Maria João Bastos: “Eu não apanho sol. Tenho muito, muito cuidado”

A linha de maquilhagem de Maria João Bastos é um projeto muito pessoal em que atriz se envolve de corpo e alma, participando na criação de cada produto.

Esta parceria da atriz com a Make Up Factory iniciou-se no ano passado e foi um verdadeiro sucesso, sendo agora lançada a segunda coleção desta linha tão especial, que está disponível desde abril na Perfumes & Companhia.

O que é que esta segunda coleção da Make up Factory traz de novo?
A ideia de ter uma linha de maquilhagem foi minha, apresentei-a à Perfumes & Companhia, eles adoraram e tornámo-nos parceiros. Desde o início, o meu envolvimento é totalmente diferente. Para esta linha pensei no verão e a primeira coisa que me veio à cabeça foi o Brasil. Tenho uma ligação de 18 anos com este país, portanto já é uma casa para mim, onde trabalho e que me traz muitas memórias. Há tanto que me liga a este país, que quis dar este pedacinho de mim ao público. E daí surgiu a ideia desta coleção ser inspirada no Brasil.

Maquilha-se de forma diferente no Brasil? Porquê?
Sim, porque, durante o dia, no Brasil não há um lugar onde se ande muito maquilhada. Isto no Rio de Janeiro, em São Paulo é diferente. Mas é também foi isso que eu quis trazer um bocadinho. Já mostrei na primeira coleção como é que é a minha maquilhagem na Europa, agora vou mostrar aquilo que sou no Brasil. O conceito é o mesmo, maquilhagem de dia e de noite, mas agora com um toque brasileiro.

Que toque brasileiro é esse como é que isso se traduz nos produtos?
No Brasil não ando muito maquilhada durante o dia, porque o Rio de Janeiro é praia, é sol, mas depois à noite existem muitas festas. Cada produto tem uma inspiração de um lugar do Rio de Janeiro.

Criei os tons que são inspirados na areia da praia, que dão um tom muito natural, mas que se nota. A coleção também tem um iluminador, que para mim é uma das peças essenciais que uso todos os dias, tal como a máscara e o bronzer.

Este bronzer está sempre comigo na carteira, foi inspirado no sol e recria no bronzeado da pele. Eu não apanho sol. Tenho muito, muito cuidado com a exposição ao sol. Mas gosto de ter um tom de pele bronzeada e, para o conseguir, recorro muito à maquilhagem e quis partilhar isso com o público. Depois temos os batôns, mantive o Hydro Lips Smoothie do ano passado, que era das minhas peças preferidas, mas dei-lhe tons e sabores diferentes. Outro lugar do Rio de Janeiro – que eu adoro é o jardim botânico por isso resolvi criar uma sombra inspirada nele. Ao contrário do que seria de esperar não fui pelos tons verdes, porque não os uso muito, criei um castanho tons terra.
Lembra-se da primeira vez que se maquilhou?
Comecei-me a maquilhar muito cedo, com os produtos da minha mãe e para fazer diversas personagens que apresentava à noite em teatrinhos em casa. Portanto, estive sempre ligada a este universo e a minha mãe sempre me deixou usar a maquilhagem dela. Mas não me deixava ir assim para a rua, isso só mais tarde. Lembro-me de ela me oferecer as primeiras maquilhagens para eu puder usar na rua, devia ter uns 12 anos.

Quando começou a ser atriz e a ser maquilhada por profissionais para palco e para cena, não lhe causou estranheza?
Nenhuma. Eu comecei com 12 anos no teatro de Benavente e a minha mãe é que me maquilhava sempre para as peças de teatro. Foi normalíssimo. Claro que entrei num universo totalmente diferente, o profissional, mas esses pormenores já faziam parte da minha vida desde pequenina.

Como é que se sente quando vê as pessoas a usar a maquilhagem que concebeu?
Adoro.

Esperava uma reação tão boa do público?
Foi tudo feito com muito carinho e com a certeza que os produtos eram bons, porque procurei parceiros que me garantissem essa qualidade. Foi uma busca grande e que culminou na Make Up Factory.

Os dois fatores fundamentais para que eu tivesse ficado a trabalhar com esta marca foram a qualidade dos produtos e também a acessibilidade ao público em geral.

