A troca de palavras está acesa e pronta para sucessivos prolongamentos. A Federação norte-americana de Futebol veio refutar a acusação de que as atletas femininas ganhavam menos do que os masculinos. Uma resposta que surgiu na sequência da denúncia que deu entrada no tribunal em março (e que pode ser consultada no original aqui), ou seja, quatro meses antes da seleção se ter sagrado campeã no mundial de França 2014, conquistando, pela quarta vez, este título.
E se a Federação publicou, numa carta aberta, que elas tinham ganho mais entre 2010 e 2018, eis que os homens vêm a terreiro defender… as colegas do relvado. Já ao final de terça-feira, 30 de julho, a seleção masculina divulgou um comunicado, via sindicato dos jogadores, contestando a afirmação da entidade que gere ambas equipas. “Os jogadores da seleção masculina de Futebol não ficaram impressionados com a carta do presidente da Federação de Futebol dos EUA, Carlos Cordeiro, divulgada na segunda-feira”, diz o comunicado.
Neste comunicado, recorde-se, Cordeiro referia que a entidade pagou às mulheres 34,1 milhões de dólares (cerca de 30,6 milhões de euros) em salários e bónus, enquanto que os homens se ficaram pelos 26,4 milhões (cerca de 22,7 milhões de euros). A mesma declaração pública afirmava que a seleção masculina gerava mais receitas, com 185,7 milhões de dólares em 191 jogos, contra 101,3 milhões em 238 jogos. Números que, segundo as alegações da Federação, não incluíam benefícios recebidos apenas pelas mulheres, como a saúde, avança a imprensa internacional.
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Solidários com a luta feminina, cuja acusação de ‘discriminação de género institucionalizada’ corre no sistema judicial dos Estados Unidos da América, os atletas masculinos acusam a Federação de “minimizar as contribuições para o desporto e quando isso lhes convém”. “Isto é mais do mesmo de uma Federação que está constantemente em disputas e litígios e se concentra em aumentar a receita e os lucros sem qualquer ideia de como usar esse dinheiro para incentivar o desporto. Uma forma de aumentar o lucro de forma injusta é recusar o pagamento de uma parcela justa das receitas geradas pelos jogadores nacionais”, reiteraram os atletas.
As contas que ficaram por fazer
Entre as palavras e o embate dos milhões, há quem chame à atenção para as parcelas que a Federação não terá incluído para chegar a esta conta final, e que está a pôr homens e mulheres da seleção nacional norte-americana contra a entidade que os gere.
Num primeiro plano, segundo a estrutura do futebol feminina (USSF), é revelado que ambas seleções não podem ser comparadas devido ao facto de a estrutura de remuneração não estar alicerçada nos mesmos pressupostos, decorrentes de acordos coletivos de trabalho diferentes.
A equipa feminina tem um salário base enquanto os homens têm uma alta taxa variável com base nos jogos e no desempenho dos mesmos. Estes têm ainda direito a pagamentos por treinos, comparências e bónus. Uma análise que, de acordo com a USSF, não pode incluir os prémios em dinheiro oriundos de provas como o Mundial porque são valores determinados pela FIFA, que, como tem sido público, tem vindo a fazer atualizações, mas ainda distantes do plano da igualdade entre géneros.
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Durante a participação da seleção feminina no Mundial de França 2019, da qual saiu vitoriosa, mais de 50 membros do Congresso norte-americano subscreveram uma carta em que lamentavam “o desapontamento por verificar a existência de desigualdades no pagamento, na publicidade e no investimento feitos na seleção feminina de futebol”.
Uma iniciativa que foi para lá da letra, com o senador democrata do West Virginia Joe Manchin a introduzir uma proposta de lei que suspendia o financiamento federal para a seleção masculina e para o Mundial de 2026, a realizar nos EUA, Canadá e México, enquanto esta questão não fosse resolvida. Uma proposta que foi apresentada na imediata sequência da vitória por parte da Megan Rapinoe e companhia frente à Holanda.
Adeus à treinadora bicampeã do mundo
A treinadora Jill Ellis vai deixar o comando da seleção feminina dos Estados Unidos, após ter conduzido a equipa à conquista dos dois últimos Mundiais, anunciou a Federação Norte-americana de Futebol.
A técnica, de 52 anos, assumiu o comando dos Estados Unidos em 2014, tendo, desde então, liderado as norte-americanas em 127 jogos, nos quais somou 102 vitórias. Neste período, a seleção feminina norte-americana conquistou os Mundiais de 2015, no Canadá, e 2019, em França.
Ellis, que recebeu o prémio FIFA de melhor treinadora em 2015, vai manter-se no cargo durante a digressão que as campeãs mundiais vão realizar nos Estados Unidos, durante a qual vão disputar cinco jogos particulares, dois dos quais com Portugal, em 30 de agosto e 04 de setembro.
Finalizada a digressão, Jill Ellis assumirá o papel de embaixadora da Federação Norte-americana de Futebol.
Com Lusa
Imagem de destaque: Reuters
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