‘Girls’ regressa a 12 de fevereiro

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h, a imatura, egoísta, confusa, egocêntrica, neurótica, inconsequente, talentosa e hilariante protagonista de Girls, está num café a explicar a uma editora porque é que é a pessoa certa para escrever para a sua publicação. “Sinto que sou a escolha perfeita para a sua revista”, diz. “Não me preocupo com nada, mas tenho opiniões sobre tudo.” A cena está no trailer da sexta temporada de Girls, que estreia em todo o mundo a 12 de fevereiro (domingo para segunda-feira, às 3h00, no TVSéries) e que coloca um ponto final na série sobre quatro jovens amigas em Nova Iorque. Mais tarde, ainda no trailer, Hannah surpreende e oferece uma explicação madura dos seus objetivos enquanto escritora: “Quero escrever histórias que façam as pessoas sentir-se menos sozinhas do que eu me senti. Quero fazer as pessoas rir sobre as coisas na vida que são dolorosas.” Será agora, na derradeira temporada, que vamos ver Hannah e as amigas – depois de anos a tentar navegar os primeiros anos da vida adultas, afundando quase sempre –, por fim, amadurecer?

“Este programa nunca foi sobre conclusões claras e definitivas”, responde Lena Dunham, criadora e protagonista da série. “Por isso não faria sentido que a nossa última temporada fosse esta coisa perfeitamente formada. Mas queríamos, ao mesmo tempo, respeitar as personagens e dar alguma satisfação para a audiência, que dedicou seis anos da sua vida a ver o programa. Acho que fomos capazes de contar uma história real e honesta sem trair os valores que criamos.”

Nos novos episódios, encontramos as personagens seis meses depois do final da quinta temporada. Além de Hannah, que está a descobrir algum sucesso como escritora, Marnie (Allison Williams) está a lidar com o seu divóricio; Jessa (Jemima Kirke) continua com o ex-namorado de Hannah, Adam (Adam Driver), com quem colabora num projeto artístico, e Shoshanna (Zosia Mamet) regressou do Japão e está a trabalhar numa agência de publicidade. Apesar da passagem dos meses, permanecem num espaço de transição, ainda cometem erros, tão imperfeitas como sempre. Allison Williams acredita que as jovens “cresceram a ver ‘Sexo e a Cidade’ e têm uma ideia aspiracional do que é ser uma mulher” que é impossível de concretizar. “E é por isso que se comportam como raparigas, porque se permitem a isso. Mas, para mim, a metanarrativa da série foi sempre o caminho até se aperceberem de que já são, e que sempre foram, mulheres.”


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Jemima Kirke identifica-se com esta evolução das personagens. “Quando temos 20 anos, gostamos de dizer: ‘Sou este tipo de pessoa.’ É muito fácil, acolhedor. Dá-nos uma identidade e faz-nos sentir seguros. Depois, quando envelheces, começas a livrar-te dessas coisas e tornas-te cada vez mais um enigma. Eu neste momento não sei nada”, diz, rindo-se. “Sei que sou um animal e que estou aqui.”

Girls ficou conhecida por não poupar os seus atores, sobretudo as protagonistas, e por oferecer uma visão da vida dos jovens americanos no início do século mais próxima da realidade. Os apartamentos são pequenos e os trabalhos intermitentes e mal pagos. Não há boa iluminação ou ângulos favorecedores nas cenas de sexo. Os momentos mais triviais são mostrados. Como diz Allison Williams, ao longo dos cinquenta episódios “seguimos sempre a pessoa para a casa de banho, sem cortes, focando ainda mais.”

“Já tinham sido feitas séries sobre jovens adultos, mas era uma versão glamourizada, mesmo quando eram sobre temas duros. Tentámos fazer um programa diferente sobre esta fase da vida das pessoas que é muito confusa e difícil e da qual se falava pouco”, explica Zosia Mamet.

“És atirado para o mundo real sem quaisquer ferramentas. Tenho muitos amigos que saíram da universidade, onde tiveram oportunidade de fazer grandes projetos, e depois o choque do mundo real atirou-os para depressões profundas.”

Quando o programa foi lançado, Lena Dunham, que cresceu em Nova Iorque filha de dois artistas, foi muito criticada – à esquerda, acusavam-na de elitismo, por fazer um programa com as amigas, todas brancas e filhas de pais famosos; à direita, criticavam-lhe a abordagem ao aborto e a forma como expunha o corpo. Na altura, em 2012, o feminismo ainda estava longe de encontrar o ressurgimento no discurso mediático dos últimos anos. Lena Dunhan, uma das pioneiras desse ressurgimento, espera que “o programa tenha ajudado a permitir que mulheres confusas e complicadas existam na televisão da mesma forma que homens sempre existiram” e que “o perfecionismo de outros tempos possa agora ser posto um pouco de lado.”

No futuro, a atriz espera que o seu trabalho seja visto na linhagem de comediantes que avançaram o lugar das mulheres na paisagem mediática. “Espero ter pegado no lugar onde alguns génios da comédia ficaram e dito: ‘Ok, podemos ser mais confusas, mais zangadas e mais lixadas.” Jemima Kirke, a brincar, mas nem por isso, diz que se o legado foram as cenas de sexo já será uma grande vitória:

“Faz as pessoas sentirem-se menos mal pelo sexo mau que andam a ter”, diz. “Acho que tirou um bocadinho a vergonha da vida das pessoas.”

As atrizes lamentam que o programa acabe numa altura em que Donald J. Trump chega à presidência dos Estados Unidos. As quatro, sobretudo Lena Dunham, envolveram-se nas campanhas eleitorais do ano passado em favor de Hillary Clinton. “Acho que a Lena teria reconsiderado esta temporada se não achasse que a Hillary estaria, neste momento, a liderar o país”, explica Jemima Kirke. A atriz acredita, no entanto, que o trabalho de Girls está terminado e que, de alguma forma, a vitória do republicano até pode dar uma melhor história.

“As pessoas que cresceram a ver Girls são as pessoas que estão nos aeroportos, que estão na internet a ensinar-nos as coisas certas a dizer. Estou muito entusiasmada para ver o Trump acordar todas as manhãs e tentar enfrentar uma geração como esta.”

https://www.youtube.com/watch?v=xtyk5dCaiBk