Especialistas dão palpites sobre o regresso dos concertos

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A pandemia da Covid-19 mudou drasticamente a nossa vida e todos queremos voltar à normalidade rapidamente, mas as coisas podem não ser assim tão fáceis e lineares. Os concertos são uma das atividades mais perigosas em tempo de contágio e os especialistas dão palpites sobre quando poderão voltar a existir.

Todos queremos de volta os festivais de verão, os jantares em grupo e uma rotina de trabalho que não implique teletrabalho e distanciamento social constante. Mas já vários especialistas disseram que, mesmo depois da vacina, ainda vão existir largos meses em que as máscaras de proteção individual vão continuar a ser uma realidade.

Durante a pandemia trocámos os restaurantes por serviço take-away, habituámos-mos às esplanadas ao ar livre e trocámos as viagens internacionais por escapadinhas dentro do país. A vida de todos deu uma volta de 360º e nada do que tínhamos como garantido ficou intacto. Os concertos (ou pelo menos concertos como os conhecíamos) também fazem parte desta fatia de mudanças.

E ainda que as redes sociais e a Internet consigam dar-nos verdadeiros momentos culturais com vários artistas a atuar, a verdade é que não é o mesmo do que, efetivamente, ir a um concerto ao vivo. E mesmo os espetáculos ao vivo hoje em dia implicam máscaras e distanciamento social, o que diminui em muito a experiência do evento.

O site Huffpost falou com alguns especialistas de saúde sobre quais as suas ideias sobre os concertos ao vivo e o seu regresso à normalidade, e os dados podem não ser tão animadores como muitos de nós esperávamos.

Ainda que se tenham encontrado alguns mecanismos de segurança para os restaurantes e até alguns eventos como o teatro ou pequenos shows, a verdade é que os concertos ao vivo como antes estávamos habituados, como por exemplo em festivais, representam um grande desafio em tempo de pandemia e são muito arriscados.

“Os concertos ao vivo reúnem alguns dos comportamentos de maior risco para a transmissão do Covid-19”, afirmou ao meio de comunicação Brian Labus, professor da Universidade de Nevada, Escola de Saúde Pública de Las Vegas. “Temos grandes grupos de pessoas em contacto próximo, por um longo período de tempo, enquanto cantam e dançam. Além disso, as pessoas precisariam de tirar as máscaras para fumar ou beber uma cerveja. Se tentarmos mudar essas coisas, vamos também mudar toda a experiência do espetáculo”, terminou por explicar.

“Desfrutar de música ao vivo com os amigos começou a parecer um resquício de uma época melhor, à medida que os impactos de uma pandemia global continuam a mudar a maneira como interagimos com o mundo”, afirmou Kristin Dean, médica e diretora médica certificada no serviço de telemedicina Doctor on Demand. “O aspeto social dos concertos tradicionais de música ao vivo torna difícil a transição para um cenário onde os espectadores são solicitados a desfrutar da música num ambiente socialmente distanciado”, explicou a especialista, frisando novamente a ideia de que perdemos a essência do espetáculo ao colocar certas restrições.

Primeiro: controlar o vírus

Em primeiro lugar, é preciso controlar o vírus antes de voltar a este tipo de normalidade. Os especialistas que falaram com o HuffPost concordaram que o vírus deve estar muito mais sob controle antes que possamos trazer de volta a experiência dos concertos ao vivo.

A maioria apontou para a necessidade de um nível muito baixo de transmissão do vírus nas comunidades, o que é mais facilmente alcançado através de uma vacina amplamente distribuída. “Para que os concertos sejam o mais seguros possível, é preciso ter a imunidade coletiva estabelecida”, afirmou Kim Kilby, médica de família e medicina preventiva. “Para se conseguir isso, os especialistas sugeriram que 75% da população deve ter recebido a vacina ou ter sobrevivido à infeção.”

A vacina ajuda, mas não é a única solução

“É difícil prever quando, ou mesmo se, retornaremos ao cenário tradicional de concertos ao vivo a que estávamos habituados antes da pandemia de Covid-19”, afirmou Kristian Dean. “A vacinação, a imunidade e a diminuição da propagação do vírus podem resultar num ambiente mais seguro para considerar o retorno dos concertos como os conhecíamos, mas é muito cedo para dizer ainda”, explicou. Além do mais, temos de ter a noção que o vírus não vai simplesmente desaparecer, continuando a colocar pessoas em risco.

“Seria uma situação melhor se tivéssemos vacinas, mas realisticamente falando, podemos ter que ter um híbrido de recomendações”, disse Jake Deutsch, médico e fundador da Cure Urgent Care. O especialista enfatizou a necessidade de medidas de segurança no local e testes rápidos, além de maior imunidade.

“Os testes prontamente disponíveis, precisos, económicos e com resultados rápidos também podem facilitar o retorno dos espetáculos tradicionais”, observou ainda Sachin Nagrani, médico e diretor médico do provedor de telemedicina e atendimento domiciliar Heal.

Concertos ao ar livre serão a primeira aposta

“Os eventos ao ar livre retornarão certamente mais cedo, devido ao menor risco de transmissão do vírus quando se está ao ar livre – facilidade na distância entre as pessoas, ventilação natural alta e luz solar que higieniza as superfícies externas”, disse ainda Sachin Nagrani.

Ainda assim, sabemos que tudo isto implica uma grande logística, como por exemplo, conseguir fazer com que as pessoas efetivamente estejam distantes umas das outras ou fazer com que a parte das refeições, por exemplo, se mantenha segura.

Máscaras vão continuar na equação

Embora todos pensem que a vacina vai ser a cura automática e que nos vamos ver livres logo das máscaras de proteção individual, não deverá ser bem assim. Vários especialistas em saúde já deixaram bem claro que a vacina não protegerá completamente todos contra a doença. Portanto, as máscaras ainda serão uma parte importante das nossas vidas, especialmente em situações de alto risco – como grandes reuniões públicas.

“As pessoas precisam de entender que, mesmo quando a vacina for lançada, precisaremos de continuar a usar máscaras e a distância física para evitar a propagação do coronavírus”, disse Krutika Kuppalli, médica de doenças infecciosas.

Controlo apertado à mesma

É normal que exista um controlo mais apertado, bem como vários pontos de verificação: medir febre, verificar de onde viajou e para onde vai, etc. Isto porque, em caso de novos contágios, é necessário assegurar que se sabe quem esteve no local e para onde foi, a fim de identificar possíveis cadeias de transmissão.

Redução de multidões

Claro está, a redução de pessoas em dado evento também terá de ser alterado, tendo que existir sempre um limite inferior àquele que estávamos habituados. “Não se trata apenas de reduzir a capacidade, temos que reduzir a densidade das multidões também”, afirmou o mesmo especialista. “Mesmo se permitirmos apenas 10% da capacidade do local, essas pessoas irão aglomerar-se perto do palco, a menos que existam bancos designados para mantê-las separados. Isso significa ter pequenas multidões espalhadas em grandes locais, o que mudaria também drasticamente a experiência do espetáculo”, terminou por dizer.