Eis as duas idades em que as portuguesas ficam mais precárias

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[Fotografia: Vlada Karpovich/Pexels]

“A maior parte dos trabalhadores precários são mulheres e a precariedade é superior em idades inferiores a 35 anos, em particular naquelas que têm menos de 25 anos e os salários são mais baixos, os vínculos são mais incertos e inseguros”, aponta a coordenadora da Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens (CIMH) da CGTP, Fátima Messias. Um olhar detalhado que decorre das conclusões de um estudo elaborado pela intersindical sobre a evolução da situação da mulher no trabalho, realizado a propósito da 10.ª semana da igualdade, a decorrer desde a passada segunda-feira até 10 de março. Nestas idades, a precariedade situa-se nos 37,5%, passando para os 61%, respetivamente.

Uma disparidade latente – que ameaça aumentar, mas já lá vamos – e que leva mulheres a sentirem-se muitas vezes obrigadas a adiarem projetos de vida. A desigualdade remuneratória faz-se sentir “a vida toda”, sublinha ao Delas.pt no momento em que se evoca o dia Internacional da Mulher, esta quarta-feira, 8 de março.

“Naturalmente tudo isto traduz-se em mais baixas pensões de reforma. Como ganham menos, comparativamente com os homens, as reformas são mais baixas e as mulheres enfrentam um maior risco de pobreza”, explicou Fátima Messias. Para a sindicalista, o problema deve ser resolvido através de uma contratação coletiva.

O estudo da confederação sindical – com base nos últimos dados do Instituto Nacional de estatística (INE), do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e do Eurostat – mostra ainda que a maioria do emprego criado em Portugal no ano passado é precário (76%) e são as mulheres que representam mais de metade dos trabalhadores com têm vínculos precários (53,5%).

Mais 15 mil mulheres desempregadas num ano

Por outro lado, o desemprego afeta mais as mulheres, correspondendo a 53% dos desempregados. “No último trimestre do ano passado, o desemprego das mulheres aumentou face ao mesmo período do ano anterior: foram mais de 15 mil a nível nacional”, salienta Fátima Messias. Segundo os dados da intersindical, a taxa de desemprego aumentou entre as mulheres, passando de 6,5% para 7% no 4.º trimestre do ano passado. É mais elevada do que entre os homens trabalhadores (6,1%). Nas jovens trabalhadoras com menos de 25 anos, a taxa de desemprego situa-se nos 20,5%, mais alta do que a dos jovens trabalhadores na mesma faixa etária (19,4%).

De acordo com as contas divulgadas pelo estudo, a desigualdade salarial entre homens e mulheres ronda atualmente os 13,3%, atingindo uma média de 153 euros e de 600 euros entre os quadros superiores, de acordo com a CGTP.

Mais, a situação “é mais gravosa” do que desigualdade de salários, alerta a coordenadora. “Muita da discriminação das mulheres entre os salários não se encontra só no salário base, mas acima de tudo no conjunto das retribuições mensais, como as que dependem da assiduidade, com base nas avaliações de desempenho”, enumera, explicando que são quem mais se ausenta para cuidar dos filhos ou de familiares dependentes.

Três razões que as travam na chegada ao topo

Apesar de terem mais qualificações mais elevadas, as mulheres continuam a enfrentar várias barreiras para chegar aos cargos de chefia em comparação com os colegas.

Além da preferência dos que já ocupam estes cargos pelos pares do mesmo sexo, “associa-se os elevados cargos da decisão a uma ideia de disponibilidade total e há estereótipos que consideram que a mulher não tem essa disponibilidade total para viajar, estar ausente ou até mudar de país”, salienta Fátima Messias. Há ainda um “teto de vidro” de resistência, com impacto masculino, para que as mulheres possam aceder a cargos da decisão. “Elas têm qualificações, têm mérito, têm competência, no entanto não chegam lá e quem faz estas escolhas tem uma responsabilidade direta”, adverte.