade de verem fechada uma porta do mercado de trabalho é de 80%“, refere.

“Temos que superar barreiras. Quebrar o preconceito que existe. Temos que informar as pessoas”

“Mas não escondam. Porque temos que superar barreiras. Quebrar o preconceito que existe. Temos que informar as pessoas”, pede. Percorra a galeria de imagens e conheça os principais sintomas desta doença, que tem uma maior incidência em mulheres.

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