Falta de contratos escritos e salários baixos afetam futebol feminino

Bola-futebol

Apenas 53% das atletas profissionais de futebol feminino têm um contrato escrito com os clubes, e 60% recebem abaixo dos 500 euros mensais, aponta um relatório publicado este mês pela Federação Internacional de Futebolistas Profissionais (FIFPro).

O relatório sobre as condições de trabalho no futebol feminino profissional e na representação das seleções nacionais foi criado a partir de um estudo da Universidade de Manchester, baseando-se em inquéritos entregues a mais de 3.500 futebolistas a jogar pelas seleções principais ou a competir nas principais ligas, em Inglaterra, França, Alemanha, Suécia e Estados Unidos.

Na categorização demográfica das inquiridas, 69% têm entre 18 e 23 anos de idade, com salário médio associado ao futebol de 600 dólares (509 euros), ainda que metade não receba qualquer verba e quase dois terços ganhem menos do que a média.

A duração média de um contrato é de um ano, sendo que 90% das inquiridas admite deixar o futebol antes de tempo para ter filhos ou por razões económicas, com cerca de 46% a estudarem ao mesmo tempo e quase um terço a acumularem outro trabalho.


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As jogadoras apresentam uma taxa alta de escolarização, com 84% a terem completado a escolaridade obrigatória e 30% a completarem formação superior.

Quase 80% das inquiridas não têm conhecimento ou não receberam qualquer contrato por representarem a seleção nacional, com 17,2% a receberem um contrato.

Nos clubes, cerca de 53% das atletas têm um contrato escrito, 72,1% das quais profissionais, contra 76% de atletas amadoras que não têm qualquer vínculo com os emblemas que representam.

Com salários abaixo dos 600 dólares (509 euros) encontram-se 60% das inquiridas, enquanto 30% recebem entre 600 a dois mil dólares mensais (cerca de 1.700 euros), sendo que 37% reportaram já ter tido salários em atraso.

No universo de futebolistas inquiridas, 17,5% foram vítimas de discriminação de género, 5,4% de homofobia, 4,5 % e 3,5% de assédio sexual.

Das futebolistas afetadas por discriminação, 71,8% foram vítimas de racismo pelos adeptos durante os jogos e 60% por parte do corpo técnico dos clubes.

No que toca ao assédio e abuso sexual, 30,2% foram vítimas de assédio por adeptos durante os jogos, 39,7 por cento pelo ‘staff’ de clubes e 22,4 por cento por administradores e diretores dos clubes.

Das inquiridas, só dois por cento têm filhos, ainda que 47% das futebolistas afirmem deixar o desporto antes da idade esperada para se retirarem para poderem começar uma família.

O documento inclui ainda uma série de seis recomendações, que passam por “tratar mulheres no desporto como uma mais-valia em vez de um custo”, a “defesa de condições mínimas de trabalho e de educação”, o combate “à discriminação e assédio do individual ao institucional” e o desenvolvimento de um futebol feminino “sustentável economicamente”.

“Os dados deste relatório podem servir como uma plataforma para a FIFPro procurar mudanças”, apontou o secretário-geral da federação, Theo van Seggelen, na introdução ao documento, enquanto Caroline Jonsson, diretora do Comité de Futebol Feminino, defendeu a necessidade de “assegurar trabalhos decentes e seguros para futebolistas profissionais”.

“Esta carreira, para mulheres, só agora começa a tornar-se uma opção viável. Que a oportunidade tenha chegado tão tarde é inaceitável, e mostra como o futebol está atrasado em relação a outros setores da sociedade no que toca à igualdade de género”, referiu.