‘Flurona’: Israel, Espanha, Brasil e Hungria detetam casos. Eis os eventuais riscos em Portugal

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[Fotografia: Element5 Digital/Unpslash]

Estados do Brasil como Rio de Janeiro e São Paulo, enfrentam, além da pandemia de covid-19, graves surtos de gripe, o que indica que os dois vírus estão circulando simultânea e amplamente.

Os casos de “flurona” chamaram novamente a atenção no último sábado depois Israel anunciar o registo do primeiro caso numa mulher grávida que não havia sido vacinada contra nenhum dos dois vírus. Desde então, também foram registados casos na Espanha e na Hungria.

Segundo o jornal digital húngaro Népszava, foram identificados dois casos de duplo contágio em menores de 30 anos. Em Espanha, os primeiros casos foram reportados na Catalunha. “Temos um ou outro caso, mas não representam uma diferença em relação aos outros. São poucos, são circunstanciais e não têm mais relevância”, explicou a diretora do Serviço Catalão de Saúde, Gemma Craywinckel, citada pela imprensa.

Para as autoridades sanitárias brasileiras, os casos de dupla infeção são esporádicos, mas até agora não evoluíram para situações graves. “É importante destacar que não existem estudos científicos publicados que confirmem as implicações clínicas ou imunológicas de uma infeção articular, acompanharemos qualquer caso que for notificado”, afirmou a Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro em nota.

Até ao momento, foram confirmados seis casos da infeção simultânea no Brasil, o primeiro na América Latina, três deles no estado do Ceará (dois bebés e um homem), outros dois no Rio de Janeiro (dois adolescentes) e um em São Paulo.

Apesar do interesse gerado por essa situação, que deu origem à designação “flurona”, as autoridades regionais brasileiras reconhecem que não é algo novo e que em outros países, como os Estados Unidos da América, houve casos de pacientes com dupla infeção ainda em 2020.

OMS crê que não há risco de variante agressiva

Os vírus da gripe e da covid-19 não partilham informação, pelo que a proliferação de casos de ‘flurona‘ não aumenta o risco de o coronavírus evoluir para variantes mais perigosas, defendeu um perito da Organização Mundial de Saúde.

Recorde-se que o primeiro caso foi detetado em Israel, uma grávida não vacinada, mas com sintomas medianos. No domingo, 2 de janeiro, o Ministério da Saúde de Israel confirmou à agência de notícias EFE que foi detetado no país o primeiro caso de contágio simultâneo pelo coronavírus SARS-CoV-2 e pelo vírus influenza, coinfeção que recebeu a designação “flurona”, numa mulher grávida não vacinada.

“Flurona” é uma designação definida a partir dos termos ‘flu’ (gripe, em inglês) e ‘rona’ (de coronavírus).

A mulher recebeu alta em 30 de dezembro após ser tratada a sintomas ligeiros derivados dessa infeção dupla (gripe e covid-19), acrescentou o jornal Times of Israel.

“Trata-se de vírus de espécies completamente diferentes que usam recetores distintos para infetar e não há muita interação entre eles”, destacou em conferência de imprensa o epidemiologista da OMS Abdi Mahamud, ao abordar a situação de pessoas que contraem covid-19 e gripe ao mesmo tempo, coinfeção a que foi dada a designação de ‘flurona’.

As mutações do coronavírus SARS-CoV-2 geralmente são geradas em pessoas não vacinadas, em que o agente patogénico tem mais possibilidades de se replicar, acrescentou o especialista. O principal objetivo deve continuar a ser “vacinar todo o mundo para que se reduzam as possibilidades de mutação”, sublinhou Mahamud.

O perito considerou normal que estejam a aparecer mais casos de ‘flurona’ do que na estação anterior, devido a um maior relaxamento em muitas sociedades, coincidindo com a época gripal no hemisfério norte.

Os especialistas do Ministério da Saúde israelita acreditam que haja casos semelhantes, ainda não identificados, quando quase duas mil pessoas estão internadas por gripe e ao mesmo tempo os casos positivos da variante Ómicron do SARS-CoV-2 estão a aumentar no país.

Portugal admite hipótese

O Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) não registou casos de infeção simultânea pelos vírus que provocam a gripe e a covid-19, mas admitiu que estas situações ocorram, face ao previsível aumento da atividade gripal.

“Com o aumento da circulação do vírus da gripe e a continuação da circulação do SARS-CoV-2, as coinfeções podem vir a ser detetadas”, disse à Lusa Raquel Guiomar, responsável pelo laboratório nacional de referência para o vírus da gripe e outros vírus respiratórios do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA.

“Em Portugal ainda não detetámos casos de infeção pelo vírus da gripe e por SARS-CoV-2. A pesquisa de SARS-CoV-2 e gripe está a ser feita em paralelo em todas as amostras do programa nacional vigilância da gripe e de outros vírus respiratórios e não foram detetadas coinfecções covid/influenza”, adiantou Raquel Guiomar.

Brasil investiga casos de eventual duplo contágio

Autoridades sanitárias dos estados de Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro informaram esta terça-feira, 4 de janeiro, que investigam novos casos suspeitos de “flurona”, combinação da gripe e da covid-19, após a confirmação dos seis primeiros casos no Brasil.

O secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, confirmou que há 17 casos suspeitos sob investigação nesta cidade brasileira, mas que até ao momento nenhum dos pacientes está em situação grave.

O secretário estadual de Saúde de Santa Catarina informou que aguarda resultados laboratoriais para confirmar se 10 pacientes contraíram os dois vírus simultaneamente naquela região do Brasil, enquanto o de Minas Gerais admitiu a investigação de um caso registado na cidade de Juiz de Fora.

As autoridades de São Paulo, o estado mais populoso do Brasil e o mais afetado pela pandemia admitiram ter outros registos de coinfeções, mas não mantêm estatísticas sobre eles.

Os especialistas admitem que os casos podem ser numerosos, mas difíceis de serem contados porque é necessária a confirmação laboratorial das duas infeções e muitas vezes os pacientes não são submetidos a testes laboratoriais ou são testados apenas para um dos vírus, geralmente o da covid-19.

Carla Bernardino com Lusa