Estas são as pessoas que veem televisão todos os dias de manhã

Há quem tenha a ideia de que só esta semana é que Portugal e os portugueses descobriram as alegrias e as tristezas que são exibidas nas manhãs televisivas nacionais. Um interesse e um falatório que ganharam impulso à conta da estreia da maior transferência televisiva dos últimos anos: a saída de Cristina Ferreira da TVI para a SIC.

Ora a 7 de janeiro, o país parecia que só falava de um assunto: a guerra entre Manuel Luís Goucha, na TVI, e nova apresentadora da SIC. E a manhã foi tão atípica que, somados os programas dos três canais em sinal aberto (RTP1, SIC e TVI), houve um milhão e 157 mil pessoas a ver televisão das 10 às 13 horas, das quais 766 mil eram mulheres.

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Cristina Ferreira, na SIC, Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes, na TVI, e Sónia Araújo e Jorge Gabriel na RTP [Fotografia: Instagram/MOntagem]

Mas, passado o efeito de curiosidade do primeiro dia, é tempo de saber quem foram, afinal, os quase 900 mil portugueses que em média viram televisão de manhã nos dias seguintes. Pessoas que sempre ali estiveram e para quem as estreias e a guerra televisiva não lhes abala os hábitos. Eles já conheciam os protagonistas de longe e, de segunda a sexta-feira, nunca abandonaram o sofá em todos estes anos.

Como amanhã, segunda-feira, 14 de janeiro, é dia de regresso da luta matinal, o Delas.pt pegou na calculadora e foi saber ao detalhe quem são – e têm sido – as pessoas que não perdem pitada dos formatos matutinos do pequeno ecrã.

Se é das que já tem lugar cativo no sofá, saiba aqui quem a acompanha nesta escolha. Se é das que tem curiosidade por perceber porque é que o tema está a ser tão badalado, é tempo de assumir que brincar aos programas da manhã é um assunto mesmo muito sério.

Elas são quase o dobro, mais pobres e têm mais de 55 anos

As mulheres estão, sem surpresa, em maioria na plateia destes três programas da manhã. Adicionando as audiências de Praça da Alegria, na RTP1, às de O Programa da Cristina, na SIC, e do Você na TV, com Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes, as espectadoras (590 mil pessoas) são quase o dobro do público masculino (312 mil) que vê televisão naquele horário.

No total, em matéria de regiões, mesmo com a Grande Lisboa a ter a maior densidade populacional do país, é no Norte (397 mil) e Centro (246 mil), por esta ordem, que estes conteúdos matutinos despertam mais atenção. Não é por acaso que grande parte destes formatos ou são feitos no Porto ou têm rostos e pronúncias que chegam dessas geografias.

As classes económicas D (372 mil pessoas) e E (273 mil) foram as que estiveram, ao longo desta semana, mais atentas aos programas matutinos das televisões. Um facto que prova a norma. É, contudo, importante lembrar que estes dias extraordinários trouxeram ao pequeno ecrã, à boleia da curiosidade, as pessoas com mais rendimentos. Uma raridade, é certo, mas já lá vamos.

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O fator etário reveste-se, nestes programas, de uma enorme importância. Afinal, praticamente 2/3 do auditório médio já passou o meio século de vida: esta semana, eram 170 mil os espectadores com idades entre os 55 e os 64 anos e 211 mil os da década que se segue. Tal como a idade, também a fatia vai crescendo: 219 mil pessoas com 75 e mais anos.

Há, contudo, um detalhe a vincar. Apesar dos elevados números registados por Cristina Ferreira nas faixas etárias mais velhas, ela perde ligeiramente (média) na última para Goucha e Cerqueira Gomes.

