O derradeiro adeus a Linda de Suza aconteceu esta sexta-feira, 6 de janeiro, em Gisors, uma cidade na Normandia, onde a cantora franco-portuguesa viveu parte da sua vida, com centenas de portugueses e franceses a lembrarem um “modelo” da imigração portuguesa em França.
“Deu-nos muita alegria com as músicas dela, foi uma grande senhora e estava sempre na televisão, na rádio, comprei os discos e as cassetes. Cheguei a França aos 14 anos e quando ela começou a carreira dela, eu tinha para aí 25 anos, já tinha vivido as mesmas coisas que ela aqui. Cantava as músicas dela à minha filha”, disse emocionada Graça, uma portuguesa instalada na região parisiense, em declarações à Agência Lusa.
Centenas de pessoas acorreram à igreja de Saint-Gervais Sainte-Protais, em Gisors, para as cerimónias fúnebres de Linda de Suza, cantora portuguesa de grande sucesso em França no início dos anos 1980, que faleceu no dia 28 de dezembro de 2022. A cidade estava preparada para acolher cerca de mil pessoas, cortando estradas e agilizando trajetos para que o funeral decorresse da melhor forma.
Para quem aqui veio, Linda de Suza fez parte não só da banda sonora das suas vidas, mas também foi um exemplo de sucesso num país estrangeiro para quem chegava vindo de Portugal. Tiago é de outra geração, tendo já nascido em França, mas considera que a cantora continua a ser um símbolo.
“É um símbolo da imigração portuguesa aqui em França e é importante estar aqui hoje. A Linda de Suza era um modelo, ela mostrou que era possível fazer grandes coisas aqui em França, apesar de ser imigrante, e foi um exemplo para muita gente da geração dos meus pais”, declarou, tendo acompanhado o pai ao funeral deste ídolo franco-português.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Paulo Cafôfo, marcou presença nas cerimónias fúnebres e destacou o papel de Linda de Suza na relação entre os dois países e, especialmente, a representação dos portugueses em França.
“Ela contribuiu para que os portugueses e as portuguesas fossem reconhecidos aqui com as suas qualidades em França e isso é um feito maior desta portuguesa que transformou a mala de cartão em ouro e platina com os seus discos e representou Portugal em França”, afirmou.
Um sucesso que pode ser medido em 40 milhões de discos vendidos em todo o Mundo e três milhões de livros em França, um feito para uma artista chegada “a salto” no final dos anos 60 e que imortalizou o conceito da mala de cartão com as suas canções que falavam sobre a realidade da imigração.
“Lembro-me da tua felicidade ao cantar no palco para milhares de pessoas, mas também a tua extrema solidão. Que carreira tiveste, que te levou a cantar nas maiores capitais do Mundo, a vender 40 milhões de discos e a vender três milhões de livros. Ver o teu sucesso deu confiança a milhares de imigrantes em França, que como tu deixaram o seu país com o coração cheio de esperança”, declarou o seu agente Fabien Lecoeuvre no seu elogio fúnebre.
Com uma vida pessoal complexa, Linda de Suza tinha-se reconciliado recentemente com o seu filho, João Lança, um facto que segundo os seus amigos e familiares lhe deu “muita alegria” nos seus últimos meses de vida. João Lança, filho de Linda de Suza, agradeceu a todos que vieram até Gisors e despediu-se ternamente da mãe.
As homenagens a Linda de Suza vão continuar a suceder-se em França, com o autarca de Champigny-sur-Marne, Laurent Jeanne, onde Linda de Suza chegou em 1969 tal como outros portugueses, a dizer que vai propor dar o seu nome a uma rua ou a um equipamento público na cidade.
“Ela deixou-nos duas heranças, a sua música, é claro, mas também a aproximação entre as duas nossas culturas. E, por isso, temos de dizer obrigado. No domingo vamos homenageá-la, o seu percurso e tudo que ela nos deu e daqui a pouco tempo vamos propor ao Conselho Municipal de ter uma rua ou um edifício em Champigny com o seu nome”, indicou o autarca.
No domingo, a associação portuguesa “Les Amis du Plateau” organizam uma homenagem pública a Linda de Suza em Champigny-sur-Marne que vai contar com a participação das autoridades locais e de Paulo Cafôfo.
Catarina Falcão, da Agência Lusa