O conceito de escola como elevador social parece ser uma ideia em extinção em Portugal. O estudo publicado a semana passada pela Direção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência, com o título Desigualdades Socioeconómicas e Resultados Escolares, tinha como objetivo perceber se o sistema público de educação serve para esbater as diferenças sociais e económicas entre os alunos. A conclusão é que não serve.
Os resultados não são surpreendentes mas são elucidativos. Na maioria dos casos o elevador social não funciona e verifica-se uma relação direta entre o nível de escolaridade da mãe e o sucesso do filho e uma ligação ainda mais próxima entre os rendimentos das famílias e os resultados escolares das crianças:
“Entre os alunos cujas mães têm licenciatura ou bacharelato, a percentagem de percursos de sucesso no 3.º ciclo é de 71%, enquanto entre os alunos cujas mães têm habilitação escolar mais baixa, equivalente ao 4.º ano, a mesma percentagem de percursos de sucesso é de apenas 19%.”
Apesar deste ser o cenário geral para o País, lê-se no estudo que nas escolas dos distritos de Braga e Viseu o elevador funciona bem e que os alunos oriundos de contextos mais pobres conseguem concluir o 9º ano de escolaridade com positiva nas provas de Português e Matemática e sem terem chumbado nos dois anos anteriores – esta é a fórmula estabelecida para definir o sucesso escolar. Ou seja, por fatores desconhecidos a este estudo, há escolas que conseguem inverter a tendência e garantir igualdade de acesso aos recursos escolares.
Setúbal é a exceção contrária, já que este é o segundo distrito mais afetado pelo insucesso escolar apesar de ser um dos distritos em que as mães têm mais anos de escolaridade. O que os investigadores apontam, para explicar estas assimetrias dentro do mesmo grupo e as diferenças de desempenho, é que cada escola, individualmente, parece ter um papel determinante no percurso escolar dos alunos:
“A influência de fatores locais como o dinamismo das escolas e dos seus professores, como o grau de importância atribuído ao ensino das crianças e ao trabalho escolar na cultura da região, poderá, porventura, sobrepor-se localmente ao efeito do nível socioeconómico, justificando assim o facto de alunos de regiões com nível socioeconómico baixo poderem, não obstante, ter níveis de desempenho escolares no 3.º ciclo francamente superiores à média nacional.”
O estudo completo está disponível no site da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência.