Experiências sexuais de solteira paquistanesa geram controvérsia

A adolescência de Zahra Haider, contada pela própria no site Vice, levantou um aceso debate sobre a cultura paquistanesa e as hipotéticas amarras islâmicas que “reprimem profundamente a sexualidade” dos cidadãos. O retrato social do Paquistão feito por Haider, que vive atualmente no Canadá, gerou controvérsia nas redes sociais.

As críticas à paquistanesa apontam para esta estar a desenhar um quadro que não corresponde à realidade daquele país, visando o facto de o Paquistão ser ou não o país com mais pesquisas na internet por pornografia, como sublinha Haider, apoiando-se num estudo realizado pela Google em janeiro de 2015. A jovem, que se mudou para o Canadá depois completar 19 anos, confessou ter dormido com “quase uma dúzia de homens” durante a adolescência, o que foi alvo julgamentos por parte dos internautas, que a consideraram “pervertida”.

“É por causa de pessoas como tu que é criada a imagem dos paquistaneses como as pessoas mais sexualmente excitadas do mundo”, foi outra crítica atirada, que se opôs a mensagens de apoio à paquistanesa, nomeadamente por falar abertamente de um assunto tão pouco escrutinado naquela República Islâmica.

“Andamos excitados e desesperados por sexo, mas Deus proíbe que tenhamos relações. Sexo no Paquistão é considerado um tema tabu. Os homens não são julgados na nossa sociedade patriarca, mas se uma mulher for apanhada a ter sexo fora do casamento, está em graves problemas”, começou por enquadrar Haider. Apedrejamento até à morte, chicotadas em público e amputações são alguns dos castigos denunciados pela paquistanesa.

Haider, que recorria frequentemente ao hotel mais barato de Islamabad, contou ainda o esforço logístico que tem de ser fazer no país para não ser descoberta: “O rapaz, que era quem reservava o quarto, era quem subia primeiro. Eu esperava cerca de quinze minutos para garantir que ninguém do hotel ou seguranças soubessem que estaríamos prestes a ter sexo bruto e feroz antes do casamento.”

“Quando os meus pais descobriram um dos meus encontros, reagiram de forma completamente irracional e melodramática, alegando que estava a destruir o meu futuro. Proibiram-me de falar com o rapaz para sempre e avisaram os seus pais e os diretores da minha escola”, revelou ainda Haider.

Zahra alertou também para as consequências da ignorância sobre educação sexual: “Muitos paquistanesas acabam por ter overdoses de contracetivos por não saberem como devem tomá-los. Ou, ainda pior, veem-se forçadas a fazer abortos de forma clandestina, restando-lhes apenas formas dolorosas e pouco seguras pelo facto de o aborto só ser permitido em caso de morte para a mulher.”

À BBC, a jovem contou que escreveu o artigo para encorajar os paquistaneses a abordar com naturalidade a discussão sobre sexo. Haider disse ainda que recebeu uma mensagem de um homem do Paquistão cujo irmão acabou por morrer com sida por não perceber o que se estava a passar com o corpo dele e por ter vergonha de falar sobre o assunto.