EUA: 103 motoristas da Uber acusados de agressão e abuso sexual

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[Fotografia: Shutterstock]

Pelo menos 103 motoristas da plataforma de mobilidade Uber, nos Estados Unidos da América (EUA), foram acusados de agredir ou abusar sexualmente de vários passageiros durante o horário de trabalho.

Os números foram avançados pela CNN, no início desta semana, após uma investigação que teve por base a queixa de uma vítima de violação, o que permitiu descobrir casos idênticos.

A vítima regressava de uma saída à noite em San Diego, na Califórnia. Uma vez que se encontrava alcoolizada, a mulher optou por voltar para casa de Uber. A meio do caminho, conta ter pedido ao motorista para encostar, porque precisava de vomitar. A partir daí diz não se lembrar de mais nada, tendo desmaiado no banco de trás.

De acordo com fontes familiarizadas com a investigação e o relatório policial, a que a CNN diz ter tido acesso, quando recuperou os sentidos, a mulher estava a ser violada pelo motorista.

Conseguiu escapar e ligar para o número de emergência (911, nos EUA). Mais tarde, a polícia prendeu o motorista, de 54 anos, e apreendeu-lhe o computador, onde foram encontrados vídeos de mulheres a serem violadas e jovens adolescentes a serem abusadas. De acordo com a CNN, o motorista foi condenado a 80 anos de prisão por violação de passageiro e outras 33 acusações, incluindo agressão sexual a mulheres e crianças.

Sem dados publicamente disponíveis, a CNN começou uma investigação através de relatórios policiais, registos de tribunais federais e bases de dados judiciais. A análise de vários documentos levou a outros casos, o que permitiu contabilizar que pelo menos 103 motorista da Uber foram presos, procurados ou indiciados por abuso ou agressão sexual e que 31 destes foram condenados por crimes como toques forçados ou violações.

A advogada Jeanne Christensen, dos escritórios Wigdor LLP, tem acompanhado, desde 2015, vários casos de violação e agressão que envolvem a Uber. A representar, atualmente, 16 mulheres que alegam ter sido violadas ou atacadas por motoristas da Uber, Christensen diz notar uma padrão nas vítimas: tendem a ser do sexo feminino, pequenas, moram sozinhas e estão alcoolizadas no momento em que são violadas.

Uber na luta por uma imagem de segurança

Lançada em 2009, na cidade de San Francisco, sob o mote ‘Motorista particular de todos’, a Uber é uma das startups de tecnologia privada mais valiosas do mundo. Avaliada em 70 bilhões de dólares (cerca de 58 bilhões euros, câmbio à taxa de hoje), opera em 630 cidades de todo o mundo e faz cerca de 15 milhões de viagens por dia.

Até agora a plataforma de mobilidade tinha mantido a confiança e o sentimento de segurança por parte dos utilizadores através de campanhas publicitárias – com anúncios onde mulheres surgem a sair à noite tendo a Uber como transporte seguro e com campanhas, como a desenvolvida em Toronto, onde a marca oferecia transporte gratuito aos passageiros que se predispusessem a soprar no balão.

Atualmente, os casos de agressão e abuso sexual estão a comprometer a imagem da plataforma de mobilidade não só nos EUA, como também na Europa.

Em setembro de 2017, o regulador dos transportes públicos de Londres, Transport For London (TFL), opôs-se a renovar a licença da Uber para operar na capital britânica, por considerar insuficientes as medidas de segurança oferecidas.

” [Seria] Errado continuar a emitir uma licença à Uber se podia supor um risco para a segurança dos londrinos. Todas as empresas devem respeitar as normas e aderir às regras vigentes, especialmente no que se refere à segurança dos clientes“, afirmou na altura o presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, segundo o jornal Público.

A apoiar a decisão esteve também o presidente da comissão parlamentar sobre táxis, Wes Streeting, tendo sublinhado a Uber do Reino Unido não denunciou presumíveis delitos de violação e de abuso sexual a passageiros, tendo até sido acusada pelos próprios empregados de não garantir direitos laborais mais básicos.

Para reverter a situação e voltar a ter a confiança dos utilizadores, a marca desenvolveu um vídeo de prevenção à agressão sexual, que partilhou no próprio site para informar motoristas e passageiros, como criar uma comunidade mais segura, e prepara-se ainda para criar 50 fóruns comunitários com o propósito de se falar sobre o assunto. Medidas que, segundo a CNN, surgiram depois da estação televisiva ter entrado em contacto com a plataforma por causa dos casos de violência.

Em comunicado enviado à CNN, como resposta à reportagem emitida pelo canal e sem comentar diretamente os casos divulgados, a Uber afirma ter a segurança como principal prioridade, tendo trabalhado sempre nesse sentido. Além de atualizações recentes de protocolo que visam proteger os utilizadores do serviço, a marca disse estar a planear implantar um “centro de segurança” dentro da aplicação, com um botão que permite aos usuários ligar de imediato para o número de emergência.

“Este é apenas um começo e estamos comprometidos a fazer mais. A agressão sexual é um crime horrível e que não é aceitável em lugar nenhum. Embora a Uber não esteja imune a essa questão social, queremos ser parte da solução para acabar com essa violência”, disse o porta-voz em comunicado, informa a CNN.

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