Estes podem ser os efeitos a longo prazo do distanciamento

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Termos como ‘quarentena‘ e ‘distanciamento‘ vão ser, provavelmente, os mais badalados de 2020. Portugal entrou na segunda fase de desconfinamento, devido ao novo coronavírus, mas estamos longe da normalidade que outrora conhecíamos. E quais serão os efeitos desta nova realidade? Os especialistas falam sobre o tema e lançam palpites – ou certezas.

Ninguém sabe ao certo quando a pandemia irá parar, quando ou se haverá uma vacina ou quando é que ir ao café ou à esplanada, visitar os avós ou sair à noite, será feito sem recurso a máscaras e a distanciamento. Enquanto isso, há quem desenvolva medo de sair de casa, ou outros problemas ligados à saúde mental. Mas, e quando tudo acabar?

Amelia Aldao, psicóloga e especialista em ansiedade, afirma à revista Huffpost que a questão do “quando tudo acabar” é uma das que, neste momento, está a criar mais pontos de interrogação e mais ansiedade. “O facto de termos tantas incertezas, que todos nós estamos a experienciar o mesmo, faz com que arranjemos formas que dos tranquilizarmos e ficarmos mais calmos. Mas como o futuro é incerto, isso acaba por criar ainda mais ansiedade”, explica a especialista.

Ainda que se veja uma certa normalidade à vista, com o desconfinamento desde segunda-feira, dia 18 de maio, a verdade é que todos os pequenos passos e hábitos que tínhamos como naturais da nossa rotina diária estão agora regidos por diversas normas, regras e obrigações. E, para a maioria dos especialistas, isto trará varias consequências no futuro.

Várias pessoas podem desenvolver stress pós-traumático

Ainda que quando se fala de stress pós-traumático se associa normalmente a pessoas que estiveram em guerra, a verdade é que várias pessoas podem desenvolver esta condição, tendo passado por eventos traumáticos tais como assaltos, violações, desastres naturais, acidentes de viação entre outros exemplos.

Uma pandemia global também pode vir a fazer parte desta lista, sendo que é sempre um evento que marca as pessoas, especialmente quem lidou de perto com a doença e os seus efeitos. Além do medo pelo próprio vírus, há o impacto económico, a perda de emprego e de rendimentos e também o impacto social, como o facto de famílias estarem separadas durante meses. Sobre o distanciamento social, a especialista citada afirma desde logo que tem poucas dúvidas sobre o facto desta nova realidade ir influenciar a saúde mental da sociedade.

“Existe um sofrimento e luto inerente ao distanciamento social, devido ao facto de as nossas vidas sociais terem mudado drasticamente”, disse a psicóloga, acrescentando que “além disso, novamente, há este elemento adicional que torna esta crise particularmente traumática: não sabemos quando vai acabar. Nós perguntamos a nós mesmos quando é que a nossa cidade vai reabrir, quando é que os nossos filhos podem voltar para a escola sem medos, quando poderemos viajar de novo e há uma grande incerteza, que, por sua vez, alimenta a nossa ansiedade e aumenta nosso nível de stress. Isso pode facilmente causar trauma”, termina por explicar.

Ansiedade e problemas relacionados poderão aumentar e acontecer com mais frequência

Problemas como a ansiedade têm sido, ao longo dos últimos anos, um dos tópicos de saúde mental mais falada da atualidade. O nosso ritmo frenético do dia-a-dia potencializa – e muito – este tipo de problemas, sendo que, neste caso, o aposto também o fez. O facto de estarmos parados, em casa, devido a uma ameaça externa e invisível que não sabemos quando irá embora irá fazer com que existam mais pessoas a desenvolver ansiedade e que os ataques sejam também mais frequentes. Preocupações ligadas a questões como será que a pessoa vai ficar doente, ou alguém da sua família, bem como o medo por sair de casa são algumas das preocupações citadas.

Mais facilmente se poderá desenvolver depressão devido à falta de conexões sociais e emocionais

O distanciamento social pode também resultar naquilo a que se chama de um “declínio no suporte social percebido”, que é quanto apoio acreditamos estar a receber dos nossos amigos e familiares próximos e ainda no “apoio social recebido”, que é quanto apoio social quantificável estamos realmente a receber. De acordo com Sarah Lowe, professora assistente de ciências sociais e comportamentais da Escola de Saúde Pública de Yale, esta oscilação de variáveis pode ser o suficiente para desencadear problemas como a depressão.

“A falta de apoio social pode aumentar o risco de uma variedade de problemas de saúde mental, incluindo a depressão“, afirmou a especialista, acrescentado que “embora as pessoas se estejam a conectar mais de forma virtual, isso nem sempre quer dizer que os tipos de suporte que as pessoas recebem de uma grande variedade de membros das suas redes sociais – vizinhos, colegas, amigos – seja o suficiente”, termina por dizer.

O risco de suicido pode aumentar

Alguns especialistas de saúde mental acreditam que a pandemia do coronavírus criou uma “tempestade perfeita” para um possível aumento no risco geral de suicídio. Rory O’Connor, professor de psicologia de saúde e diretor do Laboratório de Pesquisa em Comportamento Suicida da Universidade de Glasgow, na Escócia, está entre os que estão preocupados por esta realidade, de acordo o Huffpost.

“A minha preocupação é de que possamos mesmo vir a sofrer as consequências tanto sociais quanto de saúde mental inerentes da crise do coronavírus nos próximos meses e anos”, afirmou. “Em relação ao suicídio, embora um aumento ligeiro não seja inevitável, a experiência de epidemias e recessões económicas anteriores sugere que as taxas de suicídio podem aumentar, especialmente em grupos vulneráveis”.

As crianças podem também desenvolver problemas de ansiedade

Outra grande preocupação é o impacto destas mudanças na vida dos mais novos. “Com a pandemia, existirá falta de educação adequada, isolamento social e, para alguns, exposição a questões como o aumento da violência doméstica e falta de nutrição adequada, entre outros desafios”, explicou o especialista. E isso pode influenciar as crianças, que ainda estão em formação em vários aspetos.