Estas mulheres lutam pela abolição da Mutilação Genital Feminina no mundo

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A mutilação genital feminina (MGF) é um flagelo mundial que afeta cerca de 200 milhões de mulheres em todo o mundo. Praticada em mais de 50 países, este ritual ancestral inflinge danos graves na saúde sexual e mental das vítimas. Esta terça-feira, no Dia Internacional da Tolerância Zero Contra a Mutilação Genital Feminina (MGF) – uma data decretada pelas Nações Unidas em 2003 – , destacamos três mulheres que lutam por uma causa comum: a abolição desta tradição.

 

Jaha Dukureh (29 anos)

Por ocasião do Dia Internacional da Tolerância Zero Contra a Mutilação Genital Feminina, esta ativista da Gâmbia, África, acaba de ser nomeada Embaixadora Regional da Boa Vontade para as Nações Unidas. Tal como os testemunhos anteriores, Dukureh batalhará para terminar com a MGF e ainda com o casamento infantil no continente africano.

Sobrevivente desta prática nefasta e forçada a casar aos 15 anos, Dukureh é CEO e fundadora da Safe Hands for Girls, uma ONG que presta apoio às meninas e jovens africanas sobreviventes da MGF. Paralelamente às organizações de mulheres, a reconhecida ativista contribuiu para a abolição da prática na Gâmbia, após campanhas e mobilização de jovens no país.

 

Mariame Sakho (51 anos)

Deputada senegalesa desde julho de 2017, Mariame Sakho é uma figura influente na sua comunidade – Bakel (Senegal) – , comprometida com a luta para acabar com esta prática nefasta no seu país. Até há 19 anos, o panorama era totalmente diferente: Mariame Sakho ajudava a família a mutilar meninas de um e dois anos de idade. “Também sofri de mutilação, por isso, foi normal”, conta Sakho ao El País.

Quando, em 1999, o Senegal proibiu a MGF (com uma lei que prevê um castigo até cinco anos de prisão para quem a pratica), Sakho pediu “perdão a Deus” pelos seus atos. Mas, “rezar não era suficiente, queria lutar para parar a MGF, porque em Bakel muitas pessoas continuavam a praticá-la ilegalmente”, acrescenta.

Considerada atualmente como uma voz importante na luta contra este flagelo, trabalhou como parceira do centro de saúde de Bakel durante algum tempo, dissuadindo as jovens mães a mutilar os recém-nascidos.

De acordo com a Unicef, a percentagem de mulheres senegalesas a sofrer com esta prática caiu para 25%, ainda que as desigualdades territoriais se tenham mantido. Porém, apesar do progresso indiscutível do Senegal, Sakho afirma que “muitos pais continuam convencidos de que essa intervenção é necessária para preservar a honra das filhas. Ainda temos muito trabalho de consciencialização para fazer”, frisa a ativista.

Fatmata Banguri (28 anos)

A história de Banguri é bem distinta. Oriunda da Serra Leoa, África, deparou-se com o flagelo quando a filha Kadiatu, de quatro anos, foi obrigada pela família do pai da criança a submeter-se a esta prática. “Eu não sabia nada sobre o tema”, recorda Banguri ao El País, “eu sou cristã, a minha família é alheia a essa seita [Bondo]”. Banguri e Ahmidou, o marido, acabaram por conseguir impedir a mutilação da filha e, posteriormente, acabaram por sair do país, rumo a Itália, cidade onde foram acolhidos pela fundação L’ Albero della Vita.

Ao contrário da realidade no Senegal, a MGF na Serra Leoa tem sido extremamente difícil de erradicar. Segundo a UNICEF, a prevalência atinge 90% da população feminina. Neste país a ablação é legal, ainda que o governo a tenha proibido durante o surto de ébola, de 2014 a 2015. A nova lei proíbe a prática a menores de 18 anos, “mas o problema é que são as próprias mulheres que querem fazê-lo”, destaca Ann Marie Caulker, outra ativista da Serra Leoa. Todavia, nos últimos tempos, têm sido várias as manifestações contra este ritual, nomeadamente quando centenas de padres Bondo, em Waterloo, se comprometeram com o governo para impedir a ablação de menores.

Imagem de destaque: Shutterstock

Mutilação Genital Feminina: Uma tradição e um negócio que tardam em desaparecer