“Este julgamento foi uma prova muito difícil”, revela Gisèle Pelicot

Verdict against 51 defendants of mass rape trial in Avignon
Gisèle Pelicot [Fotografia: EPA/GUILLAUME HORCAJUELO]

Gisèle foi violada, abusada e sujeita a violações por parte de estranhos às mãos de um marido de quem ela nunca desconfiou. Tudo mentira!

Em tempo de julgamento, Gisèle Pelicot quis que “a vergonha mudasse de lado” e quis ser o rosto da vítima que não tem tem de fugir, nem de se esconder. Quem cometeu os crimes é que deve adotar essas práticas.

O marido Dominique Pelicot – cujos crimes foram confirmados e que ele reconheceu – levou a pena mais pesada, 20 anos, e a defesa admite recorrer. Os homens que violaram Gisèle sob convénio do marido e com a mulher inconsciente levaram penas mais leves do que a que o ministério público francês tinha pedido.

Apesar deste desfecho, Gisèle Pelicot – que quis ser rosto de uma luta que nunca pensou, mas teve de travar – fala de “um julgamento que foi uma prova muito dífcil”. Esta foi uma das primeiras declarações da septuagenária à saída do tribunal de Avignon, em França, naquele caso que ficou conhecido como o caso do ‘ogre de Mazan’. ”É com profunda emoção que hoje vos falo. Neste momento, penso principalmente nos meus três filhos, David, Caroline e Florian. Penso também nos meus netos, porque eles são o futuro, e é também por eles que lidero esta luta, assim como nas minhas noras, Aurore e Céline. Penso também em todas as outras famílias afetadas por esta tragédia. Por último, penso nas vítimas não reconhecidas, cujas histórias muitas vezes permanecem na sombra. Quero que saiba que partilhamos a mesma luta”, afirmou Gisèle à saída do tribunal.

Um momento em que manifestou a sua “mais profunda gratidão a todas as pessoas” que a “apoiaram ao longo desta provação”. Sobre os testemunhos que foi recebendo de quem a apoiou, explicou: “Foi deles que tirei forças para voltar todos os dias para enfrentar estes longos dias de audiências em tribunal.

Sobre as razões que a levaram a tornar este julgamento público e a renunciar que fosse à porta fechada, Gisèle explicou: “Quis, ao abrir as portas deste julgamento no dia 2 de setembro, que a sociedade pudesse acolher os debates que ali tiveram lugar. Nunca me arrependi desta decisão”. “Agora tenho confiança na nossa capacidade de conquistar coletivamente um futuro em que todos, mulheres e homens, possam viver em harmonia, com respeito e compreensão mútua”, concluiu Gisèle Pelicot.

com agências