Feministas reagem a morte e violação de freira e a críticas de bispo do Porto

Freira Tona

O Movimento Democrático de Mulheres (MDM) reagiu esta quarta-feira, 18 de setembro, ao homicídio e violação da freira Antónia Guerra de Pinho, que terá ocorrido no dia 8 do mesmo mês, em São João da Madeira.

O núcleo de Aveiro do MDM publicou, na sua página de Facebook, uma nota de repúdio pelo “assassinato e violação de uma mulher de S. João da Madeira”.

Lembrando o percurso profissional e social da freira, conhecida na região por irmã “Tona”, a organização sublinha que “foi mais uma vítima de um assassino, violador e toxicodependente, que já tinha cumprido 16 anos de pena de prisão por crimes de violação”. “Estava em liberdade há três meses, mas recentemente já tinha tentado violentar uma jovem”, refere a nota, questionando o “problema do acompanhamento social e psicológico de violadores, que saem da prisão”, revelado pela trágica morte desta mulher.

“O Movimento Democrático de Mulheres não pode deixar de repudiar mais este crime hediondo e de exigir medidas de combate e prevenção da violência sobre as mulheres, nomeadamente a violência sexual, criando mecanismos de segurança que envolvam forças policiais, tribunais e serviços de saúde.”

A nota do MDM surge um dia depois de o bispo do Porto ter criticado o silêncio de várias entidades e personalidades sobre este caso. Entre os visados estão as ativistas feministas.

“Com honrosa exceção da Câmara Municipal de São João da Madeira, nenhum político, nenhum (e nenhuma…) deputado desses radicais, nenhum organismo que diz defender os direitos humanos, nenhuma feminista veio condenar o ato”, escreveu Manuel Linda no siteda diocese do Porto. O bispo prossegue, com a acusação de dualidade de critérios no tratamento das vítimas dado pelas organizações e figuras que elenca. “Nenhum e nenhuma! Porquê? Porventura porque, para elas (e para eles…) as vidas perdem valor se se tratar de pessoas afetas à igreja. Sumamente, se defenderem a sua honra”.

Ainda que a nota do MDM não faça qualquer menção às declarações do bispo, outras organizações, como A Coletiva, responderam a Manuel Linda. Ao jornal Público, Andrea Peniche, que é também da Plataforma 8 de Março, diz que “Antónia Pinho não era diferente das outras mulheres assassinadas, pelo contrário, foi o facto de ser mulher que fez dela vítima” e acrescenta: “Nós não esquecemos nenhuma delas. Gostaríamos que D. Manuel Linda e a hierarquia da Igreja Católica fizessem o mesmo, com as mortas, com as sobreviventes e com as vivas.” No comunicado enviado àquele jornal, a ativista contrapõe e questiona, por exemplo, “onde está a hierarquia da Igreja Católica quando um juiz invoca a Bíblia para desvalorizar a violência doméstica?” “Não está, bem o sabemos, mas as mulheres católicas estão”, responde.

No texto publicado no site da diocese do Porto e intitulado ‘Critérios’, o bispo do Porto diz também que “o sistema judiciário falhou redondamente” no caso da freira “Tona”,uma vez que o presumível autor, que tinha saído em liberdade há poucos meses, tinha antecedentes pelos crimes de violação, pelo qual foi condenado. Seria ainda, segundo o Jornal de Notícias, alvo de um mandato de detenção, emitido pelo Ministério Público, cinco dias antes da presumível morte de Antónia Guerra de Pinho, por tentativa de violação de uma jovem de 20 anos.

“A dar crédito aos jornais, foi preciso duas tentativas (?) de violação, a juntar aos antecedentes criminais, para se emitir um mandado de captura do malfeitor. E a execução deste demorou tanto que, para a Irmã Antónia… já não foi a tempo. Alguém tem de ser responsabilizado por isto. Se é pouco previsível que o sistema judicial seja «chamado à pedra», pelo menos moralmente algumas pessoas hão de sentir-se culpadas pelo homicídio da religiosa”, escreveu o bispo do Porto.

AT

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