Uma alimentação pobre em vitamina C pode causar, entre outros problemas de saúde graves, escorbuto, uma doença muito comum nos marinheiros no século XVI ou XVIII que, por via de longas permanências no mar, não tinham acesso a alimentação diversificada.
Mas o que se considerava praticamente extinto há séculos regressa agora aos consultórios, em especial aos dos pediatras, que estão a identificar a doença em bebés, crianças e adolescentes.
Publicado na revista The Lancet, França está a registar um aumento de escorbuto e os investigadores estimam duas causas: “desnutrição grave pós-COVID-19, associados à inflação e à instabilidade socioeconómica, enfatizando a necessidade urgente de suporte nutricional direcionado para populações pediátricas em risco”, lê-se na breve conclusão disponível para já.
Segundo a análise (que pode ser lida no original aqui), que compilou dados entre janeiro de 2015 e novembro de 2023, foram hospitalizadas 888 crianças com escorbuto, com uma média de idades de 11 anos.
Para lá do território francês, cuja prevalência da doença está a acelerar, foram também já identificados casos no Reino Unido e na Suíça nos anos mais recentes.
E se a falta de recursos é uma das razões, outra que é apontada passa pela oferta de uma alimentação desequilibrada. Citado pelo jornal francês Libération foi também detetado, por exemplo, um caso extremo de um adolescente que não conseguia dobrar as pernas e estava, há meses, numa cadeira de rodas. Bastou uma terapêutica baseada em vitamina C para conseguir recuperar a autonomia sem sequelas. Mas como chegou até ali? “Só comia massa e iogurtes”, afirmou, citado pelo diário francês, o chefe do departamento de pediatria geral no Hospital Universitário de Montpellier, Eric Jeziorski.
Para conseguir obter vitamina C é preciso consumir alimentos ricos como frutas cítricas, batata, espinafres e outros legumes verdes, sendo que a doença se manifesta, em média, ao fim de três meses de baixíssimo (menos de 10 mg de vitamina) ou nenhuma ingestão da vitamina.