O testemunho de Gisèle Pélicot ao tribunal francês de Avignon é chocante. A francesa de 71 anos foi, durante uma década, fortemente sedada pelo marido, Domnique Pélicot, que depois convidava estranhos para violarem a mulher e filmava tudo. Foi devido a estas imagens em fotos e vídeos que a polícia descobriu o crime reiterado e identificou mais de 50 agressores, estimando-se em mais de 80 os violadores que abusaram de Gisèle ao longo de dez anos.
A vítima quis que o julgamento fosse à porta aberta para que a “vergonha mude de lado” e para que “as mulheres não continuem a aceitar serem submetidas a processos químicos”.
Esta quinta-feira, 5 de setembro, Gisèle tomou a palavra para descrever em tribunal cenas de horror de que foi vítima. “Na imagem, estou inerte, na minha cama e estou a ser violada. São cenas de barbárie, de terror para mim”, afirmou a mulher, citada pela imprensa francesa, que terá sido vítima de mais de 200 crimes de violação. “Sou tratada como uma boneca de trapos” pelos agressores, descreveu. “Não me fale em cenas de sexo. São cenas de violação. Gostaria de deixar claro que nunca pratiquei sequer swing”, declarou Gisèle em tribunal.
As imagens dos abusos sexuais foram encontradas nos devices do marido em 2020 e a propósito de outro tipo de crimes: o de estar a filmar o interior das saias das mulheres num centro comercial. Quando os investigadores foram analisar computador, discos rígidos e pens de Dominique Pélicot foram confrontados com todas estas imagens de violação da mulher.
Gisèle levou mais de dois anos a aceitar ver alguns desses documentos que serviram de prova e de identificação de meia centena de abusadores sexuais. “A polícia salvou a minha vida”, afirmou. Contudo, tudo parece estar a ruir. “O meu mundo está a desabar, tudo o que construí durante 50 anos está a desabar”, detalhou aos cinco juízes que presidem ao julgamento que está a chocar França e o Mundo.
Hoje, sobre a toma de medicação, Gisèle refere que não tem “mais nenhuma ausência desde 2 de novembro de 2020″. Por isso, sustenta: “Testemunho para que todas as mulheres que acordam de manhã tenham memória (…) que não se sujeitem à submissão química. Digo a mim mesmo que fui sacrificada no altar do vício.”