Fome emocional: quando a comida substitui os afetos

“Existem dois tipos de fome – a fisiológica e a psicológica, também designada por fome emocional”, esclarece Ana Rita Lopes, coordenadora da Unidade de Dietética e Nutrição do Hospital Lusíadas Lisboa.

A fome fisiológica surge quando o organismo tem de suprir as necessidades energéticas e nutricionais essenciais ao seu bom funcionamento. É sentida de forma gradual e vai aumentando de intensidade. “Nessa altura sentimos por exemplo como por se o estômago estivesse “vazio” e, eventualmente, ouvimos ruídos estranhos”, exemplifica.


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Com o passar do do tempo, pode-se mesmo sentir alguma fraqueza física ou dor de cabeça. A fome física incentiva o ser humano a alimentar-se assim que possível, mas não o obriga a comer de imediato.

Já a fome psicológica é independente das necessidades energéticas e nutricionais de cada um, expressando-se pela vontade de comer em função do estado emocional.

“Surge subitamente, isto é: num momento não se está a pensar em comer e no minuto seguinte sente-se um apetite voraz”, avança a especialista. Neste caso, aquilo que se deseja baseia-se no que o cérebro pede, consistindo na verdade um desejo emocional e não uma necessidade fisiológica.

Se a vida girar à volta do prato…

Mariana Coutinho, hoje com 40 anos, até aos 30 era conhecida como a “limpa travessas”. Ganhou a alcunha na universidade quando nunca deixava qualquer resto voltar para a cozinha nas festas estudantis. “Além de que andava sempre esfomeada e comia tudo o que me aparecia à frente: se em casa só houvesse grão e esparguete, era esse o meu almoço”, recorda a designer. Não recusava nada.

Como praticava dança e o metabolismo ainda dava conta do recado, tinha no máximo cinco quilogramas extra. Até que começou a engordar e a sentir mais apetite fora de horas. “Até durante a noite assaltava o frigorífico”. Quanto mais pesada ficava, mais deprimida se sentia. Sofria evidentemente de fome emocional.

“Visto que o apetite surge devido a uma necessidade fisiológica, ninguém morre se estiver há mais de quatro horas sem comer, além de que não provoca desejos por um alimento específico; já a fome emocional encontra-se normalmente associada a emoções negativas como tristeza, raiva, frustração ou ansiedade, que são direcionadas para um alimento específico, normalmente rico em açúcares ou gordura”, refere Ana Rita Lopes.

Mariana confirma-o: “Era uma jovem muito insegura e infeliz, com uma péssima relação com os meus pais; comer confortava-me. Além de que tudo piorou quando fiquei desempregada. A minha autoestima caiu por terra. Não era esquisita com o que punha à boca, mas claro que preferia chocolates e batatas fritas a legumes”.

Alimentar a mente para nutrir o corpo

A vida de Mariana só mudou quando encontrou um emprego que a realizava e amigos associados à nova carreira. Abandonou o sofá, as longas noites de sono – chegava a dormir 12 horas – e, com menos tempo para se dedicar a misturar enlatados com sobras dos dias anteriores, emagreceu a olhos vistos em seis meses. Ela, que já não tinha confiança para manter uma relação amorosa há alguns anos, encontrou o atual marido num estalar de dedos, e, parece que “o regulador interno” de apetite ficou reparado como por magia.

Como afirma a nutricionista: “A fome emocional deverá ser colmatada através de outras ferramentas que não a alimentação”. Pode até justificar consultas junto de um psicólogo ou psiquiatra para ajudar a ultrapassar a situação.

Para a designer não foi necessário. Quase de um dia para o outro passou a sentir apenas fome fisiológica. “Aquela que transmite a sensação de que se está a alimentar por necessidade, sem sentir vergonha”, diz Ana Rita.

Até hoje Mariana nunca mais se sentiu culpada por comer – por vezes fazia-o às escondidas e com pânico de ser apanhada com a boca, não na botija, mas numa grande sanduíche de atum logo após o jantar. “As minhas emoções agora estão equilibradas”, explica. “Sei que nunca terei uma relação saudável com os meus pais, mas já o aceitei e criei outros laços afetivos que me preenchem. E com o coração cheio o meu estômago já não necessita de extras”.

Na hora H

Seja como for, em dias menos bons todos sofremos tentações pelo que em situações sociais ou quando estiver prestes a assaltar o frigorífico, veja a galeria de imagens acima e saiba como resistir à vontade de devorar tudo o que lhe aparece à frente, bem como alguns truques extra.