Está guardado a sete chaves, mas anuncia-se já – para lá do encontro de físico de sósias com seguidoras de Filomena Cautela – um programa de televisão sobre o tema. Depois do evento em torno do ator José Condessa, as redes sociais da plataforma online Lookalikept, criada por seis mulheres, anuncia a chegada de uma nova iniciativa em que “as nossas ‘quase Menas’ vão competir pelo título de Filomena Cautela Lookalike num programa de televisão”, lê-se no post.
As inscrições estão abertas, sabe-se o dia e a hora (17 de dezembro, 19.30 horas), desconhece-se o local concreto – indica apenas Grande Lisboa – e o prémio, mas as candidatas devem preencher e submeter formulário com a identidade, características que as tornam parecidas com a celebridade em causa e objetivos na participação.
“Se achas que tens tudo para ser a Melhor Quase Mena, inscreve-te no nosso formulário que está na descrição e habilita-te a participar no nosso concurso que acontecerá não ao vivo, mas a cores, na televisão”, informa ainda o mesmo post.
Portugal segue, desta forma, tendência internacional que tem feito furor e que já ocorreu em torno de, entre outros, o ator franco-americano Timothée Chalamet ou o cantor britânico Harry Styles. Por cá, o estreante foi o ator José Condessa e o evento, que teve lugar a 24 de novembro, juntou 12 candidatos ao título e a vitória foi entregue a Daniel Costa Peres, estudante de Biologia Celular e Molecular, de 20 anos.
Mas, afinal, que febre é esta? “Creio que existem aqui três ideias-chave: a de os jovens se divertirem, socializarem e conhecerem pessoas”, analisa a psicóloga clínica Catarina Lucas. A especialista evidencia, contudo, uma outra “nuance”que se liga às redes sociais e que se pauta pela “busca de reconhecimento, de notoriedade, de popularidade, da cultura mais pop, aproximando os seguidores aos seus ídolos, estando próximos deles”.
Para Catarina Lucas pode-se estar diante de uma brincadeira que, “até determinado ponto, é saudável”, refere. Porém, levada ao limite, “pode trazer questões de autoestima e insegurança, habilitação a comentários de outras pessoas e críticas, o que se traduz muitas vezes até em questões de saúde mental”, acautela.
Brincadeira, sim, mas com cuidados!
A especialista alerta para o perigo da busca eventualmente exagerada de uma “máscara”, uma vez que muitas vezes os candidatos poderão ter de alterar maneira de vestir, penteado e até maquilhagem. Nesse sentido e uma vez mais levado ao extremo, pode levar a processos de “abdicação da personalidade”, “de perda de si mesmo no meio disto”, apesar do “aumento do número de seguidores” e influência nas redes, analisa Catarina Lucas à Delas.pt. Embora esta seja a vida dos atores, como sublinha a especialista, estes têm um percurso, têm estratégias, aprenderam a lidar com a assunção de outras personalidades, mas estes jovens arriscam ver a vida mudar de um dia para o outro sem preparação prévia, o que pode constituir um perigo.
Sem delapidar a diversão e a expressão de criatividade associadas a estas iniciativas, Catarina Lucas sublinha que é “pode ser importante fazer o acompanhamento destas pessoas e perceber quais são as suas motivações no sentido de compreender se se está diante de um espectador saudável ou de alguém que se está a anular e a diluir-se no meio deste incarnar de personagem, e que, na realidade, não é a própria pessoa”. A psicóloga clínica aconselha os jovens a “terem cuidado para a pressão, acautelando um pouco o eventual aproveitamento disso, até no sentido comercial” e redobrarem atenções para não arriscarem a serem “vitimas de bullying, assédio ou comentários depreciativos nas redes sociais”. Vinca ainda a importância de saber “lidar com as frustrações” e “estabelecer limites saudáveis”.
No caso de estes concursos se estenderam a menores – o que não tem sido o caso para já -, Catarina Lucas pede para que “os pais estejam presentes”. “É que rapidamente chegamos a uma faixa etária mais jovem e, se assim for, que os progenitores possam ter um papel de orientação, de ajuda a estabelecer limites, autoconfiança alicerçada noutros aspetos que não apenas a imagem e até a acautelar direitos de imagem, aspetos legais, éticos, exploração e assédio por via das redes sociais”.