A apresentadora da SIC tem, no entanto, um resultado que deve ser sublinhado e que diz respeito ao público que tem entre 35 e 44 anos. Tirando a loucura de resultados do primeiro dia – e fazendo a média aos restantes quatro -, a apresentadora da SIC captou a atenção a uma média de 66 mil e 700 pessoas com idades compreendidas entre os 35 e os 44, o que é quase o triplo da soma da RTP1 e da TVI. Digna de nota é também a piscadela de olho que ela fez a quem tem entre 25 e 34 anos (49 mil pessoas em média).

Estreia da guerra na TV sentou 176 mil mulheres a mais no sofá

Segundo os dados de segunda-feira de manhã, 7 de janeiro, dia normal de trabalho para uma grande franja da população, houve um milhão e 157 mil pessoas a espreitar os três principais programas matutinos (RTP1, SIC e TVI). O número de mulheres, tradicionalmente o público de eleição deste formato, atingiu a média de 766 mil espectadoras sintonizadas naquela manhã.

Comparando com os quatro dias seguintes (terça, quarta, quinta e sexta-feira), desfeita a curiosidade da estreia de um lado (SIC) e procurando as reações dos outros (RTP1 e TVI), o número médio de público feminino que esteve sentado no sofá a ver programas da manhã tinha descido para as 590 mil pessoas. Ou seja, “desapareceram” 176 mil mulheres dos sofás.

O número de homens que viu o programa das manhãs também caiu. Na segunda-feira foram 391 mil, mas a média dos quatro dias seguintes apontou para uma queda para os 313 mil.

Ser e estar no Norte não significa vitória

Bastião maior das audiências neste tipo de talk shows, o auditório do Norte esteve claramente de olhos postos na estreia da apresentadora oriunda da Malveira e não debandou em massa para a concorrência nos dias seguintes.

Só na quarta e quinta-feira é que a Praça da Alegria, feita no Porto, e Você na TV, na TVI, que conta com a portuense Maria Cerqueira Gomes, é que começaram francamente a recuperar espectadores desta região do país, mas ainda muito longe dos resultados médios obtidos por Cristina.

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Na guerra entre Cristina, da região de Lisboa, e a companheira de Goucha, vinda do Porto, a maior conquista de espetadores a Norte é feita exatamente pela primeira. Mesmo comparando apenas os dados de estreia de ambas: a primeira a 7 de janeiro e a segunda a 2.

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Tradicionalmente afastadas deste tipo de fenómenos, as classes mais altas (A) são, de longe, as mais distantes destes formatos televisivos. Mas não no dia 7 de janeiro. Com Cristina Ferreira há anos a querer furar e instalar-se neste segmento socioeconómico, ela captou-lhes a atenção naquele dia.

Segundo os mesmos resultados e que somam os que viram em direto e as gravações até ao fim do mesmo dia, a nova apresentadora da SIC convocou, no dia da estreia, 15 mil e 600 pessoas da classe A. Baixaram, depois, para uma média de 2/3 nos quatro dias que se seguiram.

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Entre altos e baixos, quatro mil e 100 pessoas da classe mais alta acabariam, na quinta-feira, 10 de janeiro, por escolher a Praça da Alegria, na RTP1, deixando Cristina em segundo lugar. Mas ela voltou a recuperar no último dia da sua primeira semana em Carnaxide.

Quanto aos espectadores com menos rendimentos financeiros, a nova aposta da SIC dominou na classe D e E, com Goucha e Cerqueira Gomes a ameaçar a recuperação nesta última, já na quinta-feira, 10 de janeiro. Mas há, contudo, dois factos a reter das médias entre terça e sexta-feira: o primeiro é que o Programa da Cristina esteve à frente naqueles auditórios; o segundo é que a classe média alta (66 mil pessoas) e a média baixa (90 mil) estão de olhos pregados nela, e não tanto na concorrência.

[N.R.:As audiências e os dados socioeconómicos são recolhidos por amostra e disponibilizados pela Comissão de Análise de Estudos de Meios e Markdata]

Imagem de destaque: Montagem Instagram

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