Fadiga da monotonia e falta de sexo entre as maiores queixas dos casais

Quarrelling Young Couple in the Bed, Young People Lying Turned Away From Each other and Lay on Their Sides Holding Grudges and Being Offended
[Fotografia: Istock]

O que parecia uma miragem, não está afinal acessível a todos. Se estar em casa com o cônjuge era a promessa da recuperação de uma vida a dois e de voltar a viver tempos sexualmente inexcedíveis, afinal a realidade pode não ser bem essa.

Ao Delas.pt, Susana Dias Ramos revela quais as queixas mais comuns dos casais em tempo de confinamento e justifica o que se está a passar. A especialista em Sexualidade Clínica e Terapia de Casal fala em cansaço, em monotonia e até falta de interesse sexual. Neste caso, alega mesmo razões biológicas para justificar esta apatia.

A psicóloga, que tem vindo a dar um conselho por dia a casais para apimentar a relação em tempo de confinamento, antecipa tempos novos para a vida a dois após a quarentena e aposta até mais em aumento de divórcios do que em crescente taxa de natalidade. De caminho, a especialista vaticina o fim de muitas relações extraconjugais.

Susana Dias Ramos [Fotografia: DR]
Susana Dias Ramos [Fotografia: DR]
Um mês e meio depois, quais as queixas mais frequentes e quais as que mais mudaram no plano o casal e no plano sexual? Porquê?

As queixas que mais ouço são a fadiga da monotonia, não há vida além do casal. Quem tem filhos ainda tem um registo diferente, mas também ele entra na equação. Um dia atrás do outro, chega a uma altura em que o casal está desgastado de não existir expectativa nem espera ou saudade do parceiro. É muito importante terem gostos e tarefas diferentes durante o dia, nem que um se demore a plantar coentros e outro a ler um livro, mas algo diferente em diferentes partes da casa. Quanto mais pequenas e sem varanda ou jardim são as casas, maior é a dificuldade.

E ao nível sexual?

Na questão sexual, ao contrário do expectável – uma vez que estão com mais tempo, mais descontraídos relativamente aos horários -, a taxa de relações sexuais diminui percentualmente. Não há o incitamento da espera do outro, e o ser humano por natureza é um “predador”. Aqui, não há nada a esperar ou procurar ou a aguardar, está demasiado disponível. Para quem tem filhos que estão também confinados ao mesmo local, a intimidade apresenta-se mais difícil, o que faz com que duas coisas possam acontecer: há casais que se abstêm devido à falta de privacidade, mas outros como a relação sexual acarreta mais arte e perigo daí aumenta o desejo. Nestes casos, é a pimenta que falta para aumentar a vontade e a procura do outro.

Quais as relações que tendencialmente mais resistirão a esta quarentena: as mais recentes, as mais antigas? Que outros fatores são decisivos?

Os ditos “outros fatores decisivos” terão mais peso que o tempo da relação. Dizer que o tempo influencia a qualidade de um relacionamento é errado. O que verdadeiramente faz a diferença são os intervenientes no mesmo! Há relações de três anos à prova de bala e de 20 que nem à prova de vento, e o contrário também acontece. Aqui o comprometimento das pessoas na relação é que vai ditar o evoluir destes tempos tão diferentes e complexos. Acredito que relações tremidas venham a melhorar drasticamente e que as sólidas venham a tremer. E, mais que tudo, relações extraconjugais vão tendencialmente chegar ao fim. Daí que os casamentos onde essas terceiras pessoas existiam sofram um enorme melhoria. Cada caso é um caso e só o vamos conseguir avaliar individualmente. O que partilho com os meus pacientes é que devem dar o melhor de si porque, mais que nunca, eles não são ilhas, não estão isolados!

Relativamente aos divórcios, o que se pode esperar?

Isso sim é a questão: Para o início do próximo ano temos mais bebés ou mais divórcios? Acho que mais divórcios.

Porquê?

Tudo o que estava por um fio vai ser quebrado, instigando já a alterações que antes se receavam. Há casais que já se separaram porque se aperceberam que seria impossível passar por isto 24 sobre 24 juntos sem se tolerarem, e daí que já estejam separados. Quem ainda está a esticar a corda, não irá hesitar em rebentá-la assim que for possível. A minha bola de cristal mostra-me pouca natalidade para muita tinta em tribunal. Mas isso não é obrigatoriamente mau. Muito pelo contrário: há um choque com a realidade que, provavelmente, seria mais difícil de ver sem esta ajuda.

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