Especialistas dizem o que mudou no sexo pós-quarentena

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A pandemia provocada pela Covid-19 mudou, em muito, a nossa vida. Falamos da forma como estávamos habituados a trabalhar, como nos relacionávamos com o ambiente e o mundo, como realizávamos os nossos hobbies e como mantínhamos as nossas relações pessoais, sejam elas de que natureza fossem. O sexo não é exceção.

Se há quem se queixe da falta de apetite sexual, há quem tenha ficado com mais vontade após o confinamento. Para o psicólogo José Carlos Garrucho, entrevistado pelo Delas.pt, a maioria das pessoas vai agora com “mais sede ao pote”, no que diz respeito não só ao sexo como também à própria sedução.

Ainda que para os casais que vivam juntos, fazer sexo não implique uma grande diferença de comportamentos, uma vez que coabitar será “tão perigoso” quanto manter relações sexuais com o parceiro, o problema está em quem está solteiro e precisa de quebrar as regras de distanciamento social nesta época de pandemia, caso queiram manter relações sexuais.

Mas os oficiais de saúde já falaram sobre o sexo fora de casais. E sabem que não se pode pedir para que as pessoas fiquem de abstinência por tempo indeterminado. Aliás, o departamento de Nova Iorque da saúde pública já emitiu um documento onde prevê estas situações e aconselha algumas regras para um sexo mais seguro, em tempo de Covid-19.

Se se vai encontrar com alguém que não é o seu parceiro habitual, os especialistas recomendam que evite os beijos, uma vez que o vírus é encontrado na saliva, use uma máscara, masturbe-se à distância e arranje mecanismos para ficar excitada, mesmo em novos contextos.

“Seja criativa nas posições sexuais e nas barreiras físicas, como paredes, que permitem o contacto sexual e que impeçam o contacto próximo”, afirma o mesmo comunicado.

Já para os casais que coabitam, há outros problemas que se levantam, tais como o passar demasiado tempo juntos, os stress do desemprego e cortes de rendimento, a ansiedade pela situação e pelo desconhecido, entre vários outros fatores que podem ter influenciado negativamente a relação do casal.

A revista The Huff Post questionou vários especialistas sobre o que mudou na nossa vida sexual e na intimidade das nossas quatro paredes do quarto e eis as respostas:

Para muitos, o desejo está em baixo

O stress é um dos principais fatores que está a fazer com que o interesse pelo sexo seja, neste momento, condicionado. Há demasiados fatores lá fora que fazem com que as pessoas estejam mais focadas noutras coisas, como nos dados da pandemia ou nas polémicas de racismo.

“É comum que as pessoas sintam baixo desejo sexual quando estão sob demasiado stress, ou estejam a lidar com traumas”, disse a psicóloga e terapeuta sexual de Los Angeles, Shannon Chavez, ao mesmo meio de comunicação. “A pandemia fez com que as pessoas entrassem numa espiral de emoções negativas como o stress, fadiga, problemas de sono, mudanças de apetite e mudanças de humor”.

Para os casais, a constante união “forçada” da quarentena trouxe à superfície certos problemas de relacionamento que podem interferir também na sua conexão sexual. “Quando os casais passam o tempo todo juntos, podem facilmente criar sentimentos como a irritação, frustração, fadiga e irritabilidade“, comentou a mesma especialista, acrescentando que “o espaço é um ingrediente necessário para alimentar a paixão. E isso é difícil de adquirir quando se está num período de exigências de ficar em casa”.

Muitos, andam cheios de vontade

Nem toda a gente está mergulhada num poço sem desejo. Para algumas pessoas, o tempo fechadas em casa parece ter acelerado os seus mecanismos sexuais. O pesquisador do Instituto Kinsey, Justin Lehmiller, afirmou à Men’s Health americana que “a combinação de algumas pessoas com o facto de terem mais tempo livre e menos saídas para a conexão social pode ser a responsável pelo aumento da vontade”. É quase como pensar no ditado “o fruto proibido é sempre o mais apetecido”.

E, inclusive, existem alguns casais que também têm aproveitado o tempo extra da quarentena para apimentar as suas relações e meterem em dia a falta de tempo das suas anteriores rotinas atarefadas.

“O tempo em casa tem também várias outras vantagens menos stressantes, tal como não chegar tarde a casa devido ao trânsito, não ter outras atividades extracurriculares que acabam por ter prioridade sobre o sexo e não existirem tantas desculpas por pouco tempo”, disse a mesma especialistas. “O tempo extra juntos ajudou alguns a sentirem-se mais relaxados e abertos à atividade sexual.”

Uns veem mais pornografia

Desde que as medidas de distanciamento social entraram em vigor, o site pornográfico Pornhub registou um aumento no seu tráfego diário de quase 25% desde 25 de março, depois de libertar conteúdo premium gratuito por um mês. “As pessoas estão aborrecidas e gastam consideravelmente mais tempo online, seja para trabalhar ou tratar do seu tédio”, afirmou a psicóloga.

Nas relação, normalmente, quando uma das pessoas começa a ver demasiado pornografia, acaba por haver um desinteresse pelo sexo real.

Há mais masturbação e conhecimento pessoal

Pediu-se o distanciamento físico entre todas as pessoas que não moravam juntas. Isso, pois claro, fez com que crescesse a procura por brinquedos sexuais. “Tive vários clientes que me falaram sobre a ‘revolução sexual’ que tinham sentido enquanto estavam de quarentena em casa”, afirmou Shannon Chávez. “Isso incluiu ler livros de sexo, assistir a pornografia, comprar brinquedos sexuais, conversar com os seus parceiros sobre fantasias sexuais e fazer sexo mais descontraído”.

A saúde mental afeta o sexo

Problemas que antes nos pareciam menores, ganham agora toda uma nova dimensão. Problemas ligados com a ansiedade e depressão têm sido os mais falados nestes últimos meses de incerteza e medo. E sabe-se que estes estados mais de alerta acabam por, inevitavelmente, afetar a nossa vida sexual.

“Estes distúrbios psicológicos não afetam apenas o nosso humor, mas também podem levar a dificuldades sexuais, como disfunção erétil ou relações sexuais dolorosas”, afirmou ao mesmo meio de comunicação Moali, apresentador do podcast “Sexologia”.

Existe mais sexo virtual

A internet veio trazer uma revolução a vários níveis, sendo sem dúvida o sexo uma delas. Nesta altura, as pessoas têm visto nesta ferramenta uma forma mais segura de se relacionarem, sem necessitarem de contacto físico. E isso aplica-se tanto para videochamadas entre amigos e familiares como em reuniões profissionais ou mesmo relações amorosas e sexuais.

“Existem comunidades online positivas para o sexo, que têm sido usadas para brincadeiras sexuais, voyeurismo e exploração”, afirmou Shannon Chávez. “Alguns desses ambientes incluem festas sexuais online e conversas no Zoom que envolvem brincadeiras sexuais comunitárias e educação sobre consentimento no mundo digital”, terminou por explicar.

Mas, se estiver a seguir pelo caminho digital no que diz respeito ao sexo, verifique que está a tomar as devidas precauções de segurança. Por exemplo, use palavras-chave fortes, verifique se os seus dispositivos estão atualizados, configure um e-mail anónimo (não vinculado ao seu nome), use uma plataforma criptografada e não mostre seu rosto ou outras características de identificação.