Mais de três em cada dez raparigas sentem-se discriminadas só por serem mulheres

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[Fotografia: Helena Lopes/Pexels]

As jovens mulheres sentem-se mais discriminadas e continuam a ser responsáveis pela maioria das tarefas domésticas segundo um retrato da Fundação Francisco Manuel dos Santos que reflete uma socialização “muito distinta” de rapazes e raparigas.

Segundo o estudo, Os jovens em Portugal hoje: Quem são, o que pensam e o que sentem, 34% das mulheres referem ter-se sentido discriminadas simplesmente por serem mulheres, enquanto apenas 6% dos jovens dizem ter sentido o mesmo por serem homens, havendo também mais mulheres a sentirem-se discriminadas tanto pela idade como pela orientação sexual.

No que respeita às situações de assédio ou violência, 43% das mulheres jovens dizem ter sofrido violência psicológica, comparativamente a 29% dos homens jovens. A diferença é ainda maior quando está em causa violência física ou sexual, sofrida por 30% das mulheres e 8% dos homens.

O estudo inquiriu 4.900 jovens entre os 15 e 34 anos, representando 2,2 milhões de portugueses, sobre questões tão diversas como o trabalho, as relações, a felicidade ou a participação política para traçar um retrato completo da juventude descreve uma juventude que não é homogénea, cuja vida é influenciada por diferentes aspetos, sobretudo pela idade e pelo seu nível de empoderamento.

Porém, algo que a responsável do estudo destaca neste retrato tão diversificado é as diferenças persistentes entre homens e mulheres.”Surpreendeu-me muito tudo o que tem a ver com a socialização que, em Portugal, se faz das mulheres e dos homens, que é muito distinta em todas as facetas da vida”, disse em declarações à Lusa a economista Laura Sagnier.

Mulheres jovens trabalham três vezes mais em casa do que homens

Uma das diferenças entre eles e elas que mais surpreendeu a investigadora foi, no caso dos jovens casais, a distribuição das tarefas domésticas e relacionadas com o cuidado e educação dos filhos: segundo o retrato da FFMS, as mulheres consideram que fazem três vezes mais trabalho não pago do que os companheiros.

“Isso é um sério problema”, sublinha Laura Sagnier, justificando que, por muito que legalmente haja uma igualdade de oportunidades, se as mulheres forem sobrecarregadas em casa, comparativamente aos homens, é difícil que essa igualdade se verifique noutros contextos.

Na educação e figura de referência, para oito em cada dez jovens inquiridos (80%), a mãe foi o elemento fundamental na sua educação, tendo-o sido mais vezes em regime solitário (46 %) do que em parceria com o pai (34 %). Para os 20 % de jovens cuja mãe não desempenhou um papel central na sua educação, as alternativas mais habituais são: o pai (7 %) ou uma avó (6 %)

Educação e política

Não só pelo género se encontram diferenças entre os jovens em Portugal, sendo a educação outro dos principais fatores que impacta a qualidade de vida dos jovens não só em termos laborais, mas também no quão felizes se sentem.

Quanto ao trabalho, quem estuda mais tem, em média, maior probabilidade de encontrar emprego, de auferir rendimentos superiores e de obter vínculos contratuais mais estáveis.

Por outro lado, o nível de escolaridade contribui para a forma como os jovens se sentem com a vida e, a este nível, enquanto entre os jovens com um nível de escolaridade inferior, 36% se sentem pouco felizes, 28% daqueles que finalizaram o ensino superior sentem-se assim.

Ter mais estudos não garante mais felicidade na vida, mas garante menos infelicidade”, resumiu Laura Sagnier que, por outro lado, e de forma algo contraditória, os jovens com níveis de escolaridade mais elevados sentem mais pressão social do que os restantes relativamente a ter filhos, não desiludir os pais ou a família e ser bem-sucedidos nas relações amorosas.

Outro dos muitos aspetos analisados foi a atitude dos maiores de 18 anos perante o voto e neste âmbito os resultados parecem mostram que, entre os eleitores mais novos, 53% dizem votar em todas as eleições e apenas 14% nunca votaram.

A maioria (74%) defende ainda que “quem não vota também não tem direito a queixar-se dos governantes”.

O retrato será apresentado e discutido no Encontro da FFMS, “Juventudes”, que reúne entre hoje e domingo especialistas nacionais e internacionais para falar sobre os jovens e debater os desafios que enfrentam no Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa

Sexo e intimidade

A relação com a masturbação, ‘sexting’, consumo de pornografia e prostituição é muito mais estreita entre os homens do que entre as mulheres.

No que diz respeito ao prazer, mais de seis em cada dez (63%) homens atingem sempre o orgasmo “face a 35 % das mulheres (o que supõe quase o dobro de vezes entre os homens)”, lê-se no estudo. Para que as mulheres jovens heterossexuais se sintam satisfeitas ou muito satisfeitas nas relações sexuais com o companheiro, precisam de quantidade e também de qualidade: precisam de ter relações no mínimo quase duas vezes por semana (1,9, em média) e de atingir orgasmos pelo menos 7,4 vezes em cada 10, em média. Eles privilegiam a quantidade, mas acabam por se rever numa frequência média semelhante às das raparigas.

Sobre o prazer individual, “há mais do triplo de mulheres que nunca se masturbaram (19 % face a 5 % entre os homens). Por outro, entre os que se masturbam, a frequência entre os homens é superior (54 % masturbam-se uma vez por semana ou mais face a 22 % das mulheres)”, refere a análise.

O estudo deixa ainda um olhar sobre o sexo desprotegido com as mulheres a serem mais cuidadosas no uso da contraceção: 40 % no caso delas face a 31 % no caso dos homens.

Com Lusa