Acho que o sucesso vem daí, as pessoas reconheceram essa qualidade e também, ao mesmo tempo, perceberam que eram bastante acessíveis.

Sente que é um ícone de beleza que as pessoas tentam seguir ou imitar, no bom sentido?
Sim, acho que tenho pessoas que me admiram. Mas é engraçado, pelo feedback que tenho dos fãs, creio que as pessoas me admiram mais pela minha determinação e pelo meu empenho na minha vida profissional do que pela beleza.

Acha que ser bonita ajuda as mulheres? A maquilhagem pode ajudar?
O que eu acho é que… se me perguntar qual foi, para mim, o maior prazer ou orgulho desde o dia que lancei a linha de maquilhagem? Foi exatamente ter levado algumas mulheres que nunca se tinham maquilhado a começarem a fazê-lo e a sentirem-se bem. Eu ouço isto diariamente, fico sempre arrepiada e isso deixa-me sempre muito muito feliz.
Agora está a viver no Brasil a gravar a novela Novo Mundo [que vai chegar à antena da SIC em breve]. Pode-me falar um bocadinho desse projeto?
É uma novela de época, lindíssima. A minha personagem, Letícia, é uma botânica, naturalista que vai na missão austríaca com Maria Leopoldina [imperatriz do Brasil entre 1822 e 1826 e rainha de Portugal por oito dias, em 1826] para o Brasil. E nessa fase houve muitos naturalistas que foram para aquele país, muitos deles europeus que foram explorar a flora e a fauna, e ela passa uma mensagem muito importante na novela. A Letícia faz par romântico com o ator Ricardo Pereira. É um casal à frente do seu tempo, sobretudo porque falamos de uma mulher que vai para a mata com o marido. Foi um trabalho minucioso, passamos muitas horas, muitas horas juntos.

Considera que esse período é ainda uma ferida aberta na História do Brasil ou há pouco conhecimento sobre esse período?
Há. E por isso é que eu acho que era preciso falar nele.

Há pouco conhecimento, há muitos mal entendidos e muitos mitos. É importante o público brasileiro e português conhecerem a sua história.

Apesar de ser uma comédia e de satirizar muitas coisas, traz uma humanidade muito importante aquelas personagens históricas, o que é bom para desmistificar também certas coisas.

Relativamente a Portugal também havia dois preconceitos grandes, por um lado a questão do colonizador e, por outro, a questão do português da terrinha. Considera que o seu trabalho e dos seus colegas portugueses no Brasil tem trazido uma nova visão sobre o nosso país?
Não tenho qualquer dúvida disso. A primeira novela que fiz foi há 18 anos e, na altura, não havia portugueses a ir para o Brasil, e lembro-me de ter ouvido muitas vezes coisas que não correspondiam minimamente à realidade sobre Portugal e sobre portugueses. Havia uma ideia muito retrógrada de Portugal, o tem vindo a mudar drasticamente. Hoje em dia, Portugal é outra coisa no Brasil. Não posso dizer que sofri preconceito porque fui sempre bem recebida e bem tratada, acarinhada desde o primeiro dia. Mas senti que havia uma imagem completamente deturpada do que é que era Portugal e do que eram os portugueses.

Tenho a certeza que contribuí muito com histórias que fui contando, com as novelas que fui fazendo, com os programas onde fui e as entrevistas que dei. Agora todos os brasileiros querem vir viver para Portugal.

E a Maria João quer vir viver para Portugal?

Considero que vivo em Portugal. Vivo entre Portugal e Brasil.

É tranquilo viver no Brasil agora com a crise política que o país têm vivido?
Sim, viver é tranquilo, mas não está um momento fácil. Mas também não esta fácil em Paris, nem em Londres. O mundo não esta fácil. Fico triste pelo país, influencia-me porque trabalho lá. As pessoas estão muito revoltadas, estão muito tristes – e com razão – mas levam a sua vida normal, com a característica brasileira que ninguém lhes tira que é uma alegria que parece que está tudo lindo e que a vida é maravilhosa. O mundo pode estar a cair, mas é difícil eles deixarem-se ir abaixo e isso é fantástico, essa energia deles. Mas tenho esperança que recupere.


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