França conquistava o título da melhor do mundo no futebol, a sociedade celebrava o 15 de julho como nunca e as mulheres começavam a escrever no Twitter que estavam a ser alvo de agressões sexuais. Ou seja, festa para uns em fan zones, bares e ruas, tragédia para outras. Tudo ao mesmo tempo, tudo nos mesmos espaços, diante dos olhos de todos. Nos dias que se seguiram à sagração da vitória, eram dezenas os relatos de assédio que caíam no Twitter e multiplicavam-se naquela rede social.
Havia até quem já estava a coligir os relatos de todas as que sofreram em dia de celebração da vitória dos azuis. KateyaV foi quem começou a compilar as queixas ao abrigo do #MeTooFoot (numa clara referência ao movimento que ganhou dimensão após as primeiras denúncias contra o gigante de Hollywood Harvey Weinstein). Contudo, apesar da tentativa por parte do Delas.pt em chegar à fala com a responsável deste projeto, há mais de uma semana, não foi possível, até à publicação deste artigo, obter uma resposta.
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Se a maior fatia de denúncias chegava de Paris, certo é que começaram a surgir relatos de outras cidades francesas como Lyon e Nantes. Segundo a revista francesa Madame Figaro, foram, até ao momento, detidas duas pessoas por agressão sexual à margem da celebração da vitória da seleção francesa, em Paris. Um homem de 50 anos, julgado de imediato e libertado por via da margem de dúvida sobre o caso. Já o segundo, menor, terá sido apresentado no tribunal respetivo.
Quem são e o que se passou?
Anaïs, de 25 anos, revelou que o assédio teve lugar na fan zone em Nantes. A jovem conta mesmo, citada pela revista francesa, que uma rapariga tentou auxiliar, pediu ajuda à polícia presente, mas que esta terá respondido que só ali estava apenas para casos de atos de terrorismo. Lauren, um ano mais nova, descreveu ao jornal francês Le Monde como ela e uma amiga tinham sido alvo de apalpões ostensivos por todo o corpo, em plenos Campos Elísios, Paris.
Rose, estudante de 20 anos, disse ao site informativo 20 Minutes que, na sequência de um ataque com gás lacrimogéneo em Paris, e no dia das celebrações, foi levada por um amigo para um abrigo e um outro homem tocou-lhe através dos calções. Marion, de 24 anos, revelou à agência noticiosa francesa AFP que nem a presença do namorado, a defendê-la, foi suficiente para a proteger e dissuadir um grupo de homens em festa, em completo descontrolo. Testemunhos semelhantes – sob nomes falsos – que têm vindo a chegar a público nos últimos dias e aos vários órgão de comunicação franceses.
A secretária de Estado para a Igualdade, Marlène Schiappa, não tardou a reagir. “Somos campeões, mas isso não é um motivo para assediar violentamente as mulheres que não pediram nada”, declarou a governante citada pelo Le Monde. E lembrou logo no dia seguinte à vitória, a 16 de julho, na sua conta de Twitter, que “beijar uma mulher durante as festividades do #CM2018 é uma agressão sexual punível por lei”.
No dia seguinte, a mesma responsável apelava a todas as mulheres que tivessem sido vítimas de violência sexista e sexual, garantindo que “estavam protegidas pela lei”, e pedia detenções. Schiappa elencava as possibilidades disponíveis: Ligar para a linha de mulheres ou escrever para sites especializados neste tipo de denúncias. Recorde-se que, em França, o código penal pune as agressões sexuais com penas até cinco anos de prisão e sanções até aos 75 mil euros.
Esta segunda-feira, 23 de julho, a secretária de Estado voltava a escrever no Twitter para anunciar que a Comissão Mista Paritária chegou a consenso sobre o projeto de lei contra as violências sexistas e sexuais e que prevê a punição de assédio na rua, condenação reforçada para crimes sobre menores e até aos 15 anos e o delito para todos os que cometam upskirting (fotografar e filmar por baixo das saias das mulheres).
Imagem de destaque: Reuters