Publicidade Continue a leitura a seguir

Eurovisão: Tem de prestar atenção a Manizha e ao hino feminista que vem da Rússia

[Fotografia: Instagram]

Publicidade Continue a leitura a seguir

Os direitos das mulheres, as minorias sexuais e os refugiados. São estas as causas de Manizha, a intérprete russa que sobe esta terça, 18 de maio, ao palco da Eurovisão, na primeira semi-final, a partir de Roterdão.

Cantora e ativista oriunda da Ásia Central chega ao palco da Europa com tema feminista que desafia o conservadorismo russo sobre as mulheres. Mensagem inequívoca na batida do rap mesclada com notas folclóricas e para Russian Woman, fazendo eco de lutas que esta intérprete – que foi refugiada do Tajiquistão no início dos anos 90 do século passado – tem feito nas redes sociais e com as quais tem vindo a somar seguidores. Aliás, foi sobre isso que escreveu recentemente na sua rede social Instagram ao revelar que não veio sozinha à Eurovisão. “As mulheres russas estão comigo hoje”, escreveu.

 

Ver esta publicação no Instagram

 

Uma publicação partilhada por MANIZHA (@manizha)

Com uma descrição desta dimensão, não é por acaso que a sua vitória, a 8 de março, e por escolha dos espectadores russos do canal público tenha surpreendido todos. Afinal, no tema que será entoado esta noite ouvem-se versos como “bem, com quase trinta e ainda sem filhos? No fundo, você é linda, mas gorda demais”. Uma denúncia de preconceitos a que as mulheres russas – e não só – continuam sujeitas e às quais Manizha referiu não ter escapado.

Mas se as reações vieram dos setores mais conservados, ela chegou de ambos géneros. A TV5 Monde recorda que entre os protestos contra o tema desta artista de 29 anos estava os de associações de mulheres ortodoxas, que a acusavam de “insultar e humilhar as mulheres russas” e de incitar “o ódio aos homens, o que mina os fundamentos da família tradicional”. Uma música que teve de passar pelo crivo do Comité de Investigação Russo e após denúncias.

 

Ver esta publicação no Instagram

 

Uma publicação partilhada por MANIZHA (@manizha)

Entre as críticas, destaque para a da presidente da Câmara Alta do Parlamento (equivalente ao Senado), Valentina Matvienko, que se mostrou “surpresa” com a escolha de “muitos russos”.”Não podemos entender o que aconteceu”, afirmou durante uma sessão parlamentar transmitida pela televisão. “Recomendo a quem ainda não viu que faça. É uma porcaria. Não sei o que quer dizer”. “No palco, acabei por lhes mostrar um reflexo no espelho que eles não gostam”, reage a cantora.

Mesmo no meio de coro de críticas (de homens e mulheres), Manizha – que conta que tem como inspiração a vencedora israelita, Netta, que se sagrou em Portugal com um tema alusivo ao #MeToo – chegou aos Países Baixos e para deixar a sua mensagem, que está bem posicionada na bolsa de apostas.

O histórico de ativismo pelas mulheres, pelos refugiados e pelo LGBTQ não chegaram agora. Foi em 2013 que começou o seu caminho nas redes sociais, que a levaram a ter mais de um milhão de seguidores e a ter-se tornado, em dezembro último, embaixadora do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados na Rússia e a angariar, por exemplo, dinheiro para comprar mochilas para crianças de famílias de imigrantes em Moscovo.

Em 2019, usou a sua voz para combater a violência doméstica, tendo participado no lançamento de uma aplicação que ligava vítimas a centros de acolhimento através de sinais de alarme. Ao longo de todos estes anos, a comunidade LGBTQ fez sempre parte das suas preocupações e das suas lutas, o que lhe valeu algumas batalhas.

Nascida em 1991 no Tajiquistão, filha de uma psicóloga e figurinista e de um médico, viu a sua cada destruída durante a guerra civil de 1992 -1997 e na sequência da queda da URSS.

Aos três anos, ela e a família mudava-se para Moscovo tendo conhecido profundamente a dureza da vida e dos inclusão de refugiados ilegais.