EUA. Pedidos de pílulas abortivas no exterior triplicaram

Activists Demonstrate For Access To Abortion And Women's Rights
[Fotografia: Jeenah Moon/Getty Images/AFP]

Desde que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos da América anulou o direito federal ao aborto, aumentaram consideravelmente as encomendas de pílulas abortivas do exterior.

Antes da reversão da lei Roe V. Wade, pelo Supremo Tribunal, a Aid Access recebia diariamente uma média de 83 pedidos por dia dos 30 estados, atualmente o número aumentou para 213 por dia, segundo o estudo, o que representa um aumento de cerca de 160%. O maior crescimento ocorreu nos estados de Louisiana, Mississípi, Arkansas, Alabama e Oklahoma, onde o aborto é proibido por completo.

Este trabalho, publicado na revista científica JAMA, analisou o número de solicitações no serviço de telemedicina Aid Access, que receita e envia comprimidos do exterior para 30 estados. O serviço opera por fora do sistema americano de saúde, foi projetado para escapar a proibições ou dificuldades de acesso e permite que as mulheres abortem em casa, de forma autónoma.

Este estudo não contempla, porém, outras formas de ter acesso a estas pílulas, como as lojas eletrónicas onde, sem apoio médico, podem ser obtidas por centenas de dólares.

A falta de acesso a uma clínica de aborto é um problema que atinge particularmente “as pessoas que não podem se permitir viajar”, segundo os autores.

Numa segunda análise publicada na mesma revista médica e no mesmo dia é feito o cálculo do tempo médio de viagem para as mulheres chegarem até uma clínica e fazerem um aborto. Se antes da reversão da lei federal era de 28 minutos, esse período mais do que triplicou para a hora e 40 minutos.

Trata-se de uma média nacional que ‘mascara’ as realidades absolutamente díspares que estão a ser vividas em estados mais conservadores, onde os períodos de intervalo são bem mais longos. Existem, aliás, casos onde o tempo médio de viagem subiu para as quatro horas, no caso dos estados que implementaram uma proibição total ou limites ao aborto após seis semanas de gravidez.

Nos cem dias que se seguiram à sentença, pelo menos 66 clínicas deixaram de fazer abortos, segundo um relatório do Instituto Guttmacher, publicado no início de outubro.

A seis dias das eleições intercalares nos Estados Unidos da América, o presidente, Joe Biden, tem vindo a tentar mobilizar os americanos em torno do direito ao aborto, prometendo consagrá-lo numa lei federal em caso de vitória democrata no Congresso.

Apesar da crescente insatisfação com a inflação e o risco de recessão a minar as chances de sucesso do seu partido, o chefe de Estado tem vindo a apostar na indignação provocada pela decisão de revogar o direito ao aborto por parte do Supremo Tribunal – de maioria conservadora – para arrecadar votos da esquerda e do centro.

com agências