Fertilidade. Vacina não afeta mulheres sujeitas a tratamentos, diz estudo

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[Fotografia: Pexels]

A vacinação contra a covid-19 não afeta a taxa de fertilidade nas mulheres submetidas a tratamentos de fertilização in vitro, revela um estudo realizado nos Estados Unidos e divulgado na terça-feira, 25 de janeiro. A equipa de investigação do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, comparou taxas de fertilização, gravidez e aborto prematuro em pacientes de fertilização in vitro que receberam duas doses da vacina, da Pfizer ou Moderna, e obtiveram os mesmos resultados que entre as mulheres não vacinadas.

A investigação incluiu pacientes cujos óvulos foram retirados dos ovários e fertilizados com esperma em laboratório, criando embriões que foram congelados e depois descongelados e transferidos para o útero e nas que que passaram por um tratamento médico para estimular o desenvolvimento do óvulo. As mulheres do estudo submeteram-se aos tratamentos entre fevereiro e setembro de 2021.

Os dois grupos de transferência de embriões congelados e descongelados (214 vacinadas e 733 não vacinadas) obtiveram taxas semelhantes de gravidez e perda precoce de gravidez. Também os dois grupos de mulheres submetidas à estimulação ovárica (222 vacinadas e 983 não vacinadas) apresentaram taxas semelhantes de recuperação de óvulos, fertilização e embriões com número normal de cromossomas. A equipa da pesquisa não encontrou diferenças significativas na resposta à estimulação ovárica, qualidade dos óvulos, desenvolvimento embrionário ou resultados da gravidez entre pacientes vacinadas e não vacinadas.

“As nossas conclusões de que a vacinação não teve impacto nestes resultados devem ser tranquilizadoras para as mulheres que estão a tentar engravidar ou que estão no início da gravidez”, afirmou Devora A. Aharon, a principal autora do estudo e especialista em fertilidade da Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai (ISMMS).

Para os autores da investigação, publicada na revista Obstetrics & GynecologyEstes, estes resultados somam-se ao “crescente corpo de evidências” que garante que a vacinação contra a covid-19 não afeta a fertilidade. “Este é um dos maiores estudos para rever a fertilidade e os resultados dos ciclos de fertilização in vitro em pacientes que receberam vacinas contra a covid-19”, salientou a especialista.

“Com este trabalho podemos ajudar a tranquilizar os pacientes em idade reprodutiva e permitir que tomem as melhores decisões. Cria conforto às pessoas saberem que a vacina contra a covid-19 não afeta o seu potencial reprodutivo”, pode ler-se no comunicado.

A divulgação deste estudo coincide com a vaga da nova variante Ómicron, altamente contagiosa. Os investigadores referiram ainda que estudos anteriores apontam que a vacinação ajuda a proteger as mulheres grávidas contra o desenvolvimento da doença grave, confere anticorpos aos bebés e não aumenta o risco de parto prematuro ou problemas de crescimento do feto.

Vacina e alterações menstruais

Em janeiro deste ano, um estudo norte-americano propôs-se a olhar para as alterações menstruais após vacinação. Segundo a análise, que pode reler aqui, a menstruação mais demorada no tempo e com maiores fluxos, mas com caráter transitório, eram duas alterações reportadas pelas mulheres sujeitas à pesquisa. “Os efeitos são pequenos e esperam-se que sejam temporários”, afirmou Alison Edelman, autora do estudo elaborado pela Oregon Health & Science University, financiado pelo governo dos Estados Unidos da América e que comparou alterações menstruais em mulheres não vacinadas e vacinadas.

Mediante alterações de fluxo assinaláveis, a autoridade de saúde norueguesa emitiu norma em que recomendava adiamento de nova dose da vacina enquanto nos houvesse uma estabilização.

Por cá e nesta matéria, a base de análise disponível em território português dizia respeito à comunicação voluntária de efeitos secundários das vacinas reportadas pelas mulheres ao Infarmed.

O Delas.pt pediu dados em julho e em setembro. Nessa altura, as respostas da Autoridade Nacional do Medicamento indicaram, a 18 de julho, uma média de 1 caso de “distúrbios do sistema reprodutor e mama” por cada 100 mil vacinados e, a 13 de setembro, um racio que tinha subido aos 1,2 casos por 100 mil.

À data, a resposta do Infarmed ao Delas.pt salvaguardava: “As notificações espontâneas de reações adversas são úteis para a deteção de novos sinais de segurança, mas não podem ser usadas para determinar a frequência de ocorrência de um determinado evento. Para tal, são usados estudos específicos, que o PRAC também apreciou e sobre os quais não se concluía pela existência de qualquer relação causal nesta fase”.

A autoridade reiterava ainda que “não podia ser estabelecida uma associação causal entre estas vacinas e as alterações menstruais, sendo estas muito comuns na população em geral, transitórias por natureza, e podendo ocorrer na ausência de qualquer condição médica subjacente”. Esta tinha sido, aliás, a conclusão da reunião de 30 de agosto a 2 de setembro da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e na qual a questão foi abordada.

Lusa