
O que parecia uma miragem, não está afinal acessível a todos. Se estar em casa com o cônjuge era a promessa da recuperação de uma vida a dois e de voltar a viver tempos sexualmente inexcedíveis, afinal a realidade pode não ser bem essa.
Ao Delas.pt, Susana Dias Ramos revela quais as queixas mais comuns dos casais em tempo de confinamento e justifica o que se está a passar. A especialista em Sexualidade Clínica e Terapia de Casal fala em cansaço, em monotonia e até falta de interesse sexual. Neste caso, alega mesmo razões biológicas para justificar esta apatia.
A psicóloga, que tem vindo a dar um conselho por dia a casais para apimentar a relação em tempo de confinamento, antecipa tempos novos para a vida a dois após a quarentena e aposta até mais em aumento de divórcios do que em crescente taxa de natalidade. De caminho, a especialista vaticina o fim de muitas relações extraconjugais.
As queixas que mais ouço são a fadiga da monotonia, não há vida além do casal. Quem tem filhos ainda tem um registo diferente, mas também ele entra na equação. Um dia atrás do outro, chega a uma altura em que o casal está desgastado de não existir expectativa nem espera ou saudade do parceiro. É muito importante terem gostos e tarefas diferentes durante o dia, nem que um se demore a plantar coentros e outro a ler um livro, mas algo diferente em diferentes partes da casa. Quanto mais pequenas e sem varanda ou jardim são as casas, maior é a dificuldade.
E ao nível sexual?
Na questão sexual, ao contrário do expectável – uma vez que estão com mais tempo, mais descontraídos relativamente aos horários -, a taxa de relações sexuais diminui percentualmente. Não há o incitamento da espera do outro, e o ser humano por natureza é um “predador”. Aqui, não há nada a esperar ou procurar ou a aguardar, está demasiado disponível. Para quem tem filhos que estão também confinados ao mesmo local, a intimidade apresenta-se mais difícil, o que faz com que duas coisas possam acontecer: há casais que se abstêm devido à falta de privacidade, mas outros como a relação sexual acarreta mais arte e perigo daí aumenta o desejo. Nestes casos, é a pimenta que falta para aumentar a vontade e a procura do outro.
Quais as relações que tendencialmente mais resistirão a esta quarentena: as mais recentes, as mais antigas? Que outros fatores são decisivos?
Os ditos “outros fatores decisivos” terão mais peso que o tempo da relação. Dizer que o tempo influencia a qualidade de um relacionamento é errado. O que verdadeiramente faz a diferença são os intervenientes no mesmo! Há relações de três anos à prova de bala e de 20 que nem à prova de vento, e o contrário também acontece. Aqui o comprometimento das pessoas na relação é que vai ditar o evoluir destes tempos tão diferentes e complexos. Acredito que relações tremidas venham a melhorar drasticamente e que as sólidas venham a tremer. E, mais que tudo, relações extraconjugais vão tendencialmente chegar ao fim. Daí que os casamentos onde essas terceiras pessoas existiam sofram um enorme melhoria. Cada caso é um caso e só o vamos conseguir avaliar individualmente. O que partilho com os meus pacientes é que devem dar o melhor de si porque, mais que nunca, eles não são ilhas, não estão isolados!
Relativamente aos divórcios, o que se pode esperar?
Isso sim é a questão: Para o início do próximo ano temos mais bebés ou mais divórcios? Acho que mais divórcios.
Porquê?
Tudo o que estava por um fio vai ser quebrado, instigando já a alterações que antes se receavam. Há casais que já se separaram porque se aperceberam que seria impossível passar por isto 24 sobre 24 juntos sem se tolerarem, e daí que já estejam separados. Quem ainda está a esticar a corda, não irá hesitar em rebentá-la assim que for possível. A minha bola de cristal mostra-me pouca natalidade para muita tinta em tribunal. Mas isso não é obrigatoriamente mau. Muito pelo contrário: há um choque com a realidade que, provavelmente, seria mais difícil de ver sem esta ajuda.
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