Filomena Cautela: Dos ‘Morangos com Açúcar’ à Europa

Foram precisos 15 anos (e 15 são muito poucos) para saltar de uma primeira novela juvenil da TVI que fez história, os Morangos Com Açúcar, para o estrelato do ‘velho continente’ e para por os europeus rendidos a seus pés. Este é, em duas linhas e nos traços mais gerais possíveis, o percurso de Filomena Cautela desde o início até à atualidade.

Mas não foi só isto que ‘Mena’ – como se faz apresentar informalmente no meio televisivo – fez ao longo de década e meia de muito trabalho, sempre à velocidade que lhe é caraterística e que lhe é reconhecida por todos: desde colegas a espectadores.

Hoje, com 33 anos, Cautela soma novelas, peças de teatro e muita apresentação: na MTV, na Globo Portugal, na RTP2 e na RTP1 – onde está atualmente (e num regresso!), no 5 para a Meia Noite. Na galeria acima, recorde mais de meia centena de imagens da apresentadora desde a sua estreia na televisão, em 2003.

De uma gravidez na adolescência na novela até ao estrelato

A menina que deu corpo a Carla Santos Silva, uma jovem que engravidou muito antes do tempo, na novela da TVI, é hoje uma mulher que tem a Europa e os fãs da Eurovisão a clamarem pelo seu regresso à apresentação do festival.

Das quatro apresentadoras do concurso musical que decorreu na semana passada, em Portugal, Cautela foi mesmo das que deu mais nas vistas, como noticiou o Delas.pt em primeira mão. O facto de ter sido – do quarteto constituído por ela, por Daniela Ruah, por Catarina Furtado e por Sílvia Alberto – a que mais poderia escapar às apertadas regras da Eurovisão, fez de Mena o rosto mais visível junto do público.

“Podemos ter a Filomena todos os anos, por favor?”, pediu um dos fãs da Eurovisão na Internet. “Ela é, de longe, a melhor anfitriã deste ano. Até aquela parte da dança prova isso”, comentou um outro seguidor do certame no canal do YouTube. Um vídeo que pode rever abaixo.

Há até quem tenha escrito que a apresentadora portuguesa “tem tudo o que é preciso” para conduzir um evento desta natureza e quem tenha defendido que ela conseguiria fazer esta edição sozinha.

A luta pelo cinema e teatro

Filomena tem pugnado pelas artes e pelos profissionais que a fazem. Foi rosto do programa da RTP2 sobre curtas metragens, o Fá-las Curtas, e recentemente, em março e no dia Mundial do Teatro, voltou a fazer ouvir a sua voz crítica.

Dirigindo-se diretamente ao ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, a apresentadora e atriz escreveu no seu Instagram: “Queremos sentar-nos numa sala sabendo que os nossos artistas trabalham com condições dignas e que são justamente remunerados pelo seu trabalho”. Lembrou que os “profissionais do espetáculo” estão numa situação “precária” e pediu “revisão urgente” para as “formas de apoio às artes”.

“A sobrevivência do artista independente, verdadeiro e que não sabe nem tem de se encontrar nos patrocínios, tem de ser salvaguardada”, sublinhou Cautela.

Uma polémica… que também chegou à Europa

Estávamos a 28 de dezembro de 2009 e a data apelava a preparativos de festa, afinal aproximava-se o réveillon. No entanto, o programa do 5 para a Meia-Noite, então exibido na RTP2, iria cortar à faca esse clima de festa devido a uma piada que correu mal, dita pela apresentadora daquela emissão, Filomena Cautela. Um caso que, já mais tarde e sem contar com Mena na acusação, acabou no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

A graça envolvia o apresentador da TVI Manuel Luís Goucha, que ganharia o título de “melhor apresentadora do ano”, sendo uma das hipóteses de resposta ao lado de três mulheres: a própria Filomena Cautela, Cláudia Vieira e Carolina Patrocínio. O rosto das manhãs de Queluz de Baixo não tardou a manifestar o desagrado junto da produção e avançou que iria processar a apresentadora, o produtor (Carlos Moura) e estação emissora (RTP2).

Menos de uma semana depois do sucedido, Mena reagia à imprensa: “Não se quis ofender o Manuel Luís Goucha”, afirmou, repetindo que tudo “não passou de uma brincadeira“. “Respeito-o muito e respeito a sua reação, se ele se sentiu assim, lamento muito”, acrescentou.

O Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa e o Tribunal da Relação não deram razão ao apresentador. Mas o acórdão deste último levou Goucha a tomar todas as medidas, em todas as instâncias possíveis. Isto porque a Justiça escreveu: “Todos reconhecem ao apresentador caraterísticas que refletem atitudes atribuídas ao sexo feminino, tal como a sua forma de se expressar… para além de que o apresentador usa roupas coloridas próprias do universo feminino e apresenta um tipo de programas também eles ligados às mulheres.”

A graçola do 5 para a Meia Noite deixa de ter importância perante tais considerandos de uma juíza inquinados, em meu entender, pela ignomínia do preconceito. Portanto, pelo facto de me vestir de amarelo, laranja, rosa (seja do que for)… e de trabalhar diariamente com e para uma plateia maioritariamente feminina, já justifica que eu seja chamado de apresentadora e tudo o mais que que se queira ao arrepio do meu género”, escreveu o rosto da TVI no seu blog O Cabaré do Goucha.

Em março de 2016, o processo chegava ao fim. “Entendendo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem que, apesar das frases infelizes proferidas em sentença, não há provas efetivas que a decisão da juíza tenha sido motivada pelo preconceito. E que a sátira (isto em relação ao caso do programa que está na origem de toda esta demanda), que tem sempre o objetivo de provocar e agitar, é marcada pelo exagero”, escreveu o anfitrião das manhãs da TVI.

Imagem de destaque: Gustavo Bom/Global Imagens

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