Giorgio Marchetti: “Queremos ver mais mulheres treinadoras, árbitras e a liderar no futebol”

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Secretário-geral adjunto da UEFA Giorgio Marchetti [Fotografia: Álvaro Isidoro/Global Imagens]

“Queremos mesmo promover o desenvolvimento do jogo feminino mais do que temos feito até agora e na sequência do que começámos a fazer há uns anos“, promete Giorgio Marchetti. O secretário-geral adjunto da UEFA diz haver “uma estratégia” que passa por “investir no desenvolvimento” do futebol feminino.

Dados mais concretos, medidas mais direcionadas para as reivindicações de atletas ou mesmo montantes pensados não foram revelados, mas o responsável reiterou ao Delas.pt o interesse do organismo em ver crescer a modalidade. Uma conversa que correu à margem da entrevista na qual abordou a Liga das Nações e o Euro2020 masculino e que deu na cimeira em torno da indústria do futebol, Soccerex, que teve lugar na semana passada.

Marchetti explica que a UEFA quer “estratégia com maior investimento na UEFA porque se quer mesmo incrementar a participação nos jogos, queremos ver mais mulheres treinadoras, mais árbitras, mais mulheres a serem lideres e a terem responsabilidades no futebol”.

Um futuro que, na opinião deste diretor-geral adjunto, passa por criar “medidas específicas” como “a promoção do jogo e das competições”, como dar a “garantia de que o jogo feminino venha a ocupar um lugar central como o masculino ocupa já”. “Temos a Champions League e o Euro, ambas têm vindo a crescer massivamente nos últimos anos. Temos de ter mais futebol feminino porque há grande potencial nestes eventos”, refere Marchetti, elencando o “êxito que o Euro [2017] teve na Holanda, com 40 mil espetadores nos estádios e 265 milhões na televisão”. “Obviamente que sabemos que há muito mais para alcançar”.

O diretor-geral adjunto da UEFA fala no futebol feminino como “prioridade”, fruto de um “completo comprometimento” até porque “há uma consciencialização total do potencial e do crescimento do jogo”. E coloca as esperanças e os olhos no Europeu de 2021, que vai ter lugar no Reino Unido. “Temos a expectativa de puxar os limites ainda mais para cima, queremos 700 mil pessoas a ver os jogos” (o Mundial de França superou o milhão de bilhetes vendidos, mas não terá sido o recordista).

“Estamos entusiasmados com a público no estádio e estamos entusiasmados com as eventuais audiências que já vimos chegar com outros eventos femininos“, conclui Marchetti.

Liga das Nações e Europeu2020 em debate

O secretário-geral adjunto da UEFA, Giorgio Marchetti, disse esta quinta-feira, 5 de setembro, que a primeira edição da Liga das Nações, conquistada em junho por Portugal, superou as expectativas do organismo que tutela o futebol europeu.

“Penso que correu muito bem. O resultado não só correspondeu, como superou as expectativas e penso que isso foi reconhecido de forma quase unânime por equipas e adeptos. Como a competição está dividida por quatro divisões, os jogos são bem mais disputados. Com este sistema, as seleções disputam mais jogos com rivais da mesma dimensão”, disse, citado pela agência Lusa.

Orador principal de uma conferência sobre as competições da UEFA na Soccerex, o dirigente italiano fez também uma antevisão do Euro2020 de futebol, que será disputado de forma inédita em 12 cidades de 12 países diferentes. Marchetti reconheceu que o formato apresenta maiores dificuldades de logística, mas garantiu que tudo foi feito para “não tornar impossível” aos adeptos a ambição de acompanhar a respetiva equipa.

“Em 2020 cumprem-se 60 anos do início dos Europeus, daí a ideia de um Europeu realmente disputado por toda a Europa. Desta forma damos uma oportunidade a locais que talvez não tivessem oportunidade de sediar toda a competição, recebendo uma parte da prova. Estamos conscientes que neste formato é preciso ter em conta a logística e tentámos evitar viagens demasiado longas”, frisou, revelando ainda que foram previstos três milhões de bilhetes.

No que toca ao futebol de clubes, o secretário-geral adjunto da UEFA considerou haver uma “tendência de polarização” no futebol europeu, na qual as ligas dos cinco maiores países [Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França] estão a aumentar a sua quota de receitas enquanto os outros se afastam, e sublinhou que a terceira competição da UEFA, prevista para 2021, se destina a dar mais oportunidades a outros clubes.

“A introdução desta terceira competição veio dos apelos sistemáticos de vários clubes de poderem ter mais opções de participar nas provas europeias. Focámo-nos em dar mais oportunidades aos clubes. A Liga Europa vai ter 32 equipas e a nova prova vai ter também 32 clubes. As provas vão estar interligadas e assim teremos 96 clubes envolvidos nas provas europeias em vez de 80”, explicou, antecipando mais novidades para os próximos meses.

A Soccerex, evento que junta ex-jogadores, dirigentes e outros agentes para debater a indústria do futebol, estreia-se em Portugal e, entre hoje e sexta-feira, vão passar por Oeiras nomes conhecidos da modalidade, como o presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, o presidente da Liga espanhola, Javier Tebas, o antigo selecionador de França Gerard Houlier e os ex-futebolistas Christian Karembeu e Deco, entre outros, espalhados por diferentes conferências e temas que vão desde a forma de liderança no futebol europeu a novas áreas, como os e-sports.

A Soccerex organiza estes fóruns desde 1995, tendo já passado por 19 cidades e 13 países diferentes. Este ano, a organização fez uma aposta em “mercados emergentes no futebol” e já passou também pela China, em maio, marcando ainda presença nos Estados Unidos da América, em novembro. A realização da Soccerex na Europa cabe pela primeira vez a Portugal, com Oeiras a acolher mais de 60 oradores no ciclo de dois dias de conferências.

Fotografia: Álvaro Isidoro/Global Imagens

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