Filhos batem mais nas mães, sobretudo nas mais velhas

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[Fotografia: Shutterstock]

Todos os dias há, em média, um pai ou uma mãe agredidos pelos filhos, em contexto de violência doméstica, revelam dados da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que registou 1.777 casos entre 2013 e 2015. As mulheres são – de acordo com os mesmos números citados pela Lusa – quem mais sofre com esta realidade.

Entre as vítimas, mais de 83% são mulheres (1475 denúncias) e em cerca de 49% dos casos tinham 65 anos ou mais de idade.

Dos mais de 1700 pedidos de ajuda feitos à associação, 4.327 são “factos criminosos”, havendo, no total dos três anos, 123 casos de furto/roubo, 698 casos de ameaça/coação, 1.090 ocorrências de maus tratos físicos e 1.658 crimes de maus tratos psíquicos.

Contas feitas, houve mais de 592 casos por ano, o que representa pelo menos um caso por dia em que pais são vítimas de violência doméstica por parte dos próprios filhos. Aplicando o rácio ao género feminino, conclui-se que 491 mães foram agredidas pelos filhos, por ano. Números impressionantes que revelam mais do que um caso por dia.

Casos como o de Hermínia (nome fictício), mais de 70 anos, agredida durante alguns meses por um filho, entre murros, apertões e puxões de cabelo, dão rosto a estas estatísticas.

Hermínia fala sempre de mão dada com Inês Gonçalves, a assessora técnica do Gabinete de Apoio à Vítima de Lisboa que tem acompanhado o seu caso. Está nervosa e isso fá-la sentir mais calma. Viajou de propósito da cidade onde agora reside com um familiar para a entrevista.

“Sempre nos demos bem”, recorda, quando começa a falar da relação que tinha com o filho. “Mas depois da morte do pai ele começou-me a tratar mal”.

O filho, atualmente na casa dos 40 anos, com um historial de toxicodependência e doença psiquiátrica, continua a viver na casa de família, enquanto Hermínia viu-se obrigada a sair, tendo encontrado abrigo na casa de um familiar.


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“Fechava os punhos, batia-me de um lado e de outro, puxava-me os cabelos, batia-me na cabeça, batia-me nos olhos, apertou-me o nariz, tapou-me a boca e apertou-me o pescoço e outras coisas mais”, conta à Lusa.

Depois da morte do marido, as agressões acontecem de forma continuada, durante meses. Logo na primeira vez, Hermínia teve de receber tratamento hospitalar, ao mesmo tempo que iam sendo feitas várias queixas na polícia.

No entanto, o caso só chega à APAV depois de uma funcionária de uma instituição bancária, onde Hermínia tinha conta, ter desconfiado do que se estava a passar. Eram frequentes as idas ao banco com o filho para levantar dinheiro e eram também frequentes as vezes que aparecia com hematomas no rosto.

“Foi esta senhora que acabou por dar o alerta e foi assim que esta situação chegou até nós”, revela Inês Gonçalves.

Hermínia sonhava envelhecer em casa – porque até tinha recursos económicos para isso – mas agora aguarda por uma vaga num lar de idosos.

Não há dia em que não pense no que se passou e chora quando constata o óbvio, como que a desculpar: “É meu filho”, diz, enquanto encolhe os ombros.

Fez muitos quilómetros para a entrevista, mas a sua grande preocupação é conseguir passar por casa e deixar uns sacos com comida ao filho.