Europeias: As listas mais e menos feministas, segundo a PpDM

A Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres (PpDM) analisou as listas dos partidos às Eleições Europeias e os respetivos programas, manifestos eleitorais ou apresentações à comunicação social dos seus pontos programáticos e dividiu-as em quatros grupos diferentes, de acordo com o seu nível de paridade (a paridade referência da plataforma é de 50/50) e com os conteúdos programáticos – se focam, ou não, as desigualdades de género e se defendem ou não os direitos das mulheres, e em que níveis.

As desigualdades salariais, a violência contra as mulheres, entre as quais a violência doméstica, o assédio, os direitos sociais, a prostituição, a autonomia sobre o próprio corpo são alguns dos pontos abordados nos programas mais bem classificados em matéria de direitos humanos das mulheres, segundo a PpDM. No extremo oposto estão os partidos que não fazem menção a discriminações ou desigualdades de género ou direitos das mulheres, e que em alguns casos os desvalorizam ou rejeitam, sob o conceito de ‘ideologia de género’.

A maioria das listas ao Parlamento Europeu excedeu, para este ato eleitoral, o mínimo de 33% de representação de um dos géneros, com a paridade total a ser alcançada ou ultrapassada em muitas das candidaturas, embora só haja uma mulher cabeça de lista.

Segundo a Agência Lusa, entre as 17 listas às eleições europeias afixadas pelo Tribunal Constitucional, 11 apresentam um equilíbrio de género igual ao superior a 50%, sendo quatro aquelas que se limitaram ao cumprimento estrito da lei da paridade ainda em vigor, que impõe uma “representação mínima de 33% de cada um dos sexos”.

Considerando apenas os 21 candidatos efetivos, o partido com maior número de mulheres na lista é o CDS-PP, com 12 candidatas, embora a primeira mulher da lista surja no terceiro lugar – conforme estabelece a legislação -, o que é uma posição dificilmente elegível, tendo em conta que a última vez que concorreu sozinho, em 2009, o partido elegeu dois eurodeputados. Isso, conjugado com um programa sem referência aos direitos das mulheres, leva a plataforma a incluir o CDS no grupo das listas menos comprometidas com esses direitos.

“O nosso conceito de paridade segue a recomendação do comité CEDAW (Comité da Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres) ao Estado Português em 2015 – 50/50, que aliás, é o defendido pelo Lobby Europeu das Mulheres e pela Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres, sua coordenação nacional, há muitos anos. Ou seja, não é o conceito de limiar de paridade que se situa nos 40% do sexo sub-representado, embora este tenha sido um avanço preconizado pelo Conselho da Europa”, explica ao Delas.pt, Margarida Teixeira, da Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres.

Para discutir todas estas dimensões, a Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres organiza esta sexta-feira, 17 de maio, pelas 16h30, no Espaço Cultural Santa Catarina, em Lisboa, um debate com candidatos das listas às Europeias, de vários partidos. Foram convidados os partidos com assento no Parlamento Europeu e os que, não tendo, contemplam mais conteúdos sobre os direitos das mulheres nos seus programas.

“As mulheres votam e querem saber o que as candidatas e candidatos defendem na área dos Direitos Humanos das mulheres na Europa! Este é o debate!”, refere o texto de apresentação à discussão desta sexta-feira, com os partidos, no site da organização.

“Vamos partir do que está nos programas dos partidos e também do manifesto 50/50 e daquilo que nós consideramos ser essencial para os direitos das mulheres na Europa”. Ou seja, a Plataforma quer reivindicar junto dos partidos políticos, não só a “igual representação e ordenamento de mulheres e homens nas suas listas eleitorais”, como também “incluir a igualdade entre mulheres e homens, enquanto prioridade, nos seus programas eleitorais” e “propor candidatas/os a Comissárias/os de modo a
assegurar uma representação igualitária de mulheres e homens” também entre os membros da Comissão Europeia.

A pouca representatividade feminina nas listas e a ausência de temas relacionados com os problemas ou direitos das mulheres podem, segundo a plataforma, explicar o afastamento das mulheres dos atos eleitorais. E as Europeias não são exceção. Segundo dados do Eurobarómetro, as mulheres europeias revelaram-se menos interessadas que os homens nestas eleições para o Parlamento Europeu: 42% das mulheres responderam ‘interessada/o’, por comparação com 52% dos homens; ao passo que entre os que responderam ‘não interessada/o’, 47% são homens e 52% são mulheres.

Para isso poderá contribuir o facto de a União Europeia, nos últimos anos, “não ter considerado os direitos das mulheres como uma prioridade”, através da priorização de questões como a conciliação entre o trabalho e a família, a desigualdade salarial e os direitos sexuais e reprodutivos – “há uma desigualdade gritante na Europa, neste aspeto”, salienta Margarida Teixeira.

Em Portugal, a existência de apenas uma cabeça-de-lista mulher – Marisa Matias, pelo Bloco de Esquerda – também pode alimentar esse desinteresse, se se considerarem os dados da sondagem da Pitagórica para o JN e a TSF, de 26 de abril. Esta sondagem mostra que o Bloco de Esquerda surge como o partido mais popular entre as mulheres, do que entre os homens (com cinco pontos de diferença), enquanto os restantes partidos são sempre mais masculinos.

A PpDM espera, com o debate desta sexta-feira, que os partidos políticos consigam perceber que “um assunto que interessa a mais de metade da população portuguesa, se calhar é um assunto que deveria estar mais presente nos debates e nos programas. E presente por si só, autonomamente, não apenas quando falamos de discriminações múltiplas”, conclui Margarida Teixeira.

Percorra a galeria, acima, e veja quais as listas às Europeias, mais e menos feministas, segundo a Plataforma Portuguesa para os Direitos das Mulheres.

Estes são os temas que as mulheres mais querem ver debatidos nas Europeias