Francesa Annie Ernaux vence prémio Nobel da Literatura

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[Fotografia: Julie SEBADELHA / AFP]

Era, na lista de casas de apostas, uma das favoritas à vitória do prémio. A escritora francesa Annie Ernaux vence Nobel da Literatura para o qual eram também apontados outros nomes como Michel Houellebecq, Anne Carson, Adonis, Ngugi Wa Thiong’o e Salman Rushdie. A revelação foi feita esta manhã de quinta-feira, 6 de outubro, pela academia sueca.

Com mais de duas dezenas de livros publicados, Ernaux estreou-se em 1974 e trazendo, desde logo, o olhar da mulher sobre a sociedade em que vivia. ““Em 1974, publiquei Os Armários Vazios, o meu primeiro romance, e desde então tenho avançado em ambas as dimensões, social e feminista, a luta pela justiça social e a luta contra a injustiça contra as mulheres. Estas são as duas linhas da minha escrita”, afirmou a autora em entrevista à revista Marie Claire.

A gravidez indesejada mas também o aborto clandestino foram temas abordados por Annie Ernaux, olhando para ela e para todas as mulheres da sua época. O Acontecimento é a mais recente obra da autora publicada em Portugal e narra a angústia de uma jovem estudante obrigada a um aborto clandestino, em França, em 1964, 11 anos antes da despenalização no país.

Para a academia sueca, a escolha de Ernaux justifica-se pela “coragem e perspicácia imparcial com que desvenda as raízes, as indiferenças e as limitações coletivas das memórias pessoais”. “Na sua escrita, de forma consistente e a partir de diferentes perspetivas, Ernaux examina a vida, marcada por fortes disparidades sobre género, linguagem e classe. O seu caminho para a criação autoral foi longo e árduo”, lê-se na justificação da academia.

Autora de Armário Vazio, Os Anos e Uma Paixão Simples, Annie Ernaux, nome sempre falado para os principais prémios literários. Em Portugal, é atualmente publicada pelo grupo Porto Editora.

Nascida em Lillebonne, na Normandia, em 1940, Annie Ernaux formou-se em Letras Modernas nas universidades de Rouen e de Bordéus.

A editora portuguesa da escritora define-a como “uma das vozes mais importantes da literatura francesa”, na atualidade, “destacando-se por uma escrita na qual se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes”.

Foi distinguida com o Prémio de Língua Francesa (2008), o Prémio Marguerite Yourcenar (2017), o Prémio Formentor de las Letras (2019) e o Prémio Prince Pierre do Mónaco (2021) pelo conjunto da obra.

Um Lugar ao Sol (1984), vencedor do Prémio Renaudot, e Os Anos (2008), vencedor do Prémio Marguerite Duras e finalista do Prémio Man Booker Internacional, estão entre os seus mais conhecidos títulos.

Em Portugal foram publicados O lugar, pela editora Fragmentos, em 1987, Os Anos, numa nova edição dos Livros do Brasil, em 2020, assim como Uma paixão simples, que surgiram em Portugal ainda na década de 1990. O Acontecimento prosseguiu este ano a publicação da obra de Annie Ernaux, nesta chancela da Porto Editora.

Para lá do romance, a escritora tem apoiado o candidato presidencial francês da esquerda Jean-Luc Melenchon em vários sufrágios e subscreveu movimentos como o dos coletes amarelos.

com Lusa